Badlapur (2015)

Faz duas semanas que tento escolher o próximo filme a resenhar no blog. Toda vez que me perguntava sobre qual filme escrever, o nome Badlapur piscava em neón na minha mente. Cheguei a escolher dois outros filmes, mas no momento em que abri a janela para escrever, digitei Badlapur no título. Por que este filme não deixa aqueles que o assistem? É o que vou me esforçar para entender.


Varun Dhawan foi categórico: Badlapur foi sua tentativa de responder a todos os que colocaram sua atuação em dúvida desde a sua estreia no glamouroso Student Of The Year. Sua única habilidade reconhecida é a da dança, que não serve de absolutamente nada no intenso filme de Sriram Raghavan. Nele, Varun interpreta Raghu, um homem que vê seu mundo desmoronar ao perder a esposa, Misha (Yami Gautam) e o filho numa fuga após o assalto de um banco. O roubo foi realizado por Harman (Vinay Pathak) e Liak (Nawazuddin Siddiqui), que assassinam a família de Raghu em meio ao desespero e aos gritos de Misha no carro que eles roubam após a fuga. Os assaltantes imaginam que tudo será esquecido após Liak entregar-se à polícia e Harman fugir com sua parte do dinheiro. O que eles não imaginam é que seu pequeno ato de crueldade mudou Raghu de forma permanente.

O tema principal de Badlapur é a vingança. A crueldade de Raghu é construída lentamente, de forma a mostrar que sua mudança não foi súbita. Ele era um homem comum, com um trabalho regular e uma vida familiar feliz. Tal normalidade mostra que Raghu pode ser qualquer um de nós. O impacto de sua tragédia familiar o joga num poço de ódio que retira qualquer coisa boa que tivesse em sua vida. Varun teve que passar por três momentos igualmente intensos em sua interpretação: tristeza, raiva e finalmente, uma fria crueldade. Sua tristeza pela morte da esposa foi tocante, porém a interpretação deveu algo. Ele parecia estar chorando, mas não destroçado. Seu melhor momento enquanto ator foi certamente na passagem de uma raiva juvenil, quando insanamente visita Liak e o agride na cela, para o cálculo de uma vingança planejada. É neste ponto que ele mostra um imenso auto-controle, que ainda trai algo das trevas em que se afundou. Neste momento existiram muitas passagens de tempo e Raghu precisava parecer mais velho e amadurecido. O diretor e Varun optaram por deixar Raghu comedido, observador e desconfiado, o que permitiu que o amadurecimento do personagem ocorresse com sucesso. Este trabalho também foi facilitado pela caracterização. Varun é um ator jovem e tem um corpo musculoso - o que não parece tão verossímil em um homem comum. A opção por roupas mais largas e um corte de cabelo entre as passagens de tempo ajudou bastante na composição do personagem.

O excesso de crueldade de Raghu é o ponto mais chocante. Ninguém é totalmente mocinho ou bandido nesta história e o espectador que passou toda a projeção apoiando o lado correto da força é surpreendido por um protagonista agindo de forma igual ou pior aos bandidos contra quem luta. Já é raro ver protagonistas cruéis, mas ver um importante ator comercial neste papel é ainda mais difícil. É ótimo estarmos vivendo uma época em que os atores e atrizes não precisam ficar presos à uma determinada imagem para manterem suas carreiras.

Nawazuddin Siddiqui foi ele mesmo e deu mais um show de atuação. Ele é especialista em criar tipos populares, que misturam a malandragem à uma certa fragilidade. O ponto fraco de Liak é a prostituta Jhimli, interpretada por Huma Qureshi. Ela e Kanchan (Radhika Apte), esposa do bandido Harman, são utilizadas da forma mais misógina possível na vingança de Raju. Ele utiliza o sexo como forma de dominá-las e mostrar aos homens que mataram sua esposa que ele também pode tirar algo que lhes pertence. Foi uma forma extremamente nojenta de inserir personagens femininas num filme e elas não têm muita utilidade para a história além dessa. Ambas são fiéis aos homens que amam, temem Raju e sentem na pele as consequências de sua vingança. Um tratamento um pouco melhor foi dado a Misha, a esposa morta. Vê-la na vida doméstica nos poucos flashbacks do filme faz com que a personagem não tenha suas identidade e história apagadas, como tanto acontece em outros filmes nos quais homens buscam vingança em nome de mulheres. O mesmo não se pode dizer de seu filho com Raju, que pouco apareceu nos flashbacks. O roteiro levou mais à ideia de que a vingança era relacionada à morte da esposa, enquanto que a lembrança da criança sumiu ao longo do filme.




O tempo é um problema em Badlapur. O filme começa num ritmo alucinado, que depois se perde, retoma o primeiro ritmo e termina por não saber qual passo manter. A prisão de Liak e sua passagem pela cadeia deixam o filme bastante lento e isto muda apenas quando Raghu vai atrás de Harman para completar sua vingança, bastante tempo depois do início. O filme poderia ser mais enxuto e cortar partes da relação de Liak com a mãe e com Jhimli, por exemplo. Outro lugar de dificuldade está nas músicas finais. A reflexão final é forte e desoladora por si só. Não havia necessidade de ser cortada por uma música altíssima, pois isto diminuiu o impacto da última frase. Mas nada foi tão chocante quando o item number inserido após o término. Não somos ingênuos e entendemos como Bollywood funciona: este é um filme diferente do padrão, precisava de uma música para ajudar nas promoções e fazer as pessoas darem uma chance à história. Só que saber disso não diminuiu em nada o choque de ver o personagem que eu havia acabado de assistir cometendo as maiores atrocidades fazendo uma coreografia com correntes e bailarinos. "Bizarro" nem começa a descrever a experiência.

As boas atuações e o ineditismo da trajetória do protagonista sobressaem-se às irregularidades do roteiro de Badlapur. O sério tema da futilidade da vingança é discutido até as últimas consequências, sem medo do efeito que pode causar em quem está do outro lado da tela. Assisti-lo é uma experiência surpreendente, diferente de tudo o que estamos acostumados a encontrar no cinema hindi comercial - mas sem perder a emoção e o movimento desse tipo de cinema. O bom desempenho nas bilheterias certamente vai abrir as portas para que outros jovem atores e atrizes invistam em projetos ousados. Quem imaginaria o dançarino de Student Of The Year em um filme que mantém o tom sombrio do primeiro ao último minuto? Para nossa sorte, o diretor imaginou.

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