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Descobri Iti Mrinalini quando buscava algum filme da Konkona Sen Sharma para assistir. Além de uma das minhas favoritas, é uma das melhores atrizes do cinema indiano atualmente. A saudade bateu, fui em sua lista de filmes e encontrei este que é bastante recente e no qual foi dirigida por sua mãe, Aparna Sen. Para quem não sabe, a Aparna é uma das cineastas mais sensíveis e talentosas de toda a história do cinema indiano. E claramente sou fã da família Sen.


Toda a história se desenrola a partir do momento em que Mrinalini (Aparna Sen), uma atriz já mais velha do cinema bengalês, senta-se para escrever uma carta de despedida antes de cometer suicídio. Enquanto escreve, vamos sendo levados por suas lembranças, nem sempre lineares. Somos apresentados à elas principalmente por meio da histórias de Mrinalini quando jovem (Konkona Sen Sharma) e os relacionamentos que pontuaram sua vida: amorosos, de amizade, familiares, com a literatura, com a imprensa.

O filme mostra uma reflexão sobre a vida de alguém, o que nunca é fácil de assistir ou comentar. Vou tentar pelo primeiro tipo de relacionamento mostrado: o amoroso. Mrinalini na segunda fase está em um relacionamento com Imtiaz Chowdhury, um jovem diretor de cinema. Ambos dividem o gosto por filmes e poesias e tudo parece bem até ele demonstrar interesse por uma atriz mais jovem, situação que leva Minnu (vamos chamá-la assim) à situação suicida. Entretanto, não é este fato em si que a faz chegar ao limite, ele foi apenas o estopim de algo que já vinha se acumulando. Minnu teve toda uma vida na qual nada pôde ser seu por completo. Durante quase ou mais de uma década manteve um romance com o diretor Siddharta Sarkar (Rajat Kapoor), com este sempre prometendo à ela que deixaria a esposa. Quando tiveram uma filha, deixou que fosse criada pelo irmão e a cunhada, tendo um ótimo relacionamento com a pequena Sohini (Ananya Kumar-Banerjee), mas não o que realmente desejava. Fez filmes de sucesso, mas nunca foi chamada para trabalhar com seu diretor favorito. Seus poucos desejos são atendidos pela vida de modo estranho, diria até que pouco satisfatório.


Para Minnu, o mais difícil é diminuir a necessidade que sente de controlar tudo. Acredito que seja a imprevisibilidade da vida o seu motivo de maior sofrimento. Parece que todos tem alguém que seja "seu", se é que isto existe. Siddharta tem sua esposa e seus filhos, não conseguindo ficar longe deles. Seu irmão tem a esposa. Seu amigo Chintan (Koushik Sen) também tem sua esposa. Já Mrinalini não tem ninguém a quem esteja presa e esta falta de um porto seguro pode ser insuportável para alguém tão controlador. Até sua carreira, algo que estava em suas mãos, mudou quando envelheceu.

Chintan disse a Mrinalini que ela não entendia que existem várias formas de amor. Foi algo que me afetou porque venho pensando bastante a respeito. Ela não parecia entender que aquele amor forte entre amigos, que quase chegava ao amor romântico que conhecemos, poderia ser tão ou mais forte que qualquer outro. No fim, foi a manifestação deste mesmo amor que a fez sentir a segurança que tanto queria. Acho que ela só queria sentir que em algum momento era a prioridade de alguém, mas focou esta necessidade no amor romântico e não percebeu que não estava só.


O que mais me marcou no filme foi uma certa falta de solidez da protagonista. As situações vão acontecendo e apesar de eu ter ficado envolvida por elas todo o tempo, não consegui formar uma boa imagem da Mrinalini em minha mente. Disse que me marcou por uma razão bem particular. Desde que saí da escola, entrei para a faculdade e comecei a crescer, a cada dia aumenta minha sensação de não conhecer realmente as pessoas. Não posso afirmar que é geral, mas me parece que quando somos crianças e adolescentes acreditamos conhecer todos os aspectos de uma pessoa. Hoje isto mudou para mim. Parece que não sei nada até mesmo de quem mais gosto. Estou deixando que me surpreendam, tanto positiva quanto negativamente. No início do filme, logo esperava ver toda a história de uma mulher forte, que se impunha. Mas não foi bem assim. Às vezes nem ela parecia saber o que queria, o que só me confundia mais. A protagonista não é uma mulher marcante à la Silk Smitha, mas foi esta normalidade que me deixou ainda mais intrigada pela história — aquela ali poderia ser qualquer pessoa. Ela começa tudo parecendo uma mulher divertida, discutindo numa mesa de bar. Mas a promessa não se mantém. Para um filme que se propôs a falar sobre imprevisibilidade, é coerente mostrar alguém sem uma personalidade previsível. Ver a Mrinalini e passar todo o tempo tentando desvendá-la me lembrou esta sensação de desconhecido que venho sentindo ao olhar para as pessoas.


Talvez Iti Mrinalini só tenha sido uma boa experiência porque o meu contexto e o meu momento pediam por algo como ele, que me oferecesse muitos elementos para refletir e deixasse as respostas (ou pelo menos as tentativas) comigo. E tudo é contextual quando se trata de ver filme. As atuações da Konkona e da Aparna estavam ótimas, mas não devo deixar de mencionar dois atores que muito me encantaram: Koushik Sen e Ananya Kumar-Banerjee. O primeiro estava simples e encantador como o sensível escritor Chintan e a segunda estava adorável como a esperta Sohini. A história dele renderia outro filme e ela merecia um pouco mais de atenção do roteiro, pois se mostrou uma criança muito livre e fiquei curiosa por saber como se desenvolveu para ser assim. Quase achei que forçaram em sua personagem, mas fez sentido quando lembrei que as pessoas não são iguais.


Recomendo o filme, apesar dos apesares.Não é o melhor da Aparna, mas é muito bom e material para reflexão sobre a vida é o que não falta. Para quem estiver precisando disto, aí está a dica.
Uma das minhas atividades favoritas referentes ao blog é ficar vendo as pesquisas que trazem as pessoas ao Deewaneando. Costumo contar de uma ou outra por aí, então hoje pensei que seria legal compartilhar várias aqui mesmo, até aproveito para arquivá-las. Poucas são realmente interessantes, mas o que me intriga é como vieram parar aqui. E vamos aos curiosos!

