Zindagi Na Milegi Dobara (2011)



Se estiver carregando sua inquietude no coração, você está vivo.
Se estiver carregando a luz dos sonhos nos olhos, você está vivo.

Como uma brisa, aprenda a ser livre.
Aprenda a fluir como as ondas do mar.
Receba de braços abertos cada momento de sua vida.
Que cada momento o receba com um motivo para viver.

Se estiver carregando sua inquietude no coração, você está vivo. 
Se estiver carregando a luz dos sonhos nos olhos, você está vivo.


Javed Akhtar (traduzido por C. Rondinelli para a legenda de ZNMD)


Tenho uma certa paixão por mulheres diretoras no cinema indiano. Elas são poucas, mas conseguem fazer a diferença e me dão muito orgulho (go, girls!). A Zoya Akhtar já havia me conquistado quando destruiu meus sonhos dourados sobre o que seria Bollywood em  Luck By Chance. Não estava colocando muita fé de que fosse conseguir manter meu interesse com Zindagi Na Milegi Dobara, mas conseguiu ir muito além disto. 

O filme conta a história de três amigos: Kabir (Abhay Deol), um mauricinho que está de casamento marcado com a patricinha Natasha (Kalki Koechlin); Imran (Farhan Akhtar), o “palhaço da turma” que também tem seus fantasmas; e Arjun (Hrithik Roshan), o homem de negócios super ocupado que nunca tem tempo para os amigos ou para si mesmo. Os três combinaram ainda na época da faculdade que fariam juntos uma viagem à Espanha e decidem fazê-la como despedida de solteiro de Kabir. Cada um escolheu um esporte radical que deveria ser praticado por todos, mas os amigos só poderiam revelar cada esporte na hora de praticá-lo. Como era de se esperar, acontece toda uma jornada de autoconhecimento para os rapazes.


O que mais gostei em ZNMD é que uma história que não me surpreendeu em absolutamente nada me prendeu e emocionou muito. Vi a Zoya dizendo que aquele era um filme sobre pessoas, e é este o tipo de coisa pela qual me apaixono: gente errando, aprendendo, sorrindo, chorando, respirando, vivendo (quem está sempre por aqui sabe que fico brega muito facilmente). Fico encantada quando o cinema comercial consegue me fazer sentir ligada a personagens totalmente fora da minha realidade, acho até mais incrível do que quando o cinema alternativo o consegue – afinal, não é isto que este último tem que fazer? O comercial inicialmente só tem que entreter. Lá estava eu, me sentindo conectada a um cara que pode voar para a Espanha dando um ou dois telefonemas. Logo eu, que só saí do Rio para ir em Minas. De ônibus. 



E já que comecei por ele, continuemos falando do Arjun, o empresário certinho que só pensa em juntar muito dinheiro, não consegue viver o presente e nem manter relacionamentos. Normalmente não consigo me conectar muito ao Hrithik porque ele está sempre colocado em seu posto de deus grego (com o qual não concordo), mas o Arjun me encantou exatamente por tirá-lo de lá: ele estava deslocado em meio a toda aquela beleza da Espanha. Por isto, senti bem sua mudança ao longo do filme; já mais para o final aquele corpo parecia ter se ajustado ao lugar. Além da história pessoal do personagem, a ótima interação entre os três atores também fez muita diferença nessa sensação de não-pertencimento passada pelo Arjun. 

Minha questão pessoal com o Arjun é saber do que ele está falando. É irracional gastar tanta energia e se privar muito hoje por um amanhã incerto, mas é difícil sair disso depois que já se está lá, no meio da luta. É comovente quando percebe que há mais na vida do que imaginava. Sua relação com a instrutora de mergulho Laila (Katrina Kaif) ajudou neste processo. É clichê: moça que sabe aproveitar a vida ensina o valor de viver o presente para homem ocupado. Mas não é menos adorável por ser clichê! Estou amando a Katrina Kaif em papéis nos quais está mais natural. Ela ainda não é uma boa atriz, mas vejo-a como uma presença muito agradável na tela, sem contar que vem melhorando nos últimos tempos. Deve ser aquela mistura de beleza simples com papéis pouco desafiadores e algo mais...só sei que ando tentando me convencer de que não estou começando a amá-la. Pois bem, mais uma personagem economicamente estabilizada pregando o carpe diem. E eu adorei. A voz da Kat estava muito relaxada e tranquila, tão boa de ouvir! Queria ter uma amiga como a Laila.


