Aiyyaa (2012)

Sim, o filme é dela!

Após a notícia do estupro coletivo na Índia, eu não queria nem chegar perto de Bollywood. Não acho que a indústria seja causadora de todos os males da humanidade, porém  me irritava cada vez mais toda aquela perseguição às mulheres que vejo nos filmes. E eu não estava solitária naquele sentimento de crescente afastamento. Pedro, meu bolly-dost que nunca desanima da indústria, também não andava conseguindo assistir a nada. Decidimos ver o filme juntos para tentarmos retornar ao lar.

Foi aí que Aiyyaa nos salvou. Ok, exagero. Foi quando resgatou o carinho que sempre sentimos por Bollywood. Essa comédia louca, divertida e com uma Rani mais animada do que bloco de Carnaval me fez rir, dançar, flutuar a cada segundo de Mahek Bhi e até arrancou uma lagriminha solitária no final. Isso só prova a falta que essa mulher estava fazendo na minha vida na indústria.

Welcome to LaLaLand, Prithviraj!

Ela se vestiu de tudo que é possível.

Mere sapno ki Rani Mukerji interpreta Meenakshi, bibliotecária de uma faculdade de Artes. Enquanto sua mãe tenta casá-la a todo custo, Meenaskhi vive no seu mundo particular, no qual constantemente sonha que é a Madhuri, a Sridevi ou a Juhi Chawla (sim, ela curte muito os anos 90). Influenciada por este mundo tão bollywoodiano, ela sonha em encontrar seu grande amor, coisa que não acha possível obter nos casamentos que sua mãe tenta arranjar. É em seu trabalho que se apaixona à primeira vista por Surya (Prithviraj), artista com uma vida misteriosa e um cheiro hipnotizante. Enquanto dispensa os pretendentes que sua mãe lhe arruma, Meenaskhi segue os passos de Surya por todo canto para tentar conhecê-lo melhor e concretizar seu amor.



Além de já ser ótimo o filme ser guiado pelo ponto de vista da heroína, Meenakshi é fantástica. Ela sabe exatamente o que quer e vai atrás disso, mesmo que seja de modo torto e nada direto, como aprendeu pelos filmes. Ela não puxa conversa, mas segue o herói. Ela não fala com ele, mas inventa uma história escabrosa para tirar informações de sua mãe. Não confessa seus sentimentos abertamente, mas tenta aprender a falar tâmil para que ele a note.  Para uma pessoa razoável, o caminho é como Surya ensinou: se quer saber algo, pergunte. Só que ela não é dessas. Exatamente como os heróis de seus filmes, Meenakshi é perseguidora e não conhece limites. Por que não me incomoda como os heróis stalkeadores? Porque ela foi apresentada como realmente é: louca e sem um pingo de noção. Seus métodos esquisitos de flerte não são considerados exemplos de como se comporta uma pessoa verdadeiramente apaixonada, e sim como fruto da sua esquisita visão de mundo.



E é por ver o mundo de forma tão esquisita que Meenaskhi se envolve nas situações mais improváveis, que trazem o tal humor do filme. Acredito que a discussão maior em torno do filme seja por ele ser ou não engraçado, já que seu humor é simples, pouco (ou nada) apelativo e até bobo. Minha reação? Nunca tinha rido tanto em 2013 quanto na noite em que o assisti. Aliás, é provável que eu nunca tenha rido tanto com uma comédia indiana. Ainda não entendi por que chorei de rir quando o irmão de Meenakshi disse que as drogas são um tipo de cocaína (e é claro que rio ao digitar isto), ou quando Meenakshi achou que o maravilhoso odor de Surya era devido à cocaína. Mas entendi que a maioria das minhas risadas vinha da sensação de que o diretor e o roteiro estavam zombando da minha experiência com romances indianos. A todo momento, Meenakshi olhava para o nada e fazia um discurso dramático sobre seus sofrimentos. Quantas vezes já não vi isso? Só que a vida dela não tinha nada de muito dramático, o que era ressaltado pela súbita interrupção da trilha dramática ao fim de suas falas. Eu estava sempre esperando pelo de sempre: que ela se apaixonasse por seu doce noivo, Madhav, que Surya a notasse em um momento mágico e encantador, que a mãe de Surya a amasse...eram tantas expectativas baseadas no costume. O curso do filme não apenas as contrariava, como também me trollava.

          
Ah, ela tropeçou!
   Que lindos, se olhando amorosamente...*-*

SÓ QUE NÃO

O contraponto à personalidade esfuziante de Meenakshi é Madhav, seu carinhoso e tranquilo pretendente. Ele acaba se apaixonando pela personalidade dócil que a moça tem de mostrar aos pretendentes, o que a desespera. Ele é exatamente o que ela deveria ser e como sua mãe a descreveu em um anúncio de jornal: calmo e tímido. Seria excelente marido para uma mocinha que quisesse se casar acima de tudo, mas Meenakshi queria bem mais que isso. Ela queria beijos no pescoço, danças ensandecidas, passear, pular e se divertir. Para infelicidade de seus pais, Meenakshi tem consciência de seu próprio corpo e sexualidade. Ela sabe o que a atrai e não está disposta a "se adaptar" só para casar.