Estas pesquisas foram feitas no período de 01/02/2012 a 29/02/2012.

● casal no mar em preto e branco

Hum...sei lá. Tem este.


● como se vingarde um homem que nos tri

Acho que seria "como se vigar de um homem que nos traiu". Hum...que tal obrigá-lo a ver Saathi pelo resto da vida?

Ou só vire a página e vá ser feliz, amig@!


● why this kolaveri di tradução

Isto vai me traumatizar. Quando faço um post não-planejado, pouco refletido e corrido para ver se finalmente paro de pensar em algo, ele vira o mais lido do blog! Vou parar de me esforçar, hein?

● always rebelde que da pra entrar na piscina

Que???

●  amigo tai a razao pelo qual agnt e amigo se num asha

Isso é um pagode? Fiquei curiosa: qual é a razão pela qual a gente é amigo? o.o

● as crianças mais feias

Tem ranking? Que sad. Mal entramos no mundo e já somos encaixados no padrão de beleza. Liguem não, crianças mais feias!

●  amigos desde infancia

Alguns dos melhores ♥

● casamento da katrina kaif

Nem tão cedo, amig@. Kat ji vai aproveitar sua vida de solteira o tanto que puder, anote aí!

● clip quarto branco com uma arvore 

O mais perto que já vi disto foi o Mujhe Kuch Kehna Hai do Bobby. Já foi meu Clipe do Dia.

● clipe em que mausam quer mostrar a musica punjabi

É Sajh Dhaj Ke, pessoinha sweeta. Post aqui.

● como se cadastrar no taxi de graça da jhonny wallker

Informações aqui.

● como é boa nossa empregada

Aumentem o salário dela, que a moça merece.

Obs: o tal filme parece estranhíssimo.

●  filmes indianos ponograficos 


Nunca vi, mas não há demanda pornô que Makin' Vindaloo não supra.

● filmes indianos romanticos

Você quis dizer: 80% dos filmes indianos.

● meus padrões para filmes aumentaram?

Por experiência própria: se você começa a se fazer esta pergunta, a resposta é sim.

● o que significa kolaveri kolaveri di

¬¬

● os primeiros filmes de amithab bachan 

Quem é você, pessoa linda? Adoro os primeiros filmes dele! Mujhse dosti karoge? :D

● posição preferida mulher

Cada uma tem a sua. 

● se nada é certo ja estou acostumada

Que coisa triste.

Caso apareça mais alguma coisa legal no mês que vem, faço outro post!


Hoje é o fim da Semana do Poder Feminino e Dia Internacional da Mulher. Muito assunto para falar, mas sinto vontade de ser mais pessoal neste post.

Esta semana foi muito além do que eu imaginava ou planejava. Como falei na abertura, vai fazer pouco tempo que me assumi feminista e passei a me importar com questões de gênero. A decisão de fazer esta semana exatamente de 1º a 8 de março foi tomada há meses, porque eu sentia necessidade de fazer aqui algo que marcasse este novo momento da minha vida. Só que eu não tinha as meninas aqui comigo, e é incrível como o coletivo torna as coisas mais fortes.

Alice, Sara, Marina, Simone: muito obrigada pelas inboxes com suas milhões de conversas sobre tudo que era assunto. Feminismo, machismo, tutoriais de Blogger, odes à Shabana Azmi e Smita Patil, reflexões sobre amizade...teve de tudo. Confesso que imaginava todas desanimando da ideia assim que os posts começassem, porque depois da Semana Nutan percebi que esses especiais não são lá muito fáceis de manter. Mas acredito que tenha dado certo por causa da nossa união e vontade de fazer a coisa funcionar e proporcionar muitas discussões. Como dito em um texto que a Alice postou, "Eu sou, porque nós somos!".

Moças (porque só havia meninas) dos comentários: vocês arrasam. Em todos os blogs se via que o pessoal estava pondo a cabeça para repensar personagens de filmes já vistos e conhecer os novos. Se fosse para dar um prêmio de comentários aqui no Deewaneando, acho que eu daria para os comentários do post sobre Band Baaja Baaraat. Nunca se refletiu tanto sobre Shruti Kakkar no nosso meio! E as discussões não se resumiram só à caixinha de comentário, houve muito papo nas inboxes. Gostei demais. Por falar nisto, queria pedir um retorno de vocês: poderiam dizer do que gostaram e não gostaram? O post mais legal e o menos, os motivos, as discussões mais interessantes, algo com que não concordaram, etc. Sei que estamos cansadas, mas seria muito bom se vocês pudessem contribuir!

Sobre a mulher: ficou mais forte em mim a impressão de que há gente disposta a colocar em questão o papel social da mulher no cinema indiano. É algo comum em filmes do cinema paralelo, como Fire, mas escrever sobre obras comerciais como Chak De! India me fez ver que nem todo o mundo está dormindo para estas questões no cinema comercial, que tem maior alcance. Helen seja louvada! Ou melhor, Shabana Azmi seja louvada!

Que os próximos Dias Internacionais da Mulher sejam como foi o deste ano: muitos posts, discussões, consciência de que hoje é um dia de alerta para a desigualdade de gênero ainda tão presente no nosso mundo. E vamos lembrar sempre que chega dessa história de superpoder, queremos só poder feminismo mesmo. Poder de falar, trabalhar, estudar, andar por aí, fazer o que quisermos com os nossos corpos. Poder de viver, não apenas sobreviver.

