Deewaneando
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Hoje voltamos ao sul do Brasil - ou melhor, ao extremo sul. É lá que mora Valquíria Ortiz, nossa entrevistada de hoje. Val vive em meio às palavras. Além de ter formação em Biblioteconomia, está sempre lendo e comprando mil outros livros para encher sua já lotada estante. É possível passar horas conversando com ela sobre qualquer assunto, então haveria pessoa mais indicada pra uma entrevista? Sua curiosidade pelo mundo a levou até o cinema indiano e Aamir Khan a mantém neste mundo até hoje - mas não só ele. As mágicas canções de A. R. Rahman também têm sua culpa nisso. Conheçam mais sobre o que o cinema indiano trouxe de melhor para a vida dessa gaúcha de 27 anos.

Deewaneando: A pergunta de sempre: como você conheceu o cinema indiano?

Val: Conheci em uma tarde de inverno, caçando filme pra assistir na TV. Tinha uns 16, 17 anos, acho. Daí vi que tinha começado Lagaan no Cinemax. Assisti todo o filme maravilhada, e me descobri nos próximos dias revirando o canal pra não perder a reprise e saber quanto eu tinha perdido do início do filme. Fiquei deslumbrada com as músicas, em especial com O Paalanhaare, que é o momento de virada do filme pra mim. Lembro que o meu celular só gravava 30 segundos, e eu gravei um pedacinho dessa música, e quase enlouqueci minha família, principalmente minhas irmãs, porque dormíamos no mesmo quarto, escutando esse trecho em um looping eterno na hora de dormir.

Deewaneando: Como teve acesso a outros filmes depois disso?

Val: Uns anos depois, encontrei (não lembro como) a QCINB (Quero Cinema Indiano no Brasil) no Orkut, e parece que abriu um novo mundo pra mim. Quase chorei de emoção quando assisti de novo Lagaan e poderia assistir quando quisesse.

Deewaneando: Até aquele momento você conhecia bem pouco. Que tipo de filme você procurou quando chegou lá?

Val: Eu fui mais pelas indicações dos outros integrantes da comunidade do QCINB, bem como lia as sinopses e guardava os nomes pra poder baixar depois, mas acabei começando pelos mais populares entre o pessoal, até pra poder ter o que debater depois (risos).

Deewaneando: Já conseguiu apresentar os filmes aos amigos? Como foram as reações?

Val: Tentei bastante, mas foram bastante resistentes, principalmente na família (vide monopolizar a TV cada vez que dava Lagaan e a musiquinha), mas no fim das contas de tanto torrar a paciência da minha irmã mais velha, consegui com que ela assistisse comigo e ela gostou, apesar de achar um tanto "lado B'' e sem noção. Além dela, consegui fazer meu ex-namorado assistir, e ele simplesmente adorou, só não tinha paciência com a duração deles.

Deewaneando: Até nós que amamos cinema indiano conseguimos entender seu ex...

Val: Siiim, tenho que entender, porque quando o filme é bom, ok, mas quando é ruim, fica aquela sensação de "não acredito que desperdicei três horas e meia da minha vida pra ISSO''.

Deewaneando: Você trabalha com livros. Lembra de algum filme ou cena que tenha mexido com seu lado bibliotecária?

Val: Na verdade não trabalho como bibliotecária, só tenho formação. Acabei fazendo concursos administrativos e acabei não exercendo a profissão. Quanto ao filme, nenhum em especial, mas na faculdade, temos as cinco leis de Ranganathan, que foram elaboradas por um indiano (o que na época me fez acreditar que tinha escolhido o curso certo só pela sabedoria de ter algo pensado por um indiano, ó a viagem). Os filmes acabaram fazendo com que eu entrasse em uma fase de pesquisa muito intensa, tentando entender costumes, expressões, contextos históricos e quaisquer curiosidades que tivesse, além de me motivar a procurar livros que fossem escritos por indianos.

Deewaneando: Nunca ia imaginar essa das cinco leis, hein?

Val: São bastante simples, na verdade, mas que norteiam e basicamente resumem os quatro anos de faculdade em cinco itens. Coisa de pensador indiano, claro (risos)! As 5 leis: Os livros são escritos para serem lidos, Todo leitor tem seu livro, Todo livro tem seu leitor, Poupe o tempo do leitor  e Uma biblioteca é um organismo em crescimento.

