Junglee (1961)

Eu não era muito fã do Shammi Kapoor. Falei aqui que um dia explicaria o "Pacto Shammi" e a hora chegou. Pois bem, o Pacto Shammi foi um acordo que eu havia feito com o Shammi enquanto assistia a Kashmir Ki Kali (1964), se não me engano. Ele me irritava com todos aqueles pulos, caras e bocas, mas ainda assim eu conseguia sair bem de seus filmes porque me concentrava só nas coisas boas dele: o modo sensacional como cantava as músicas do Rafi, seu dinamismo, seu jeito engraçado. Eu não o deixava me incomodar e ele não me incomodava. Entretanto, comecei este relato dizendo que eu não era fã dele, no passado. Junglee chegou na minha vida e não trouxe nada de diferente do que eu já havia visto do Shammi ji, mas foi isto que modificou tudo. Vi que seria sempre daquele jeito e que isto não era necessariamente ruim. Então finalmente entendi a função do Shammi Kapoor na minha vida: me fazer sorrir. Nossa relação não funcionava enquanto eu cobrava que ele me emocionasse e tomasse conta de todos os meus sentidos, como tão bem faz seu sobrinho Rishi. Enquanto isto, aquele homem alto de olhos verdes estava tentando me colocar para dançar e eu não percebia. Eu só precisava me divertir.

Para mim é importante tentar passar como me sinto em relação a atores que vejo tão constantemente. Esta breve explicação sobre o Shammi na minha vida foi mais importante ainda porque ele faleceu há pouco tempo. Como foi o primeiro falecimento que "presenciei" no cinema indiano, me deixou um pouco impressionada. Espero que ele tenha tido uma boa vida e fico feliz por fazer parte do grupo de pessoas que tem acesso a seu trabalho.

Agora...

YAAAAAAHOO!


Junglee é um filme bem simples, divertido e o melhor de tudo: muito colorido! Não consigo resistir às cores, então esta postagem terá tantas imagens que será como se eu estivesse revendo o filme.

Shekhar (Shammi) tem uma mamãe muito controladora, interpretada pela minha querida Lalita Pawar. Viúva e fiel à memória do marido, ela não deixa de manter sua família na linha e cumprindo à regra que ele impôs em vida: em sua família, ninguém deve sorrir. Sorrir é para os fracos! Por sorte, seu mal-humorado filho segue muito bem a tradição paterna.


Lalitinha: muito digna.


Entretanto, toda família tem seu ovo podre (?). Mala (Shashikala), irmã de Shekhar, adora sorrir e aproveitar a vida. E, absurdo dos absurdos, tem até um namorado! Ela e Jeevan (Anoop Kumar) namoram escondidos da família de Mala. Um dia, um amigo da família que também trabalha na empresa vê os dois juntos e avisa a Shekhar e sua mãe que Mala está se "desviando". Shekhar ia a Kashmir resolver algumas coisas (que não sei quais são), para depois voltar e resolver seu casamento com uma princesa de uma linhagem real falida, mas deste último detalhe Shekhar e sua mãe não sabem. Todos decidem que levar Mala para Kashmir é um bom caminho. Pobre Mala!

Andando com sua carinha fechada e seu biquinho constante por Kashmir, Shekhar conhece Rajkumari (Saira Banu), uma mocinha espevitada que parece curtir implicar com Shekhar. Raj está em processo de abandonar a infância e abraçar a mocidade, o que é mostrado no clipe Ja Ja Ja Mere Bachpan. Música doce da mocinha? Só pode ser cantada pela Lata Mangeshkar.

Querem entender por que adoro ver filmes antigos que se passam em Kashmir ?


Olhem esta paisagem!

Querem entender o que era ser uma diva nos anos 60?


Pode não ser a melhor, mas é linda demais.

Há alguns acontecimentos que fazem Mala e Raj ficarem amigas. Raj e Shekhar acabam ficando presos em uma cabana durante uma tempestade de neve. É claro que não acontece nada físico entre eles, afinal isto é um filme indiano dos anos 60 (ok, aconteceu em Aradhana, mas eles estavam casados). E por ser um filme indiano, os dois se apaixonam. Shekhar aceita a felicidade e sai sorrindo, pulando e cantando. Fica doido mesmo, bem como o Shammi sabe fazer. Como Shekhar vai apresentar seu novo jeito de ser para a sua rígida mãe? Como irá livrar-se do noivado desejado por seu pai para ficar com Raj? Como Mala resolverá seus problemas? Irá Raj parar de cantar para cabras em Kashmir? Vejam Junglee para saber!