Todos os posts da SPF:

-Deewaneando
Abertura
Band Baaja Baaraat
Chak De! India
Fire
Astitva

-Ásia: Sonhos de Menina
Abertura
No One Killed Jessica
A Mulher Coreana
Aaja Nachle
Fashion
A Mulher Japonesa
A Mulher Chinesa
Paheli

-Pyaari India
Veer-Zaara
Mother India
Aaja Nachle
Dia Internacional da Mulher

-Descobrindo a Índia
Abertura
Arth
Smita Patil
Smita Patil - A Guerreira

-Radha Raman
Cinco Mulheres Indianas Influentes
As Verdadeiras Mulheres Indianas
Madre Teresa de Calcutá

Semana do Poder Feminino - Post # 4

Personagem do dia:

Aditi


O último filme a ser comentado aqui no blog no final da Semana do Poder Feminino tinha de ser especial, forte, impactante, totalmente voltado para a mulher e seu poder. Tinha algumas opções, mas simplesmente não conseguiria me perdoar caso não falasse de um dos filmes mais importantes já feito sobre o machismo na Índia, Astitva, que inclusive recebeu o National Film Award de Melhor Filme Marathi. Vejam só, que beleza: além de falar de um filme bom, ainda vai ser a primeira obra marathi do Deewaneando. E só para marcar, antes que eu me esqueça: este filme tem um dos melhores discursos finais da história.

Vou contar coisas que não sei se consideraria spoilers. É que para este tipo de filme, acho que os acontecimentos não são tão importantes quanto a discussão que podem suscitar. Sendo assim, leia quem quiser, certo?

Escrito e dirigido por Mahesh Manjrekar, o filme nos conta a história de Aditi (Tabu), uma dona de casa casada com o empresário Shree (Sachin Khedekar). Os dois tem apenas um filho, Aniket (Sunil Barve). A família vive há anos com Aditi cuidando da casa e da família, enquanto os homens trabalham. Um dia, recebe uma carta informando-a de que havia herdado uma grande fortuna de seu ex-professor de música. Seu marido fica intrigado com a situação e ao ler os diários que escreveu ao longo dos anos, percebe que talvez Aniket não seja seu filho. A confirmação da desconfiança leva à uma ruptura na família e à reflexão sobre Aditi e seu papel como esposa, mãe e mulher.


Quando Shree trabalhava incessantemente para começar sua própria empresa, Aditi passava meses sozinha em casa. Sentia vontade de trabalhar, mas seu marido não permitia que o fizesse pois todas as mulheres de sua família haviam sido sustentadas pelos maridos. Ao voltar de suas viagens, às vezes não fazia o mínimo esforço para dar atenção à esposa. Aditi se sentia solitária, abandonada. Neste contexto, cometeu um pequeno deslize que trouxe grandes consequências para a vida familiar. Traição é um assunto sério e cabe a cada um decidir se é perdoável ou não, mas um ponto é fundamental para analisar a história: Shree já fez a mesma coisa com Aditi, e várias vezes. Entretanto, segundo o próprio, ele é homem. É diferente. Ou seja, seu desejo é mais intenso e incontrolável que o de sua esposa, que tinha o dever de permanecer fiel e esperá-lo pelo tempo que fosse necessário.

Com o passar dos anos, Aditi ficou apagada - efeito conseguido pela grande atuação da Tabu, alternando entre expressividade e inexpressividade quando necessário. Ao receber uma carta, era o marido quem a abria. Nos primeiros minutos de filme, só é possível conhecer mais dos outros personagens, já que a mesma raramente se manifesta. É como se não fosse possível distingui-la da paisagem familiar, como se fosse apenas mais um adorno da casa ou um eletrodoméstico. Ficar em casa não foi sua escolha, mas o que o marido decidiu ser sua função. A personagem fica em contraste com Meghna (Smita Jaykar), esposa de Ravi (Ravindra Mankani), melhor amigo de seu marido. Meghna é divorciada e seu ex-marido era tão machista quanto Shree, o que a faz reconhecer sua índole logo de cara. É ela quem traz ideias de emancipação para Aditi, insistindo com esta que deve ser independente, fazer algo. Pessoalmente, não acho um problema uma mulher ser dona de casa caso assim o deseje, até porque é um trabalho que cansa como qualquer outro. Como este não foi o caso de Aditi e Meghna passou por situação parecida, talvez por isto quisesse que a amiga também buscasse a liberdade.

Sim, um dia ela teve vida.

No momento em que a bomba familiar explode, a reação mais impressionante é a de Aniket, que chega a chamar a mãe de vadia. Por um evento que, apesar de grande, é isolado, marido e filho esqueceram os 27 anos de dedicação exclusiva de uma mulher à sua família. Isto mexeu muito (até demais) comigo. A Psicologia, feliz ou infelizmente, me deixou mais reflexiva a respeito das pessoas. Não consigo mais colocá-las numa linha reta, com bom e mau em cada ponta e cada uma só podendo estar em um lado. Aditi teve um comportamento moralmente questionável, mas quem foi que decidiu o que é moral e, mais importante: as atitudes do marido e do filho permitem que sejam os juízes? A vida é bem mais complexa do que gostamos de assumir. *Carol reflexiva* Uma pessoa boa que comete um ato ruim merece ter seu histórico levado em consideração ou já vai para o outro lado da régua bem-mal do Sr. Shree? Não suporto saber que por aí há pessoas como Aditi, tendo suas vidas decididas por esses machistas que decidem estender para o mundo as leis limitadas de suas mentezinhas pequenas.

Outro ponto importante trazido pela reação de Aniket foi a ideia de que toda uma geração pode estar em transformação, que ainda não será muito difícil alguém dela ser contaminado por valores arcaicos que diminuem o outro. Noivo de uma moça moderna e independente, ainda assim Aniket tratou a mãe como fez o pai, um homem com uns 40 anos a mais e vindo de uma geração muito diferente. Isto me lembra uma discussão sobre tradição que tive com a Jo a partir de um comentário feito por ela no post de Fire. A antiga geração tem muito a ensinar à nova, mas é por estes pontinhos absurdos que afetam negativamente a vida de tantos que às vezes um jovem de hoje age exageradamente e não quer ouvir nada da sabedoria dos que vieram antes. Pode ser por medo de se tornar um Aniket, moderninho só até a segunda página. E também pode ser que eu já esteja viajando demais.