Deewaneando: Dá alguma indicação dos livros de escritores indianos que pesquisou?

Val: Tenho sim, tenho três livros: Um rapaz adequado, de Seth Vikram, que narra a busca da protagonista por um marido. A história é ambientada na Índia mesmo, e mostra o cotidiano e os pensamentos dela. Parei de ler quando descobri que são três volumes, e o último ainda não foi lançado, pra não ficar sofrendo esperando pelo último, resolvi parar antes.

O segundo é Paixão Índia, do Javier Moro, que narra a história de um marajá que se apaixona por uma bailarina (sim, não li também).

E o terceiro é Na pele de um intocável, que fala sobre como é a vida de um dalit, pelo ponto de vista de um pesquisador que se dispôs a viver como eles (não, não li também. Tive medo do que iria descobrir, confesso).

Deewaneando: Você é uma grande fã do Aamir. O que tem de especial nele? 

Val: Ai ai *suspiros*. Aamir tem todo aquele significado de ter sido o protagonista do primeiro filme indiano que pude assistir, mas vai além disso. Realmente o acho bonito (apesar das orelhas de Dumbo, como um amigo desgraçadamente o apelidou), inteligentíssimo e os filmes deles sempre tem um ponto de vista de defesa social que me encanta.

Deewaneando: Até hoje continua seu favorito?

Val: Sim, nunca perdeu o posto! Aamir reina, os outros que gosto são meus queridinhos (risos)! 

Deewaneando: Considera que Fanaa tenha sido a melhor escolha para o primeiro filme indiano nos cinemas brasileiros?

Val: Entendo porque escolheram Fanaa pra lançarem por aqui, por toda a pegada meio blockbuster do filme, mas não sei. Se fosse minha responsabilidade escolher, certamente enlouqueceria tentando. Dos filmes do Aamir, acredito que 3 Idiots teria sido uma escolha mais acertada, mas Fanaa tem uma linha mais calma que não assustaria (tanto) o público brasileiro.

Deewaneando: Relato pessoal: havia umas cinco pessoas na minha sala de cinema. Umas duas saíram antes de acabar (risos).

Val: Minha irmã foi assistir, e foi só ela e o marido. Nunca se sentiu tão exclusiva na vida (risos)!

Deewaneando: Costumamos focar muito nos atores e esquecer de outros profissionais. Você tem verdadeira paixão pelo trabalho do produtor A.R. Rahman. Quais trabalhos dele a impressionaram?

Val: O melhor trabalho dele, pra mim, foi a trilha de Jodhaa Akbar, em especial Khwaja Mere Khwaja. Aquele momento final de transcendência que o personagem do Hrithik passa, eu passei também, de tão profunda foi a minha conexão com a melodia e letra. Foi a partir daí que busquei ouvir os outros trabalhos dele.

É dele também a trilha sonora de Lagaan, inclusive, o que só fez aumentar minha admiração pelo Aamir e pelo Rahman. Simplesmente amo todas as músicas do filme!

Deewaneando: Como você vê a cena do cinema indiano no Brasil?

Val: Bastante tímida até, considerando que a internet nos disponibiliza tanta coisa. É basicamente um nicho exclusivo, visto pelos outros como algo "cult" ou nerd (palavras de amigos, quando expresso meu amor). Tivemos bastante visibilidade com a novela Caminhos das Índias? Sim, mas mesmo assim, não foi um estouro que tenha feito as pessoas buscarem por mais, que fizesse esse segmento se popularizar como sonhamos.

Deewaneando: Fico me perguntando por que a cena de filmes e séries coreanos e japoneses cresce tão mais que a nossa.

Val: Exatamente, me faço a mesma pergunta. Talvez porque eles estão há mais tempo introduzidos no lado ocidental pelos animes e mangás, então é um caminho mais fluido e natural para eles.

Deewaneando: O que o cinema indiano trouxe de melhor para você? 

Val: Esperança. Todos os filmes que assisti (exceto Umrao Jaan, acho) incutem a esperança na história, não importando o contexto dela. Isso fez com que eu incorporasse esse modo de pensar na minha vida, e realmente ficou mais fácil viver.

Deewaneando: E de pior?

