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"Você sabe por que estou aqui?" |
Shetty nunca primou pela sutileza. Em cinco minutos de filme aprendemos didaticamente que Kaali é um personagem emocionalmente perturbado, com bom coração e que aprecia imensamente sua família. Os laços afetivos entre personagens masculinos são figurinha carimbada em Bollywood e neste filme são representados pela ligação entre Kaali e Veer. O personagem de Varun Dhawan é o do bobo alegre e provavelmente foi a pior atuação que este rapaz já apresentou em sua vida. Em vários momentos é possível o espectador questionar se a intenção de Varun foi interpretar como se o personagem tivesse algum atraso intelectual. Seus recursos foram muitas bocas abertas, voz estridente e olhos constantemente arregalados. É o tipo de trabalho que me fez pensar que Badlapur foi uma alucinação que tive.
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Kriti Sanon teve mais espaço neste post do que no filme |
Talvez o maior problema deste filme seja a tentativa de um diretor de comédia tentar equilibrar o gênero com um romance mais substancial. Rohit Shetty claramente não tem ideia de como criar ambientes emocionantes para seus momentos românticos, o que o levou a apelar para qualquer clichê disponível, como câmeras lentas, olhares profundos e suspiros. Gerua foi provavelmente um dos piores clipes românticos da carreira de Shahrukh Khan, com cenários artificiais, vestidos esvoaçantes para Kajol e muitas poses. A artificialidade é tão gritante que em alguns momentos parece uma paródia dos clipes românticos de Shahrukh. Infelizmente o clima também predominou nas cenas e diálogos, outro amontado de frases pouco inspiradas. A única coisa que dá um mínimo de credibilidade ao romance é a sintonia inegável entre Kajol e Shahrukh. Apesar de não desgostar da dupla, jamais vi a mesma graça nela que os fãs do casal costumam ver e apenas gostava deles como gosto de qualquer outro casal que o Shahrukh já tenha feito. Mas em Dilwale foi provavelmente a primeira vez que senti o efeito da combinação, pois ficou muito clara a cumplicidade entre ambos, traduzida em facilidade para nos convencer de um amor muito mal explicado pelo roteiro. Se não fosse por eles, seria impossível comprar essa história de amor. Fora isso, não houve muita coisa a aproveitar (talvez os carros voadores, estes sempre me deixam feliz).
Talvez sejam a familiaridade com seu par romântico e a amizade de longa data de seu marido, Ajay Devgn, com o diretor que acabaram fazendo com que Kajol decidisse estar neste filme. Mas acredito que não seja só isso. O roteiro de Dilwale é um dos maiores casos de desperdício de uma boa ideia no cinema indiano. O conceito do ódio entre ex-apaixonados, uma heroína com tanto lugar de fala e espaço em cena quanto o herói e, acima de tudo, um romance entre protagonistas mais velhos funcionariam muito bem com diálogos melhor trabalhados e um diretor mais adequado. No lugar disso recebemos um filme que claramente tenta se firmar em nada mais que o carisma e sucesso de seus protagonistas para vender mais ingressos. Dilwale é ação que não impressiona, romance que pouco emociona e comédia que não faz rir. Certamente Shahrukh Khan e Kajol mereciam mais que isso.