Passamos quase todo o filme conhecendo a história de Aditi, vendo o que a levou a fazer tudo aquilo e, pelo menos no meu caso, pensando no quão injusto é que mais de 20 anos de dedicação de uma pessoa sejam destruídos em 2 segundos de confissão. Talvez esta redução da história de vida dela a ações específicas que podem ou não ser consideradas aceitáveis seja o mais humilhante para Aditi. Shree ainda tem sua empresa, sua independência, seu mundo fora de casa. Já ela teve todo seu mundo tirado de si sem nenhuma possibilidade de argumento, como se aquilo não fosse nada. Pelo menos uma coisa boa saiu disto tudo: com o que sabia sobre si destruído, finalmente Aditi foi buscar sua astitva, sua identidade.
Semana do Poder Feminino - Post # 3

Personagens do dia:

Radha e Sita




Fico me perguntando:

- Mas Carol, não tinha filme mais fácil para discutir, não?

Mas Fire me persegue...que fazer? Escrever e diminuir isto, oras. Pois, vamos lá. Este complexo filme dirigido pela competente Deepa Mehta nos traz a história de Radha (Shabana Azmi) e Sita (Nandita Das). Sita é a jovem esposa de Jatin (Javed Jaffrey), um rapaz que só se casou pela pressão de seu irmão, Ashok (Kulbhushan Kharbanda). Tudo o que interessa a Ashok é sua amante chinesa e a locação de filmes pornôs que faz, demonstrando interesse pouco ou nulo em sua esposa. Quanto a Ashok, há anos fez um voto de castidade influenciado por Swamiji (Ram Gopal Bajaj), seu guia espiritual, não se importando com o que isto significa para sua esposa, Radha. Sita não se conforme com esta vida medíocre e vai lentamente alertando Radha para novas possibilidades de vivência do papel de mulher. As duas vão se aproximando e se apaixonando...e a partir daí, sabemos que as coisas só tem como ficar mais difíceis.


Vejo Sita como aquele sopro de novidade da nova geração adentrando a vida de sufocamento levada por Radha, da antiga. Quando se está sufocando, um pouco de ar que seja pode representar a vida. Ela não é totalmente rebelde, porém seus pensamentos soam muito revolucionários numa casa tão retrógrada. Sita espera mais da vida, além de cuidar de Biji (Kushal Rekhi), a sogra doente, e ter um filho para se entreter, como sugerido por Jatin. Ela gosta de secretamente vestir sua calça comprida e dançar, brincar, sorrir, sentir prazer. Nandita Das consegue transmitir bem a inquietude que a moveJá Radha sente as mesmas necessidades, porém foi sendo levada pelos acontecimentos e habituou-se a se reduzir ao papel da esposa boa e submissa. É no contato com Sita que se percebe enquanto pessoa. 

A aproximação que acontece entre elas me deixou confusa quando assisti ao filme pela primeira vez. É um perigo que a diretora correu, mas facilmente tem-se a impressão de que o carinho que as foi aproximando e que depois se tornou amor foi apenas devido a não terem isto dos maridos. Explico: o risco de alguém interpretar a história como "as mulheres viram lésbicas se os maridos não lhes dão atenção" é grande, especialmente se for vista por quem tem pouco esclarecimento sobre questões sexuais. Foi mais ou menos esta a impressão que tive na primeira vez. Revendo-o, notei que o primeiro passo da aproximação foi dado por Sita, o que me faz acreditar que ela já tinha consciência de sua atração sexual por mulheres. A novidade vinha para Radha, que já havia se perdido de si mesma nos mais de dez anos de abstinência sexual do marido. Esta abstinência ainda tinha um toque especial de crueldade para com Radha: com a função de provar sua força de vontade, Ashok pedia para que Radha ficasse deitada ao seu lado toda vez que sentia desejo por ela. Quando o "ritual" tinha fim, ele a agradecia por ajudá-lo em seu caminho espiritual, ao que ela prontamente voltava para sua cama. O que o corpo de sua esposa pedia não tinha importância alguma, se é que ele acreditava que ela tinha algum desejo sexual a ser saciado.




Radha. Se tivesse perfil no Orkut nos tempos áureos do site, Shabana Azmi seria aquela pessoa cheia de depoimentos começados por: "O que posso falar de Shabana?". Ela é sempre sensacional, daí quase não se sabe o que comentar. No primeiro momento, em que Radha ainda está fragilizada, seu corpo parece agir automaticamente, seus movimentos são lentos e seu rosto parece conformado, até mais do que desanimado. Ela tem olhos de uma pessoa sem perspectiva, agindo como acredita que uma boa esposa deva. Quando passa a descobrir o corpo de Sita e deixá-la descobrir o seu, aqueles olhos tão expressivos de Shabana finalmente passam a ter vida, ela consegue ver o oceano. E o relacionamento das duas é mais do que sexual. Elas conversam, se importam uma com a outra, brincam. Como o filme tem cenas explícitas de beijos e carícias entre as duas, às vezes estes doces momentos íntimos de intimidade podem não ser notados. Entretanto, eles são essenciais para entendermos que sim, as duas despertaram a sexualidade uma da outra, mas também construíram um amor, que era o que mais lhes faltava. É por causa da força deste que Sita não permite mais que seu marido simplesmente suba em cima dela sem aviso e faça sexo como e quando quiser, sendo também por ela que Radha um dia nega "ajuda" a Ashok em seus momentos de resistência à tentação. Juntas, vão aumentando sua consciência sobre si mesmas e se valorizando. É, porque se valorizar também é fazer com seu corpo o que você bem entender e sentir vontade. Na minha nova visão feminista.


