Este texto estava guardado há muito tempo. Agneepath teve um enorme impacto sobre mim e tive dificuldades em resumir todos os motivos pelos quais adorei o filme. Sendo assim, mexi tanto nesta postagem que nem sei mais como imaginava que ela seria no início. Estava ficando difícil conclui-la e ia desistir, mas pensei que uma última tentativa para organizar a bagunça não custaria muito esforço. Até porque já tinha muita coisa escrita e tive pena de jogar fora! Este é o resultado.
Recentemente
vem sendo feitos alguns remakes de filmes clássicos em Bollywood. Não gosto
desta tendência porque a maioria dos filmes é muito boa e qual é o sentido de
fazer um remake, se não para adicionar algo de bom que tenha faltado no
original? Um bom remake foi o de Don,
um filme cuja história poderia se beneficiar bastante sendo produzida
atualmente, já que traz um traficante internacional e muitas cenas de ação. Um
remake desnecessário foi o de Umrao Jaan.
E um que me deixou indecisa foi o de Agneepath.
Ao mesmo tempo em que percebi que muito poderia ser melhorado em relação ao
original, este havia sido feito em 1990. Parecia cedo demais para se refazer um
filme. Foi com a cabeça cheia de dúvidas, muita vontade de ver o Rishi Kapoor e
curiosidade pelo personagem do Sanjay Dutt que fui assistir ao filme. O plano
para hoje é discutir um pouco de ambos os filmes, compará-los no que for
possível e ver suas maiores forças e fraquezas. Tratarei mais do novo por ter me impressionado mais.
Agneepath, que pode ser traduzido como “caminho
do fogo”, é a história de Vijay Dinanath Chauhan (Amitabh Bachchan/Hrithik Roshan).
Quando criança, Vijay morava com os pais na aldeia de Mandwa. Seu pai era o
honesto professor Dinanath Chauhahn (Alok Nath/Chetan Pandey), que tinha o
respeito e admiração de todos os aldeões. Kancha Cheena (Danny Denzongpa/Sanjay
Dutt) planeja começar um negócio de venda de drogas e precisa das terras dos
aldeões para o plantio de coca. Como o professor convence o povo a não
emprestar suas terras, o vilão arma um plano para desmoralizá-lo e fazê-lo ser
linchado. A tragédia acontece e Vijay passa anos de sua
vida sedento por vingança.
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Muito Vijay Chauhan nesta vida. |
Para
facilitar, vou dividir em tópicos e chamar o primeiro de antigo e o segundo de
novo.
Os vilões

O Kancha de Danny Denzongpa é mais um mafioso estiloso. Seu problema com Vijay parecia mais relacionado ao quanto ele atrapalhava seus negócios. Bem diferente da tensão entre Vijay e Kancha no novo filme. Kancha quer ver as pessoas sofrendo, quer que o circo pegue fogo.
Um novo vilão foi adicionado: Rauf
Lala (Rishi Kapoor).
Esta
deve ser uma das melhores atuações do Rishi Kapoor em 20 anos, talvez a melhor
que jamais verei. Todos os seus negócios são escusos, desde o tráfico de
mulheres até o tráfico de drogas. É por meio do império construído por ele que Vijay
planeja crescer para enfrentar Kancha. Vijay deseja assumir a posição de Rauf Lala e isto é simbolizado pelos momentos em que calça seus sapatos. Mas Rauf não está disposto a deixar seu império ir tão barato assim, o que nos permite vez a fantástica disputa de poder entre ele e Vijay.
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Everyday I love you more and more! Sóri ae, Kaiser Chiefs. |
Mesmo sabendo que Kancha é o vilão principal e tendo ficado assustada com ele, Rauf Lala me impressionou mais. Certamente foi por ter mostrado um lado tão diferente do Rishi, aposto que nem ele imaginava que desempenharia tão bem o papel. Até mesmo agora que está mais velho, ainda é fácil para o Rishi manter a imagem de rapaz adorável que o consagrou. Mas quando o vi como Rauf Lala, o desprezo e raiva que senti me tomaram de surpresa. Eu queria que ele morresse, que pagasse caro por vender meninas a velhos imundos, que sofresse o quanto fosse possível. Rishi é um ator completo. Toda a sua expressão corporal transmitiu a arrogância do Lala, em especial na canção Shah Ka Rutba. Você sabe que ele se sente importante e que as pessoas assim o veem, sua presença domina o ambiente. Nem eu sabia que o Rishi era tão competente.
