Refletir com um mínimo de objetividade sobre os filmes que mais nos movem não é fácil. É por isso que escrever sobre meus filmes favoritos é uma das tarefas que mais procrastino. O efeito a longo prazo é o blog não ter textos sobre alguns dos títulos mais significativos para a minha relação com o cinema indiano. Decidi me esforçar um pouquinho para tirar esse atraso e deste esforço veio a lembrança de um pequeno e fantástico filme dos anos 80. Yeh Vaada Raha não foi sucesso na Índia, mas acabei descobrindo que é um dos filmes indianos mais conhecidos e amados na Nigéria. É um dos mistérios como o da paixão dos portugueses por Aa Gale Lag Jaa, mas não nos foquemos nisto, já que o filme já tem assunto o suficiente para discussão. Há muitas reviravoltas na história, então colocarei um aviso quando comentar sobre esses pontos de virada.
Yeh Vaada Raha é o romance entre Vikram (Rishi Kapoor) e Sunita (Poonam Dhillon). Ele se apaixona perdidamente por ela ao vê-la em um templo e não descansa até reencontrá-la e conquistá-la. Os dois vivem em pleno idílio amoroso até o momento em que Vikram apresenta Sunita à sua mãe (Raakhee), que não aceita ter uma jovem pobre como nora. Os dois decidem enfrentá-la para viver seu amor, quando então suas vidas são transformadas por uma tragédia.
Sendo um filme de grandes reviravoltas, não seria de espantar caso o romance principal fosse apresentado apressadamente para logo dar lugar às surpresas da história. O diretor Kapil Kapoor teve a sensibilidade de não subestimar a importância da construção do amor entre os protagonistas. Apesar de Vikram ter-se apaixonado à primeira vista por Sunita, o namoro de ambos foi bem explorado em cena. Os ambientes escolhidos foram a casa de Sunita, onde cenas noturnas mostram o crescimento da intimidade e cumplicidade do casal, e também as belas montanhas de Kashmir por onde o casal corre, brinca e interpreta as canções românticas que tão bem capturam sua juventude. As cenas de brincadeiras e conversas bobas entre os namorados fazem com que o espectador acredite no casal e torça para que permaneça unido. Esta experiência é fundamental para manter o interesse na segunda parte do filme, momento no qual Vikram e Sunita passam a maior parte do tempo separados.
Rishi e Poonam fizeram um ótimo trabalho com o já conhecido material do romance. Estavam à vontade um com o outro e conseguiram manter a jovialidade do casal mesmo durante as juras de amor eterno que caracterizam os romances indianos. A deliciosa trilha de R.D. Burman foi ideal para o clima proposto, com destaque para a meiga Yeh Vaada Raha. Esta me fez gastar alguns minutos tentando imitar o bater de mãos do casal, mas não discutamos isto (já que não deu muito certo).
A partir de agora, vou contar pontos importantes da história. Alerta de spoiler!
As coisas ficam bem doidas - para dizer o mínimo - e Sunita tem o rosto destruído após um acidente de carro. A mãe de Vikram o faz pensar que a noiva morreu e o rapaz fica desolado. Sunita, por sua vez, ganha um novo rosto pelas mãos de Dr. Mehra (Shammi Kapoor). O simpático cirurgião a adota como filha e a incentiva a procurar Vikram após sua recuperação. Pai e filha se deparam com a notícia do noivado de Vikram com outra mulher e Sunita sente raiva ao pensar que ele a esqueceu. Ela mal imagina que sua mãe forçou o noivado e que o rapaz vive apenas pela lembrança da noiva perdida.
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Don't cry for me, Rishi Kapoor ♪ |
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1 sentimento: medo. |
A história surpreendente e meiga unida a atuações honestas e uma música-título divertida é o que faz de Yeh Vaada Raha um dos meus romances favoritos. Há elementos dispensáveis (como a perseguição de Vikram a Sunita, bem no comecinho), mas o produto final ganhou mais pontos. Uma história tão louca poderia ter se perdido facilmente com a mudança de tom da obra e o êxito em utilizar o absurdo para cativar o espectador indica o valor desse pequeno filme, que me é tão querido. Se tudo isso não for suficiente para convencer, apenas se pergunte quantos filmes dos anos 80 podem ser defendidos com tanto carinho.