Há dois personagens muito interessantes no filme: Biji e Mundu (Ranjit Chowdry), a matriarca da família e o empregado que ajuda no restaurante. Biji não consegue falar, apenas tocando seu sino quando quer alguma coisa. Sua personagem representava para mim apenas alguém apegado à velhas tradições, mas esta análise trouxe uma visão muito mais interessante e rica:

"Ela é um potente símbolo da Velha Índia - enrugada, muda, indefesa, cuidadosamente vestida e empoada todos os dias, e carregada pela sala com um ridículo sininho em sua mão, o qual carrega para indicar incômodo ou necessidade. Biji é a lamentável, absurda forma que toma a tradição quando uma mulher viva * e moderna como Sita chega com suas novas ideias." [Tradução livre]

Gostei muito desta abordagem da Biji como um símbolo de uma Índia ainda retrógrada. Perto dela está Mundu, o empregado que fica assistindo a filmes pornôs e se masturbando na frente da idosa, enquanto ela desesperadamente tenta gritar, sendo impedida pela sua mudez. A partir da análise acima, vejo Mundu como o fracasso desta Índia que tenta sufocar o ser humano que deseja, finalmente tendo esta mesma Índia que encarar aquilo que filmes como The Dirty Picture vem mostrando: as pessoas satisfazendo suas necessidades sexuais como podem, escondidas, como se fosse algo sujo.


Fire causou uma grande comoção na Índia, tendo até mesmo protestantes invadindo salas de cinema e propagando sua intolerância. Absolutamente tudo neste filme é motivo de polêmica, desde a relação entre as personagens principais até o fato de seus nomes serem os mesmos de personagens importantes da mitologia hindu. Descobri na Wikipedia que Dilip Kumar e o Mahesh Bhatt apoiaram a exibição do filme, o que aumentou meu respeito pelo primeiro e diminuiu meus problema com o segundo (aquela mesma questão de eu me irritar por ele ficar fazendo filmes sobre a vida da Parveen Babi). Quanto ao filme em si, é um dos mais sensíveis e corajosos que já vi na Índia, cumprindo o propósito de desmitificação da figura feminina que tanto me interessa esta semana (e sempre). São poucos os filmes indianos que assisti a trazerem um tratamento um pouco mais cuidadoso da homossexualidade, apesar dos perigos de interpretação a que me referi antes. Seja como for, é um filme com capacidade rara de só proporcionar discussões importantes e altamente necessárias: seja sobre a homossexualidade, desejo, papel social da mulher, obrigações familiares, ou, como estamos vendo agora, poder feminino.  Ou alguém aí ainda duvida que aquelas duas exigiram para si o direito sobre suas próprias vidas?
Semana do Poder Feminino - Post # 2

Personagem do dia:

Seleção Feminina de Hóquei

...ou as Chak De! Girls


Meu primeiro filme indiano foi com o Shahrukh Khan. O segundo também. O terceiro e o quarto não foram, mas dos dez primeiros, seis eram com ele. Com este momento estatístico quero mostrar como ele é uma das minhas mais importantes referências em cinema indiano. Céu, terra, tudo era SRK para mim! Assisti a Chak De! India naquela época e o filme imediatamente tornou-se um dos meus favoritos. Costumava dizer que era a prova de que SRK não precisava de heroína nenhuma para fazer um filme incrível. Será que eram os hormônios dos 17 anos? Porque agora, aos 20, nunca me senti mais equivocada. Ao revê-lo, parece que vi um filme vinte vezes mais potente que aquele já conhecido por mim. E com mais heroínas do que o habitual.

Shahrukh Khan está lá, tão forte quando me lembrava. Só que desta vez vi mais - 16 vezes mais. Opa, são 16 mesmo? Além do Kabir Khan, ex-jogador de hóquei injustamente acusado de favorecer o Paquistão na final do Campeonato Mundial e condenado ao ostracismo esportivo, havia as garotas. Uau, as garotas! Sinto que eu não conseguia vê-las tão grandes quanto são.

"As garotas" são a Seleção Feminina de Hóquei, Seleção esta na qual ninguém acredita - nem suas famílias, nem o Ministério do Esporte. E nem elas mesmas acreditam, pelo menos não no conceito de "Seleção". Individualistas e vaidosas, cada uma valoriza tanto o que conquistou em sem seu time estadual que esquece de olhar para o lado e ver o talento da outra. É no desenvolvimento do espírito de equipe que Kabir aposta todas as suas fichas e a esperança de refazer seu nome no esporte.


Durante todo o tempo são ditas frases que transmitem o pensamento de muita gente: mulheres devem ficar em casa, hóquei não é um esporte importante, elas não irão a lugar nenhum. O namorado de Preeti (Sagarika Ghatge), uma das jogadoras, também pensa assim. Jogador de críquete, esporte mais importante da Índia, trata a carreira da namorada como um capricho e se incomoda com o modo como este capricho atrapalha-a a fazer o mais importante: suas vontades, claro. Até porque o que ela quer tem relevância nula na visão dele, que deu passos importantes como pedir sua mão ao seu pai e marcar a data do casamento sem informá-la. Olha que coisa maravilhosa: ela vai ser esposa de um grande jogador de críquete, não é sensacional? Para Preeti, o hóquei é aquilo que sabe fazer de melhor. Sua posição na Seleção foi conquistada com esforço próprio. Mesmo ainda não conseguindo se impor totalmente, faz questão de se dedicar àquele seu pontinho de autonomia, pontinho este que cresce juntamente com sua confiança enquanto esportista e mulher.


A situação é ainda pior para Vidya (Vidya Malvade), a competente goleira do time. Quando se casou, a família de seu noivo não apenas já sabia de sua profissão, como também estava muito feliz com os benefícios sociais (como moradia) por ela proporcionados. Entretanto, assim que Vidya se ausenta de casa para os treinos da Seleção, logo começam as cobranças: por que não está em casa para um casamento que haverá na família, cumprindo com seu dever de esposa e nora? Sua carreira só tem relevância para eles quando lhes traz vantagens. A partir do momento em que a impede de agir como o papel social da mulher exige, tudo de bom trazido pelo hóquei desaparece no ar. Vidya, a goleira, para eles não parece fazer parte de sua identidade enquanto mulher. Por sorte, a serenidade e clareza de pensamento de Vidya fazem com que permaneça firme em sua decisão de se dedicar ao esporte, sem maiores dramas. Seu treinador nota estas características e não é por menos que a nomeia capitã do time, para desgosto de Bindya (Shilpa Shukla) e seu bando.

Bindya e sua expressão habitual. Komal fofa lá atrás!