Vijay Dinanath Chauhan, pura naam
Não vou comparar Hrithik Roshan a Amitabh Bachchan. Primeiro, por serem atores de tempos muito distintos. Mas principalmente por seus Vijays terem sido pensados de modos diferentes.
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Moleques tensos. |
Toda a dor que o Hrithik conseguiu mostrar me fazia oscilar entre desejar que ele deixasse toda aquela vingança de lado e desejar que conseguisse concretizar seu objetivo. Sou uma pessoa absolutamente contra vinganças, então ficar nesse dilema não foi fácil para mim. Aquele sofrimento parecia ter tomado conta de cada parte dele, por dentro e por fora, então eu queria que ele não mais sentisse aquilo. Na verdade, acho que era isto o que todos do filme queriam. Que ele se libertasse. Vijay é tão ambíguo! Ao mesmo tempo em que contribuía para a caridade, não hesitava em fazer parte da gangue de um traficante de drogas e mulheres. Até nossos sentimentos acabam influenciados pela ambivalência dele.
Baap ka naam, Dinanath Chauhan. Maa ka naam, Suhasini Chauhan. Gaon, Mandwa.
A família do Vijay mudou um pouco de uma versão para a outra. A mãe, Suhasini, não mudou grande coisa: continuou desprezando a vida que o filho levava e negando amor a ele. Já Shiksha, a irmã mais nova, mudou bastante! Na primeira versão foi interpretada pela Neelam e tinha muito carinho pelo irmão, que a amava bastante. Mesmo assim, nem se compara com a importância da personagem no filme novo. Sua idade foi diminuída e em vez de chegar pequena em Mumbai com a mãe e o irmão, nasce apenas ao chegar à cidade. É então estabelecida a primeira ligação entre os irmãos: depois de morte, sofrimento e fuga, Vijay vê o nascimento de uma vida nova. Shiksha mal nasce e já está nos seus braços. Ele acaba de perder um membro da família e logo vem outro tão pequeno, sem saber de nada do que aconteceu. Suhasini separa os dois com Shiksha ainda pequena, então ela passa anos sem saber que tem um irmão. Como perda e ganho vieram em sequência, fica fácil entender por que a distância daquela irmã o machuca tanto. Ele perde sua família duas vezes.
Mandwa, a aldeia onde tudo acontece. O objetivo do Vijay no antigo é dar Mandwa à sua mãe. Vingar-se de Kancha Cheena parece ser um objetivo maior no novo, sendo Mandwa o local onde tudo deve ter início e fim. Sabem filmes como Wape Up Sid e Kahaani, nos quais a cidade é um dos personagens? No antigo, Mandwa parece um personagem, de tanta vida que ganha na imaginação do Vijay.
As moças
Não é tarefa fácil ser heroína de Agneepath, sejamos justos. Na primeira versão era uma enfermeira interpretada pela Madhavi que só baixava a cabeça e se sentia triste. Na única vez em que levantou a voz, Vijay basicamente a ameaçou de morte. Fiquei apavorada. A situação melhora um pouco no filme novo com a heroína Kaali, uma espevitada moça interpretada por Priyanka Chopra. Kaali tem mais espaço que a Mary da Madhavi, apesar de também não ser peça fundamental do filme. Não gostei de atuação da Priyanka, que achei um pouco forçada nos sorrisos e olhos revirados. "Não gostei" é um pouco forte. Na verdade, acho que poderia ter sido melhor se ela tivesse carregado menos na expressão. Sabem quando parece que uma pessoa está forçando simpatia? Então. Eu via Priyanka interpretado Kaali, não apenas Kaali.
E o humor?
