Joker (2012)


Algo aconteceu entre o Akshay Kumar e Shirish Kunder durante as gravações de Joker. Não sei o que é porque não estava acompanhando notícias na época, mas sei que as coisas ficaram estranhas e Akki nem mesmo participou da divulgação do filme. Disse que não gostou do resultado. Como fã tanto do Akshay quanto do Shirish, não pude evitar certo desânimo com o filme após os acontecimentos. Afinal, como me animar com um filme renegado pelo protagonista?

Apesar de raramente rir delas, gosto muito das comédias do Akshay. Elas são barulhentas, dinâmicas,  coloridas e tem bons clipes. Posso dizer os mesmos dos filmes do Shirish já lançados, Jaan-E-Mann­ e Tees Maar Khan. Ambos tem um humor meio peculiar, em que até mesmo as piadas mais óbvias tem um leve toque de ironia que considero divertidíssimo. Jaan-E-Mann – que Shirish dirigiu e escreveu - funcionou perfeitamente comigo, misturando comédia pastelão, romance água com açúcar e uma homenagem/paródia a clichês de Bollywood. Já Tees Maar Khan, que ele apenas produziu e escreveu, mergulhou fundo demais na bizarrice e está na lista dos filmes mais insuportáveis a que assisti. Joker é uma pura manifestação do artista Shirish: escrito, dirigido, produzido e editado por ele. Ou seja, é a melhor amostra possível para quem quiser saber com alto grau de certeza se gosta ou não do moço.



Dessa mente pouco convencional saiu uma história de (não) ETs. Akshay é Agastya, cientista da Nasa cuja tarefa é fazer contato com extraterrestres por meio de uma máquina que ele mesmo criou. Seu prazo para consegui-lo expira, mas seu chefe lhe dá mais um mês para tal. É quando recebe uma ligação da Índia, avisando que seu pai está à beira da morte e deseja vê-lo. Agastya volta à Índia com Diva, sua namorada. Esta é interpretada por Sonakshi Sinha, aquela moça tão bela e expressiva que consegue marcar presença até mesmo em masalas dominados por homens. É uma pena que seu papel seja tão pequeno neste filme. Ela mais deu pulinhos que outra coisa e não consegui vê-la realmente atuar, como desejo há tanto tempo.


Agastya veio de Paglapur, algo como “aldeia dos loucos”. Sua aldeia não foi anexada ao mapa da Índia à época da independência, pois houve uma fuga em massa dos habitantes quando os internos do sanatório local se rebelaram e tomaram a cidade. Sendo assim, Paglapur foi construída e mantida por “loucos”. E estes loucos adoram Agastya, que também sentia falta de todos. Ele só não sabia que a saudade deles estava grande a ponto de mentirem sobre a saúde de seu pai para fazê-lo voltar. Sente raiva quando descobre, mas logo perdoa a todos e entende que só fizeram isso para que ele os ajudasse a salvar a aldeia da miséria. Como Paglapur não faz parte da Índia, não recebe recursos para nada. Isto se tornou problema quando começou a faltar água, impedindo a agricultura. Agastya toma para si a missão de colocar Paglapur no mapa.


Tudo isto aconteceu muito rapidamente, o que me desagradou porque não estava assimilando nem essa história de um lugar chamado “Paglapur”, muito menos tive tempo de me comover com seus dramas. O ambiente da cidade é de uma bizarrice inigualável, meus amigos. Shreyas Talpade falando uma língua desconhecida e se sacudindo em galhos de árvore são algumas peculiaridades pagalapurianas. O ambiente é árido e tem ar de abandono, mas os habitantes o fazem ser cheio de vida. Lugar perfeito para criar a fantasia de uma cidade de ETs, foi o que Agastya pensou.


E é assim que os habitantes criam a farsa de que ETs visitam Paglapur. Também foi quando realmente comecei a gostar do filme. A cada esdrúxula fantasia de ET criada por Agastya e cia, mais crescia meu interesse. Zombou-se um tanto da cobertura jornalística, tão sensacionalista nesses casos, e dos repentinos interesses políticos em cidades lucrativas. A última vez em que vi uma paródia da mídia sensacionalista foi em Peepli Live, mas lá era algo mais calcado no real. Em Joker, é tudo uma divertida piada. Não dá para acreditar que qualquer um – principalmente as autoridades dos Estados Unidos – cairia na história dos aldeões, mas também não dá para acreditar em um lugar chamado Paglapur. Me deixei levar por toda aquela loucura, mas não foi apenas isso. Realmente queria saber o que aconteceria, a história em si é envolvente.