Bindya é uma das personagens mais importantes do filme. É invejosa e altamente egocêntrica, acreditando que sua história no esporte a faz mais importante que as outras. Deseja ser a líder e a todo momento instiga as outras contra o treinador, que não hesita em tirá-la do jogo caso seu ego esteja atrapalhando o treino. Erra feio, julgando mal a escolha para capitã de Kabir. Acredito que seja uma personagem fundamental por cometer tantos erros e principalmente, por sua guerra contra as outras ser no âmbito profissional. Se o time fosse composto só por boas mocinhas lutando contra o mal, soaria artificial demais. Bindya e suas colegas mostram o óbvio: nem toda pessoa é doce e maravilhosa e há mulheres que invejam outras por suas conquistas profissionais, não por uma suposta inveja que toda mulher sentiria da outra. Em nenhum momento vemos Bindya reclamando que outra é mais bonita, tem um namorado melhor, isso ou aquilo. Ela se acha a melhor e mais experiente jogadora de hóquei e quer ver todos respeitando esta tal hierarquia. Bindya é real.

Há muitas outras com diversas histórias e questões próprias. Fiquei me perguntando quem seria minha favorita e a resposta foi fácil e dupla: a centrada Vidya e a espevitada Komal (Chitrashi Rawat). Sou pequena, apesar de não tanto quanto a Komal. E o ridículo motivo de eu gostar tanto dela é essa identificação por tamanho. Sério. Não tenho como não me sentir ligada ao ver aquela moça pequena cercada por gente alta. E o melhor: sem dar a mínima para isso. Komal é muito divertida, além de uma das melhores atacantes.


Saindo um pouco da análise das meninas e partindo para o técnico Kabir Khan, seu trabalho ser voltado para construir uma identidade de time foi sensacional. Foi o primeiro filme indiano onde tive mais contato com um certo clima separatista existente entre os vários estados do país. Cada uma se identifica com seu próprio lugar de origem, enquanto Kabir se esforça para lhes mostrar que antes de tudo estão ali para lutar pela Índia - não por Andhra Pradesh, Haryana ou Manipur. Há algumas que apenas falam línguas que as outras nem entendem, outras que fisicamente parecem nepalesas e são "tratadas como estrangeiras em seu próprio país", como disseram as próprias. É toda uma montanha de coisas a se derrubar - ou ao menos contornar - para se montar um time vencedor. Kabir é implacável na busca deste objetivo, fazendo-as treinar arduamente. Neste ponto não sabia se ficava incomodada ou não porque ao mesmo tempo em que aparentava ser do que elas precisavam para se unir, ele deu pouca atenção até à uma jogadora que desmaiou durante os treinos. De todo modo, o mais encantador no personagem é a fé que deposita naquelas meninas, e seu modo de demonstrá-la é mais prático que verbal: trata-as como as atletas competentes que são e  acredita que não devam ser protegidas ou diminuídas por serem mulheres. Não faz grandes discursos, o nosso Kabir. Afinal, não há muito tempo a perder. Grande personagem do Shahrukh Khan, um dos meus favoritos dele! Sério, seguro, até mesmo um pouco ranzinza, mas isto se justifica por tudo o que treinar aquele time representa em sua vida. Nem a famosa tremedeira shahrukhaniana faltou.



Badal Pe Paon Hain e a animada Chak De! India são minhas canções favoritas da trilha, composta por Salim-Sulaiman. A primeira é a que mais gosto porque me acostumei a ouvi-la - o modo aleatório no Media Player pode ser responsável por vários favoritismos. Também gosto muito de Bad, Bad Girls porque tenho uma queda por músicas da Anushka Manchanda, a melhor para músicas mais modernas e com um toque ocidental.

O modo como Chak De! India se desenrola não tem nada de surpreendente, levando-se em conta como filmes de esportes costumam ser. Muita superação, motivação e jogos emocionantes. Um belo trabalho do diretor Shimit Amin e do roteirista Jaideep Sahni (descobri que ambos também escreveram e dirigiram Rocket Singh - fiquei fã!). Confesso que gosto do gênero, mas este é o único filme nestes termos que conseguiu ser meu favorito. Não por trazer algo de muito original, mas por ter a ousadia de colocar em contexto indiano uma história em que o esporte é utilizado como meio para proporcionar a autonomia feminina. Aproveitando a oportunidade para cair num clichê que infelizmente ainda se faz necessário, sustento que cada vez mais temos de encontrar meios de empoderar as meninas, garotas, mulheres ou como queiramos chamar. Ao contrário da Beyoncé, não acredito e nem desejo que as garotas mandem no mundo. Elas mandando em suas vidas, já está de bom tamanho para mim. 
Semana do Poder Feminino - Post # 1

Personagem do dia:
Shruti Kakkar



Estou um pouco nervosa em relação a este texto. Primeiro, porque tenho que explicar o porquê de achar que merece estar na Semana do Poder Feminino. Segundo, porque foi um dos poucos filmes que amei tanto ao ver que já revi no dia seguinte, coisa que só acontece com pérolas como Amar Akbar Anthony e 3 Idiots. E terceiro, porque Shruti Kakkar é uma das minhas personagens favoritas no cinema indiano.

Pois bem. A estreia do diretor Maneesh Sharma, Band Baaja Baaraat, nos apresenta Shruti Kakkar, a melhor personificação da tal mocinha alegre, falante e cheia de vida da Anushka Sharma. A moça está se formando na faculdade e sonha em abrir sua própria agência de casamentos, que já tem até nome: Shaadi Mubarak. Conhece Bittoo Sharma em um casamento no qual trabalha como assistente e sua primeira impressão dele não é lá das melhores: penetra, bagunceiro, metido a esperto, infantil e ainda fica flertando com ela. Pouco depois ele descobre sobre os planos da agência de Shruti e dá pouca importância à ideia, só voltando à sua mente em um momento de desespero no qual grita ao seu pai que não voltará para trabalhar com ele na fazenda porque tem o grande plano de abrir uma agência de casamento. Shruti inicialmente o corta de seus planos, mas acaba percebendo que podem formar um grande time. Sua única exigência é que ele não tente misturar amor com negócios, o que é tranquilo para ele. Mas aí a coisa muda de figura quando ela se vê apaixonada.