Krishnan Iyer (Mithun Chakraborty) é um personagem muito importante no filme antigo. É um amigo de Vijay que se torna quase um irmão, chegando a ter um romance estranho com Shiksha. Estranho porque é um daqueles romances em que fazem a transformação da moça ocidentalizada descarada em boa moça submissa indiana para mostrar o surgimento do amor entre eles. Argh, detesto isso. Além de ter um romance com mais consistência que o de Vijay, Krishnan também era responsável pela parte cômica do filme, que foi drasticamente diminuída no filme novo. Na minha opinião, foi uma decisão acertada. Apesar de mais pesada, a história também ficou mais focada e algumas cenas menores e clipes conseguiram cortar um pouco o clima sombrio no filme novo.
As músicas!
Filme antigo: trilha? Que trilha?
Filme novo: MELDELS, EU ADOREI ESSA TRILHA, POR QUE NÃO OUVI ISSO ANTES?
Gun Gun Guna, Shah Ka Rutba, Deva Shree Ganesha...é possível não gostar da trilha após ver os clipes? Agneepath já merece todo o meu amor só por ter dado um qawwali ao Rishi Kapoor no qual constatamos o óbvio: Rishi é o maior, Rishi é o melhor, etc, etc.
E tem ela. O item number. A item girl. Não assisti ao clipe antes de ver o filme e acho que fiz bem. Chikni Chameli é um item adaptado ao filme como poucas vezes se viu. A coreografia é estranha, pesada. Só não fica desengonçada porque a Katrina Kaif tem total controle do que está acontecendo. Aquele espaço é dela. A Kat evoluiu muito como dançarina desde Sheila Ki Jawani.
O clipe mostra o retorno do Vijay a Mandwa e sua distância em relação à dançarina parece refletir uma outra, que é a que o separa de Kancha e da Mandwa por ele criada. Ela tenta seduzi-lo, mas ele não quer nem olhá-la. Ela ataca e tenta levá-lo para o seu mundo sujo, mas ele está decidido em seu objetivo e não vai se deixar enganar. Há uma parte em que essa interpretação ficou mais firme para mim, que é o momento em que Kancha fica à frente da dançarina e os dois avançam em direção a Vijay. É como se o estivessem convidando para suas trevas. Enquanto isto, tudo ao redor é dominado por chamas. O caminho de fogo continua.
E este é o clipe que marca a volta do Vijay a Mandwa no antigo. Jamais coloquem o Shakti Kapoor em algo que eu deveria levar a sério, gente.
O que tiro de tudo isto?
O remake de Agneepath foi muito acertado e funcionou totalmente comigo! Consegui me identificar mais com o sofrimento de Vijay Chauhan e assisti a três enforcamentos sem que isto estragasse o filme para mim (apesar de ter ficado um pouco assustada). Não é o mesmo filme de 1990, mas os dois tem em comum um trabalho cuidadoso com imagens, clipes e figurinos. A história ficou mais forte no novo. Se for para escolher um dos dois como clássico, não duvidem de que escolho o lugar onde Rishi Kapoor estiver.
Minha grande frustração com os filmes é sentir que ainda tenho uma compreensão muito superficial do poema Agneepath, em que são baseados. O significado do caminho do fogo deve ser mais intenso. Parece que não consigo ver além de uma exigência para que jamais se permita a própria fraqueza, coisa da qual discordo plenamente. Mas deve ter mais ali. E no dia em que eu descobrir o que é, escrevo aqui. Mesmo que seja para apenas chegar à conclusão de que não havia muito mais do que eu pensava. Até lá...agneepath, agneepath, agneepath.
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Muita |
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Menos cor, ainda muita dor. |
Mandwa, a aldeia onde tudo acontece. O objetivo do Vijay no antigo é dar Mandwa à sua mãe. Vingar-se de Kancha Cheena parece ser um objetivo maior no novo, sendo Mandwa o local onde tudo deve ter início e fim. Sabem filmes como Wape Up Sid e Kahaani, nos quais a cidade é um dos personagens? No antigo, Mandwa parece um personagem, de tanta vida que ganha na imaginação do Vijay.