As cores deram o tom abandonado e ao mesmo tempo radiante da cidade, porém também falaram de um outro abandono: o 3D. A concepção do filme era maior e me lembro que foi divulgado como o primeiro filme indiano em 3D, porém alguém (provavelmente, quem deu a grana) cortou a idéia bem perto do lançamento, o que diminuiu a magnitude do projeto. O problema é que Joker foi todo filmado para ser visto em 3D. Isto fica claro por alguns efeitos especiais – pessoas se balançando em galhos, vindo em direção à tela -, pelas cores fortes e o excesso de brilho. Acho que meus olhos saíram mais sensíveis da sessão, mas valeu a pena especialmente pelos clipes. Todos são fantásticos e nem tentei me impedir de dançar Sing Raja ou de me encantar com as mágicas luzes de Jugnu. O único que me incomodou, por incrível que pareça, foi o item number da Chitrangda Singh. Não é ruim, mas a letra é meio...boba. Letras de item numbers não costumam ser um manifesto feminista, mas as músicas dos melhores tem ritmos muito bons e sinto vontade de cantar junto. Ficar repetindo "I want just you" não teria graça.


Claramente, este filme poderia ser muito mais do que conseguiu e isto fica gritante a cada cena. Não sei se público e imprensa o descartaram, como fazem com tudo do Shirish, mas isto é bobagem. Os personagens tem uma alegria insana, as piadas são simples, e os clipes, de uma beleza radiante. Akshay, apesar de não acreditar nisto, apresentou uma de suas atuações mais honestas e divertidas. Talvez por ser tranquila, sem grandes gritos. Ele conseguiu fazer de Agastya o líder carismático que dele se esperava. Posso estar esperando demais do futuro de uma história de falsos ETs, porém fiquei com a impressão de que este filme será como Tashan: rejeitado no presente e com status cult a longo prazo. 

É uma pena que tenham deixado de acreditar no filme tão cedo. Gostei de assisti-lo e além de todos os fatores já citados, sua curta duração também faz dele um bom entretenimento. Mas é um filme do Shirish Kunder. Público e crítica nunca foram seus amigos, então alguma coisa no trabalho dele não funciona para a maioria das pessoas. Se quiser dar uma chance a Joker, é bom ter isto – e um pouco de apreço por maluquices - em mente.

2 comments

  1. Anônimo8/3/13

    Pra mim Joker não funcionou em nada, nem em querer zombar da mídia sensacionalista e etc. Talvez seja pela minha velha implicância com a temática alien ou porque foi tanta doideira que vi no roteiro que a história ficou sem sentido pra mim.

    Eu discordo educadamente da frase: “Akshay, apesar de não acreditar nisto, apresentou uma de suas atuações mais honestas e divertidas”. Acho que entendo o descontentamento do Akki quando viu o resultado... Pra mim seu melhor desempenho até o momento foi em Rowdy Rathore, até mesmo para bela Sonakshi Joker não favoreceu em nada.

    Raquel.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Raquel, faz todo o sentido o filme não ter funcionado para você. Mesmo tendo gostado muito, acho que a bagunça deixou as ideias do filme um pouco corridas. Também não sou muito chegada à temática dos aliens, mas gostei mais de Joker que de Koi Mil Gaya.

      "Discordo educadamente", eu ri! hahahahah Como o Akshay não parecia estar se esforçando muito, acabei gostando do seu desempenho porque estava mais solto, natural. Ele não gritou ou se sacudiu tanto quanto o habitual, o que achei bom (considerando que o filme já tem um tema que facilmente fica caricaturado).

      Rowdy Rathore é uma festa de amor no meu coração, Raquelzinha. Não consigo comparar a atuação com a de Joker porque os filmes são muito diferentes, mas achei o Akki ótimo em ambos.

      Excluir

Deixe um comentário e me conte o que achou!

Comentários ofensivos serão excluídos.