Shruti curtindo o papo.

A sinopse parece ser de um romance qualquer, não é? E BBB talvez não passe muito longe disso. Mas na minha vida e aos meus olhos, o impacto de Shruti Kakkar foi enorme. Em primeiro lugar, ela não era daquele tipo clássico de figura feminina sem interesse por romance que tantos filmes mostram: estúpida, nerd, no fundo sonhando com um príncipe. Ela é uma moça alegre e bem resolvida; não querer misturar amor e negócios foi uma conclusão lógica a que chegou. Quando mais tarde se vê apaixonada pelo sócio, assume uma atitude muito imatura nos negócios, não conseguindo conviver com ele e sendo a principal responsável pela destruição de tudo o que construíram. Foi neste ponto que a personagem me encantou: ela estava errando, manifestando em um contexto muito mais sério a imaturidade que tanto acusava Bittoo de ter. Daí ela passou de alguém preso a um filme para uma pessoa possível de existir, passível de cometer erros como eu ou qualquer amiga minha. O erro é fundamental para eu me identificar. Nunca se vê nada de errado na doce moça da aldeia ou na deusa-mãe, mesmo que elas claramente façam coisas absurdas como dizer ao filho bom que o problemático sempre foi seu favorito.

Ela se transforma e vê o mundo diferente.

Também se decepciona.

Chora, se martiriza, muda. É humana.

Há mais para me fazer acreditar na Shruti, além dos seus erros. Um aspecto curioso de sua relação com os pais é que eles querem acima de tudo que a filha se case, apesar de darem todo o apoio necessário para seu desenvolvimento profissional. Como a própria diz em um momento, eles querem que ela se estabeleça, sendo o casamento a ideia de segurança e estabilidade que sua criação e geração tem. O mais interessante é que todos parecem entrar em uma espécie de acordo: ela é livre para montar sua empresa e ir trabalhando em seu sucesso, desde que se case após alguns anos com quem quiser. Ela cede, eles cedem. Para mim não é o ideal, porém parece algo muito honesto. Não sei como são os pais nas grandes metrópoles indianas, mas esse meio-termo que eles encontraram soa como uma conciliação entre as crenças dos mais velhos e as necessidades da jovem indiana atual. Talvez eu não acreditasse tanto se eles apenas aceitassem tudo o que ela propôs e nunca sugerissem casamento. O mais bonito da relação, além do respeito mútuo, é ver que a família claramente se orgulha das conquistas da filha e acredita nela; não encaram sua vida profissional como apenas um capricho até o matrimônio. Eles vão ao primeiro casamento organizado por ela e ficam maravilhados, também ficam felizes com o carro que consegue comprar. Apoiar é bem mais que apenas tolerar.

Pai fofo!

É por tudo isto que acredito na Shruti e penso que ela deve ser uma das personagens desta semana. Ela faz escolhas e arca com suas consequências, é uma mulher que tem nas mãos o controle de sua vida desde cedo. Não é todo dia que vemos uma personagem assim no cinema comercial. Pois bem, além de a personagem em si já ser sensacional, ganhou toda esta dimensão graças à bela atuação da Anushka. A cena em que ela chora após se decepcionar com Bittoo está na minha lista de favoritas, é tocante e suas lágrimas são tão sinceras que machucam. Vou me repetir, mas é necessário: ela brilha. Para mim, BBB não teria nem 80% de sua graça sem Anushka.

Tudo muito bonito e muito poder feminino rolando, mas há alguém chamado Bittoo Sharma gritando "Ei, também estou no filme!". Enquanto primeira atuação do Ranveer Singh posso afirmar que fez um bom trabalho, especialmente nas expressões de moleque que acredita estar no topo do mundo. E o garoto sabe dançar, Helen seja louvada! BBB é um desses filmes raros que mostra duas pessoas diferentes se conhecendo, trocando experiências e completando as faltas do outro com suas qualidades. Shruti sabe como Bittoo é e se diverte com ele. Ele gosta mais de arriscar (até nos negócios), enquanto ela tem o pé no chão. É a ousadia dele que os permite dar o passo fundamental para sua agência crescer. Às vezes até fico com a impressão de que cresceram rápido demais em pouco tempo, aí lembro que não sei nada do mercado de casamentos e que é um filme comercial, então fica tudo bem. Sem contar que eles não fazem nada além de trabalhar incessantemente! Enquanto conversam e trabalham juntos, vemos crescer a relação de confiança e carinho entre eles, relação esta que lhes faz muita falta quando quebrada.

Bem-vindo a Bollywood, Ranvs!

Alerta de spoilers agora!

No meu primeiro contato com a história, não gostei da reação pós-sexo da Shruti. Me pareceu confirmar certos estereótipos de que as mulheres são mais românticas, coisa e tal. Entretanto, vi o filme mais vezes e mudei de opinião. Elas não aparecem, mas vez ou outra Shruti fala sobre garotinhas bobas com quem Bittoo sai. Enquanto ele tem uma vida amorosa ativa, o mesmo não ocorre com ela. Shruti é bem mais fechada emocionalmente, então a diferença entre sua reação e a de Bittoo vem muito mais do choque entre personalidades do que por uma suposta fragilidade feminina. Shruti sente que com ela não é como com as outras porque eles tem uma história juntos, uma cumplicidade, uma confiança, tanta coisa! Pode soar estranho, mas ela foi corajosa em abraçar sua recém-adquirida vulnerabilidade. Shruti se abriu para coisas que iam totalmente contra seu plano de vida, para alguém que ia contra tudo o que queria num parceiro ideal.

Quanto ao Bittoo, realmente não o culpo por não se sentir do mesmo modo. Se há algo pelo que os dois merecem um tapa é por não terem conversando abertamente sobre o acontecido. Mas havia tanta coisa em jogo, não me admira o pavor - principalmente dele - de estragar tudo.

Fim dos spoilers!