Acho que o Imran sempre será o papel da vida do Farhan Akhtar. Tenho até a impressão de que aquele ali é o Farhar Akhtar, que aparenta ter uma clima meio troll. É um dos personagens de que mais gostei no cinema indiano recentemente, tudo nele é divertido: as piadinhas constantes, a sensibilidade escondida sem ficar caricato, a naturalidade ao se mover. E ele não apenas quer ser engraçado, como consegue! Sou muito fã do Farhan por sua carreira versátil (passo tempo demais em Wikipedias bollyoodianas), mas não esperava que pudesse segurar tão bem um personagem verdadeiro como tantos andam tentando compor. Como falei no início, Imran tem seus “fantasmas”; no caso, a vontade de conhecer o recém-descoberto pai verdadeiro. Ele é daquele tipo que está o tempo todo tentando se comunicar com os outros, mas deixa pouco espaço para que realmente o conheçam. 


Já Kabir tinha tudo para ser o mais sem-graça, mas é outro personagem tão sensivelmente construído que também acabou por ser incrível. Uma das coisas que mais gostei nele foi o fato de ter odiado a “nova personalidade” de Natasha após o noivado não apenas por ela estar se apoderando de sua vida, mas porque a mulher independente que era foi aquela por quem se apaixonou e de quem sentia falta. Não é só querer uma companheira que não se intrometa na sua vida, mas sim alguém com uma individualidade tão rica que sempre haverá novos aspectos interessantes para descobrir. Nem mesmo a Natasha ser tão perua fez com que o filme se desviasse de mostrar personagens bem humanos, vemos que ela tem um lado bom (e um engraçado também). Outro ponto muito legal do Kabir é seu caráter conciliador, procurando sempre manter a calma e um bom clima entre os amigos. 

She's a rock chick in a hard rock world.

A amizade como mostrada no filme é linda porque encara as diferenças existentes entre aqueles três perfis tão diferentes. Ela vai se desenvolvendo e amadurecendo de acordo com as descobertas feitas pelos rapazes. É muito comum filmes indianos tratarem de amizade masculina e o público adora, não é à toa que Sholay é o clássico dos clássicos. Mas de todos os que vi, ZNMD foi o que mostrou a amizade da melhor forma, até por ser da mais sincera. Um não diz que dará a vida pelo outro, mas certamente estarão presentes quando algum deles precisar. 

A trilha é uma beleza. A música mais especial é a divertida Señorita, com todo o seu clima espanhol embalando as vozes dos três atores, que realmente cantaram (mal). A mais doce é Khwabon Ki Parindey e também adoro Suraj Ki Bahon Mein, mas não não cliquem no link desta última se não tiverem visto o filme! É muuuito spoiler. A trilha é do trio SEL, que eu adorava nos meus primeiros filmes, caiu bastante no meu conceito e depois cresceu com ZNMD. É uma trilha para relaxar e sorrir. 


Zindagi Na Milegi Dobara é um dos filmes mais bonitos dos últimos anos. Tudo nele passa uma honestidade que tantos outros filmes se esforçam para ter quando se “ocidentalizam”, mas não conseguem. Parece que todo o mundo ali acreditava naquela história, naqueles personagens, naquele lugar, na força do projeto. Lembro que quando li Comer, Rezar, Amar, vi algumas pessoas diminuindo a história por diversos motivos e eu pensava: “Cara, aquela pessoa teve a chance de passar um ano viajando para três lugares incríveis com o único fim de se conhecer. É muito improvável que isto aconteça comigo ou com qualquer um, então vou ler esta história para saber como é poder ter esta experiência”. Tive pensamentos parecidos com ZNMD. Não vou para a Espanha tão cedo, muito menos para passar semanas só fazendo turismo e me conhecendo. Se eu puder receber um pouco que seja desta experiência, mesmo que seja de um filme, não abrirei mão! É claro que é fácil ter a estabilidade da qual já falei e sair falando que não se vive duas vezes, mas é este o contexto daqueles personagens e cada um vai ter seu modo de aproveitar a vida. Para minha sorte, nada disso impediu a equipe de fazer um filme maravilhoso. Zoya e todo o mundo, muito obrigada! Agora, só um pedido: bora fazer um filme lindo assim sobre amizade feminina? Estou esperando, me liguem!

5 comments

  1. Eu vi ZNMD sem esperar nada e me diverti bastante. Também me conectei aos personagens e achei algumas cenas realmente lindas. As músicas são ótimas mesmo, escuto direto. Ahn... agora que você escreveu uma resenha tão bacana, desanimei de fazer a minha... buá!

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  2. Tabby ji, Tabby ji...se cada uma ficar escrevendo sobre um filme em separado, qual é a graça de sermos Bollybloggers? Faça um post lindo e cheio de gifs legais para a gente ver como a experiência de ZNMD foi para você!

    Este filme é mágico <3

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Katriane, ZNMD é bem a sua cara. Você aparece pouco, mas tem jeito de gostar desses filmes leves e sagazes (?).

    Você é uma das poucas que me acompanha nesta doce jornada de observação da evolução de Katrina. Ela está indo a passos pequenos, mas com certeza não está regredindo e nem paralisada!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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