Nisso que a moça fica pensando quando está noiva, tssssc

Prithviraj fez sua estreia em Bollywood no papel do ~desejado~ Surya. Parecia estreia de atriz do Sul em Bolly: personagem idealizado, poucas falas, mais para fazer vista bonita nos clipes que outra coisa. Eu gostei, até porque não gostei de pouca coisa no filme. Uma dessas coisas foi Mynah, a amiga bibliotecária de Meenakshi. Ela só bebe e pensa no John Abraham. Seria uma alusão àqueles personagens cômicos que não fazem nada além de piadas sexuais? Ou às item girls, que só aparecem nos filmes exatamente para beber e falar de sexo? São hipóteses aleatórias, já que não faço ideia do que significava aquele ser estranho.

Amit Trivedi é um dos meus produtores mais amados e fazia um tempo que não ouvia seu trabalho. Dona Isa não curtiu muito, já eu caí de amores pela trilha, ou melhor, pelos clipes. Todas as canções me pareceram apenas divertidas no áudio e sensacionais no vídeo. A única que me fez sentir flutuando desde o início foi Mahek Bhi. Em cada audição, parece que estou tocando as nuvens com os pés.

Rani Smitha
Piadas simples, roteiro confuso, cores fortes, Rani brilhante, tudo me fez amar Aiyyaa. Apesar de ser um filme cômico que brinca com a ideia de romantismo como comumente é mostrada em Bollywood, ele ainda mantém uma suavidade terna e nos mantém apaixonados por Meenakshi e por seu homem dos sonhos. Talvez Aiyyaa tenha me tirado uma dúvida antiga: talvez o cheiro faça os heróis repentinamente passarem a seguir as heroínas sem parar. Vão dizer que não é uma explicação plausível? Só mesmo uma atriz como a Rani para me fazer rir e acreditar numa coisa dessas. Que ela nunca mais volte a se afastar de nós.

5 comments

  1. Não consigo dizer que gostei. Acho que isso resume bem. Não deveria estar no humor pro tipo de heroína que a Rani foi. E isso porque eu estava ansiando loucamente por vê-la nas telinhas.

    Mas confesso que gostei do desfecho e gostei do Surya. Gostei muito, não tinha lá muita esperança no casal não, hehe.

    E a Mynah foi a personagem mais ridícula que tive o desprazer de encontrar em filmes recentes que tive visto. Não deu pra curtir não, a voz dela em si era irritante! Hahaha.

    A trilha sonora é melhor nem comentar, né? Não tinha fluidez. Os clipes não tinham conexão alguma com a história, foram simplesmente enfiados no filme sem aparente explicação além dos devaneios da Meenakshi, ou seja, não são o tipo de clipe que eu gosto. Mas isso é questão de gosto mesmo, porque eu adoro quando faz pleno sentido com a história, mesmo que a música seja uma bosta.

    Basicamente isso mesmo. Aiyyaa deixou a desejar pra mim, muito provavelmente porque eu não estava no humor pro tipo de filme que é. :)

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    1. Ísis, todo filme depende das nossas expectativas, mas isso me pareceu especialmente forte em Aiyyaa. É um filme muito experimental e com um tipo de humor e personagens que eu jamais esperaria. Como eu só queria ver cores e uma boa protagonista feminina, me apaixonei. Você não queria ver a Rani daquele jeito, o que dificultou sua experiência com todo o filme :/

      O Surya cresceu e apareceu no fim, não? Fiquei impressionada com o que o Prithviraj conseguiu fazer com aquele pouco tempo do final. Fiquei toda boba com eles na moto, heheh.

      Meta de vida: entender a Mynah. Aquilo tinha algum sentido, não é possível. Agora que já escrevi meu texto, posso ler o que os outros blogueiros escreveram sobre o filme e verei que interpretação fizeram daquela ~presença~

      Você não gostou da trilha desde a primeira vez em que ouviu, lembro de vc ter reclamado comigo pelo chat, rs. Eu gosto de todo tipo de clipe, tenha a ver ou não com a história. Só tem que ser lindos!

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  2. Ah, é! Só pra não dizer que não gostei de todas as músicas, essa que você mencionou no post é uma graça. E ria MUITO quando a música parava com a realidade.

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  3. Anônimo8/3/13

    O diferencial de Aiyyaa é ser um filme experimental. Lembro que a impressão que ficou foi de um filme despretensioso sem intenção de lidar com lição de moral.

    Li que não foi bem com os críticos... Pra mim a crítica não curtiu muito o filme pela ideia de uma mulher ter pensamentos nada convencionais para sociedade indiana conservadora. Imagino que esses críticos, em sua maioria homens, não concordam que uma mulher possa desejar um cara.

    Compartilho da opinião da Isa sobre a Mynah.

    Raquel.

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    1. Concordo com tudo o que você disse, Raquel. Quer dizer, quase tudo. Estava aqui pensando que talvez a questão da crítica não tenha sido apenas a forma como a mulher foi mostrada, mas estranhamento com a própria experimentalidade que você citou e de que tanto gostamos. Quando o cinema indiano mostra mulheres fortes, as coisas costumam ser mais explícitas: o filme é promovido como filme de mulher forte, as falas são muito claras e libertadoras. Aiyyaa fez isso de um modo meio maluquinho, meio fantasioso, um pouco irônico. Não bateu com a linguagem esperada. Bom, de toda forma não li as críticas, então é uma hipótese sem base alguma.

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