Ao ver histórias como a de Paan Singh Tomar, fico em um estado de surpresa que me vem ao perceber como o mundo é repleto de pessoas vivendo de tudo. O filme é baseado em uma história real que tinha os elementos para ser simples e se perder em meio a tantas outras, como a minha e talvez a de quem esteja lendo este texto. Entretanto, alguns pequenos e inesperados desvios fizeram com que hoje possamos assistir a um filme sobre aquela vida, com Irrfan Khan como protagonista. A vida é realmente imprevisível.
Paan Singh foi um soldado do Exército indiano que adorava correr. Seu talento logo foi descoberto e ele se tornou atleta do Exército na corrida de obstáculos. Paan Singh ganhou várias medalhas e se tornou campeão nacional muitas vezes. Só que nada disso o ajuda na disputa por terras que mantém com seu primo, Bhanwar Singh (Jahangir Khan). Paan Singh pede ajuda às autoridades por todos os meios possíveis e deixa claro que sua família está sendo ameaçada de morte, mas seus apelos não são ouvidos. É neste momento que desiste de seguir as regras e forma uma gangue de rebeldes juntamente com outros familiares e amigos também ameaçados por Bhanwar Singh. A corrida se transforma e os obstáculos crescem.
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Irrfan ♥ |
Fora Bhanwar Singh, a esposa de Paan é a única pessoa de sua família a receber maior projeção na história. Mahi Gill fez uma esposa "turrona", mandona, daquele tipo "dura por fora e doce por dentro" que costumamos ver. Suas cenas íntimas com o marido não são repletas de palavras doces e românticas, mas fica claro que ambos se gostam. A esposa é como o marido: fala pouco e age bastante. A Mahi é uma atriz muito boa e vai a passos largos em direção à excelência. Mostrou versatilidade com esta personagem rústica.
A metáfora feita entre a corrida com obstáculos e a vida de rebelde de Paan Singh foi boa, mas discordei do personagem quando este "teve" que matar várias pessoas que traíram sua gangue. Perturbado, Paan tentava convencer a si mesmo e a nós de que não era um assassino. Com ou sem motivo, tirar a vida de outra pessoa é assassinato. E matar aldeões desarmados só enfraquece qualquer justificativa apresentada.
Dois membros da gangue se destacaram mais: o tio Matadeen (Imran Hasnee) e Gopi — interpretado por Nawazuddin Siddiqui, em quem presto muita atenção desde Kahaani (2012). Sua participação é rápida, porém brilhante e essencial para a resolução da história. Já o tio é uma figura paterna simples e sólida para a gangue. Tanto Imran quando Nawazuddin deixaram forte impressão, mesmo com o pouco tempo em cena. Bons atores sabem o que fazer, especialmente quando estão em boas histórias.
O filme foi dedicado a todos os atletas não-reconhecidos do esporte indiano. Nos ajuda a pensar no Brasil, que também não valoriza os atletas que engrandecem nosso nome aos olhos do mundo. É bom saber que ao menos a complicada história da vida de Paan Singh Tomar não vai se perder em alguma página esquecida da história do esporte mundial.