Uma vez estava conversando sobre toda a situação dos dois com a Lilian e a Jo, amigas da QCINB. A Lilian disse estar cansada dessas histórias em que a mulher é supostamente mais sensível que o rapaz e decide "esperar" até ele também perceber o amor que ela já havia visto. Provavelmente é meu intenso amor pelo filme que me faz ver diferente. Como já disse, em BBB muito é justificado pelo embate de personalidades. Ela percebeu que o que estava sentindo era mais forte que o normal porque a estava desfocando, coisa que não acontecia. Já ele, não acredito que tenha demorado para "notar" o amor. Minha teoria com BBB é de que ele realmente não a amava até mais para o final do filme, quando se reencontram e já estão mais cordiais. Acredito que o amor dele tenha começado a crescer a partir do momento da separação e eclodido lá no clímax adorável, enquanto o dela foi mais rápido e (um pouco) mais estável. Mas tudo é teoria. Como aconteceu quando vi Junoon (este filme é tão bom!), criei explicações e passei a acreditar nelas.

Ufa...chega dessa discussão amorosa toda, porque Band Baaja Baaraat é muito divertido! Tem cores lindas, fortes e menos incômodas que Ladies vs Ricky Bahl, combinando bem com o clima jovem e urbano da história. Espero que a pessoa que montou o figurino da Anushka cobre barato, porque vou pedir para montar uns para mim assim que me formar. Já o do Ranveer...deixa pra lá.


Trilha da dupla Salim-Sulaiman. Todas as músicas são ótimas. Meu primeiro amor foi Baari Baarsi, cantada por Harshdeep Kaur, Labh Janjua e Salim Merchant. A Anushka fez cada ação indicada pela música se expressar em seu rosto, não tive como não amar. Sabe a sensação de ver um clássico nascer? Então.

Ainvayi Ainvayi, cantada pela Sunidhi Chauhan e por Salim Merchant, é uma forte expressão da química do casal principal, juntamente com a também muito divertida (no contexto) Dum Dum, cantada por Benny Dayal e Himani Kapoor.

Falei em outro post sobre como estava desanimada com filmes indianos na época do lançamento deste. Não tenho problemas com clichês e previsibilidade, desde que me deem uma história envolvente e consistente. Mesmo sabendo que tinha o Habib Faisal - a quem venho idolatrando - como roteirista, não esperava nada de bom de Band Baajaa Baaraat. Até mesmo olhei com certo nível de desprezo quando vi que era da Yash Raj Films e tinha um estreante musculoso/filho de pai rico. Fico extremamente feliz em dizer que superou minhas expectativas e recebi um filme com uma leveza que não o impediu de ter uma boa base emocional. Se todo entretenimento for assim, já vou garantir minha estada por mais uns dez anos em Bollywood.

Vai fazer um ano que me assumi feminista. Culpa de blogs, livros, do meu histórico familiar, da vida.Talvez eu tenha assumido a posição rápido demais, mas foi o que senti ser certo e até hoje ainda não me arrependi.

Meu recém-chegado feminismo trouxe muita coisa, sendo uma delas um olhar diferenciado para o que estava recebendo dos filmes indianos. O machismo não estava presente apenas nos lugares óbvios - filmes em que a esposa apanha do marido e coisas do tipo. Havia mais escondido ali. Estava em todo marido que calava a esposa apenas com o erguer de um dedo, nas mulheres de trinta anos fazendo papel de mãe para homens com a mesma idade que a sua, num apaixonado que diz para a moça que ela é "como todas as outras garotas"  mesmo que aparentasse ser durona, no irmão dizendo ao outro que:

"Uma garota deixa tudo por você. Ela se comporta do modo que você quer. Em troca, ela pede apenas um pouco de amor."  (Hum Saath-Saath Hain, 1999. Legenda minha.)

Era tanta coisa que comecei a ficar zonza. É claro que eu já havia visto muitos daqueles problemas antes, mas não tão intensamente...e tão frequentemente. Porém, tudo isto trouxe uma coisa boa: me apaixonei pelas personagens fortes, poderosas. E com "poderosa" não quero dizer  assumindo o lugar de dominação do homem, jamais. Falo das que se colocam em posição de igualdade, que vão à luta. Aquelas que não se deixam prender na rede da "boa mulher indiana, deusa de seu lar". São as humanas: acertam, erram, tentam várias vezes, estão abertas às variadas possibilidades da vida. O poder aqui terá algumas definições que achei agora no Aurélio:

2. Ter força, ou energia, ou calma, ou paciência, para.
4. Estar arriscado ou exposto a.
6. Ter o direito ou a razão de.
7. Ter possibilidade.
11. Direito de deliberar, agir e mandar.

Este último é um dos mais importantes. Nesta Semana do Poder Feminino hoje iniciada falaremos de personagens no cinema indiano que tem direito de deliberar, agir e mandar...sobre suas próprias vidas, seus corpos, suas necessidades, seus sonhos. E olhem, não duvidem de que são pouc@s cineastas que se arriscaram a trazer personagens assim. Às vezes até há uma ou outra em papel secundário, mas filmes voltados para as mulheres e esse tal poder são raros e especiais. É para eles que direcionaremos nosso olhar.

Passei muito tempo em conversa com as outras blogueiras participantes do projeto e foi muito bom ver as divergências entre o que consideramos ou não poder feminino, machismo, força, entre outros conceitos que provavelmente jamais terão definição. Mas o importante aqui é a discussão, que se dará de hoje até 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Os blogs participantes são:

- Ásia: Sonhos de Menina, da Sara
- Descobrindo A Índia, da Simone
- Mania de Bolly, da Isa
- Pyaari India, da Alice
- Radha Raman, da Marina

Se alguém quiser se juntar a nós, será um grande prazer. E preparem-se, que há muito poder feminino chegando.
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"DEEWANEANDO"?

Devanear = divagar, imaginar, fantasiar. Deewani = louca, maluca. Deewaneando = pensar aleatória e loucamente sobre cinema indiano.

Meu nome é Carol e sou a maior bollynerd que você vai conhecer! O Deewaneando existe desde 2010 e guarda todo o meu amor pelo cinema indiano, especialmente Bollywood - o cinema hindi. Dos filmes antigos aos mais recentes, aqui e no Bollywoodcast, seguirei devaneando sobre Bollywood.

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