As moças
Não é tarefa fácil ser heroína de Agneepath, sejamos justos. Na primeira versão era uma enfermeira interpretada pela Madhavi que só baixava a cabeça e se sentia triste. Na única vez em que levantou a voz, Vijay basicamente a ameaçou de morte. Fiquei apavorada. A situação melhora um pouco no filme novo com a heroína Kaali, uma espevitada moça interpretada por Priyanka Chopra. Kaali tem mais espaço que a Mary da Madhavi, apesar de também não ser peça fundamental do filme. Não gostei de atuação da Priyanka, que achei um pouco forçada nos sorrisos e olhos revirados. "Não gostei" é um pouco forte. Na verdade, acho que poderia ter sido melhor se ela tivesse carregado menos na expressão. Sabem quando parece que uma pessoa está forçando simpatia? Então. Eu via Priyanka interpretado Kaali, não apenas Kaali.
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Madhavi não está com cara de foto de RG? |
E o humor?
Krishnan Iyer (Mithun Chakraborty) é um personagem muito importante no filme antigo. É um amigo de Vijay que se torna quase um irmão, chegando a ter um romance estranho com Shiksha. Estranho porque é um daqueles romances em que fazem a transformação da moça ocidentalizada descarada em boa moça submissa indiana para mostrar o surgimento do amor entre eles. Argh, detesto isso. Além de ter um romance com mais consistência que o de Vijay, Krishnan também era responsável pela parte cômica do filme, que foi drasticamente diminuída no filme novo. Na minha opinião, foi uma decisão acertada. Apesar de mais pesada, a história também ficou mais focada e algumas cenas menores e clipes conseguiram cortar um pouco o clima sombrio no filme novo.
As músicas!
Filme antigo: trilha? Que trilha?
Filme novo: MELDELS, EU ADOREI ESSA TRILHA, POR QUE NÃO OUVI ISSO ANTES?
Gun Gun Guna, Shah Ka Rutba, Deva Shree Ganesha...é possível não gostar da trilha após ver os clipes? Agneepath já merece todo o meu amor só por ter dado um qawwali ao Rishi Kapoor no qual constatamos o óbvio: Rishi é o maior, Rishi é o melhor, etc, etc.
E tem ela. O item number. A item girl. Não assisti ao clipe antes de ver o filme e acho que fiz bem. Chikni Chameli é um item adaptado ao filme como poucas vezes se viu. A coreografia é estranha, pesada. Só não fica desengonçada porque a Katrina Kaif tem total controle do que está acontecendo. Aquele espaço é dela. A Kat evoluiu muito como dançarina desde Sheila Ki Jawani.
O clipe mostra o retorno do Vijay a Mandwa e sua distância em relação à dançarina parece refletir uma outra, que é a que o separa de Kancha e da Mandwa por ele criada. Ela tenta seduzi-lo, mas ele não quer nem olhá-la. Ela ataca e tenta levá-lo para o seu mundo sujo, mas ele está decidido em seu objetivo e não vai se deixar enganar. Há uma parte em que essa interpretação ficou mais firme para mim, que é o momento em que Kancha fica à frente da dançarina e os dois avançam em direção a Vijay. É como se o estivessem convidando para suas trevas. Enquanto isto, tudo ao redor é dominado por chamas. O caminho de fogo continua.
E este é o clipe que marca a volta do Vijay a Mandwa no antigo. Jamais coloquem o Shakti Kapoor em algo que eu deveria levar a sério, gente.
O que tiro de tudo isto?
O remake de Agneepath foi muito acertado e funcionou totalmente comigo! Consegui me identificar mais com o sofrimento de Vijay Chauhan e assisti a três enforcamentos sem que isto estragasse o filme para mim (apesar de ter ficado um pouco assustada). Não é o mesmo filme de 1990, mas os dois tem em comum um trabalho cuidadoso com imagens, clipes e figurinos. A história ficou mais forte no novo. Se for para escolher um dos dois como clássico, não duvidem de que escolho o lugar onde Rishi Kapoor estiver.
Minha grande frustração com os filmes é sentir que ainda tenho uma compreensão muito superficial do poema Agneepath, em que são baseados. O significado do caminho do fogo deve ser mais intenso. Parece que não consigo ver além de uma exigência para que jamais se permita a própria fraqueza, coisa da qual discordo plenamente. Mas deve ter mais ali. E no dia em que eu descobrir o que é, escrevo aqui. Mesmo que seja para apenas chegar à conclusão de que não havia muito mais do que eu pensava. Até lá...agneepath, agneepath, agneepath.