O filme me divertiu o tempo todo, inclusive nas poucas cenas dramáticas. É interessante que mesmo no meio de tudo isto a Lalita Pawar ainda tenha conseguido manter uma sólida imagem de mulher séria. Realmente via-se sua tensão, austeridade e resistência à mudanças. Já a vi em vários papéis iguais e também em filmes do Shammi, mas toda vez é uma bela experiência.

Saira Banu estava em sua estreia nos filmes, tendo apenas 17 anos. Isto foi o suficiente para eu perdoá-la por ser tão...sem-graça? Em todas as danças e muitas cenas me pareceu que ela não sabia o que estava fazendo. Em vários momentos tinha tanta intensidade nas expressões quanto uma boneca de cera. Talvez tenha sido a descoberta de que era tão nova, mas de uns tempos para cá comecei a achá-la adorável no filme. A própria música de adeus à infância começou a fazer mais sentido, já que ela estava passando de garotinha à diva do cinema. Meu momento favorito dela no filme é a música Kashmir Ki Kali, clipe no qual parece uma flor tanto ou mais bela do que aquelas que a rodeiam. Reparem em como ela não sabia dançar bem (não sei se melhorou mais tarde, foi meu primeiro filme dela). Vi até mesmo uma dificuldade em dar leveza e graça aos movimentos como atrizes mais experientes conseguem. Além do fato de eu adorar a paisagem e finalmente ver uma garota implicando com um rapaz , esta questão de ainda não saber calcular muito bem cada movimento e ainda assim ser tão encantadora me faze adorar o vídeo. Confesso que pausei o filme para dançar junto com ela, apesar de não ser nem de longe a música mais animada da trilha.

Pararam para refletir que ele tinha 30 anos e ela, 17?


O Shammi é louco. Quando se busca sobre ele na internet é comum encontrar o termo "Elvis indiano" porque seu visual e habilidades de dança foram baseados nos do cantor, mas há nele um certo ar desengonçado que não encontro não Elvis (não que eu o conheça muito). Pelo pouco que já vi do Elvis, ele parecia ter mais controle de seus movimentos, enquanto o Shammi é realmente selvagem. Isto fica claro na música principal do filme e marca registrada do Shammi, Yahoo. Tal como uma doce vovó, a todo momento me perguntava  se o menino não ia se machucar ao se jogar tão fortemente na neve. E a Saira lá, de bucha.


Quando se imagina que  criatura não possa ser mais louca do que isto, vem melhor: item number com a diva mor, Helen. Suku Suku é um espetáculo para os olhos. Gosto do vídeo, me divirto com a música e a Helen está lindíssima, mas prefiro items em que ela "canta" também. Deste modo, posso brincar de incorporá-la ao ouvir a música!

No fim tive mais uma surpresa: um musical que me fez apaixonar pelo Shammi, no sentido mocinha ama o herói romântico. Ehsaan Tera Hoga, lindamente cantada pelo mais lindo ainda Mohammed Rafi. Shammi, o canastrão. Saira, a boneca de cera. Carol, a sem sentido.

E Helen ji, A dama.


Dirigido por Subodh Mukerjee, eu chamaria Junglee  de comédia romântica porque a gente consegue rir e suspirar também. Atualmente é o primeiro filme de que recordo quando penso em entretenimento nos anos 60 e poucos trabalharam as cores tão bem (e tão cedo). É meio pastelão? Certamente. Mas isto só deixa tudo ainda mais adorável. Tem uma inocência nas cenas, no roteiro simples e na vontade de agradar. Até o momento posso dizer com certeza que é meu filme favorito do Shammi!

3 comments

  1. Anônimo24/9/12

    Que linda que era a vestimenta e a maquiagem de antes.
    Me lembro que numa serie uma personagem dava aulas de musica e depois se apaixonaram. não sei qual era o nome, não me lembro...

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    1. Mariana, era mesmo. Fico especialmente impressionada com a maquiagem da Sharmila Tagore em qualquer filme dos anos 60. É muito forte e eu não usaria, mas certamente dá um charme.

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  2. Oi, estou procurando a legenda para este filme, por favor onde posso encontrá-la? Muito obrigada pela atenção, beijo.

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