Val: Nossa, esse é difícil, porque realmente vejo só o lado bom, tanto que ao ler as outras entrevistas e questionar o porquê de não gostarem de um determinado filme, receber um ponto de vista completamente diferente (e real) do outro. Pode parecer muito ingênuo e alienado da minha parte, creio eu, mas acabo ficando só com o melhor das coisas que posso escolher, justamente pra não ficar sofrendo pelo pior.

Deewaneando: Quais são seus filmes e atores favoritos?

Val: Lagaan, óbvio, Jab We met, Rab Ne Bana Di Jodi, Fanaa, 3 Idiots, Jodhaa Akbar, Vivah, My Name is Khan, Salaam e Ishq. Meu Deus, não sei (risos)! Atores: Aamir Khan, Hrithik Roshan, Shahid Kapoor. Atrizes: Aishwarya Rai, Preity Zinta e Kareena Kapoor Khan.

Deewaneando: Nos dê quatro indicações de filmes: para conhecer o cinema indiano, para se evitar, para se apaixonar e outro para transformar sua visão sobre ele.

Val: Pra conhecer o cinema indiano: 3 Idiots. Ele tem de tudo um pouco e aborda de uma forma inteligente, que acaba dando margem pra pessoa que assistir tentar um segundo filme.

Para se evitar: pelo amor dos céus, Dabangg. Passem longe dele, sério, foi esse filme que me deu aquela sensação de "por que raios perdi tanto tempo assistindo isso até o final?!"

Para se apaixonar: caramba, esse é difícil, vai muito do gênero, mas acredito que Rab Ne Bana Di Jodi faz esse trabalho lindamente.

Para transformar a visão: Black e Guzaarish, que mostra bem que eles também sabem falar de assunto sério.



Pior ator ou atriz: Ai, vou morrer por isso, mas Salman Khan. TODO SANTO FILME é a mesma carinha de peixe morto.

Cena mais engraçada: Não vou conseguir lembrar em qual filme vi isso, acho que foi em Bride & Prejudice  em que no meio das dancinhas eles estão na praia, e vem um monte de salva vidas dançar coreografado. Nunca ri tanto na vida! Acho que achei mais engraçado ainda por serem figurantes não indianos dançando, foi surreal.

Filme inesquecível: Ai, difícil. 3 Idiots.

Um filme que não fede e nem cheira: Olha, deve ser tão não fede e nem cheira que não lembro de nenhum de pronto. Bodyguard (tadinho do Salman!)

Sua pior lembrança do cinema indiano: Tu vai me matar, mas os videozinhos da Helen. Morria de vergonha alheia dela!

Quem estrelaria os remakes dos seguintes filmes em Bolly?

As Patricinhas de Beverly Hills: Priyanka, Preity e Kareena. Ia ser uma mistura interessante essas três juntas.

Titanic: Shahid Kapoor com a Anushka Sharma.

Dois Filhos de Francisco: Ranbir Kapoor com o Ranveer Singh (risos)!

Batman: O SRK, ele tem uma cara de sofredor nato quando quer.

American Pie: Stifler: Ranbir. Não consigo imaginar o resto. Talvez a Kareena como a Alyson.

Tropa de Elite: Hrithik Roshan de capitão Nascimento, sem dúvida!

As Panteras: Rani, Aish e Anushka. Com a voz do Charlie, o Amitabh Bachchan.

O Segredo de Brokeback Mountain: John Abraham e Abhishek Bachchan.

Quem faz falta? Penso na Aish mesmo, ela é uma atriz fantástica! Sou apaixonada pelas cenas de dança dela em Umrao Jaan. Gostaria de ver mais disso.

Quem não vai deixar saudades? Salman Khan. Juro que não entendo como ele é um dos três grandes Khan's (eu sei que parece implicância minha com o homem, mas juro que não é)!

Qual foi o momento que mais a deixou chocada no cinema indiano? Descobrir que o Abhishek era casado com a Aish. Na minha cabeça, tinha que ser o Hrithik!

Defina em uma palavra...

Aamir Khan? Humanista.

Kareena Kapoor? Voz irritante (eu sei que é uma palavra, mas não tem outro jeito)

Rani Mukerji? Mulherão. Em todos os sentidos.

John Abraham? Querido!

Amrita Rao? Sem sal.

Akshay Kumar? Abobado.

Qual filme você dedica ao seu ex? 3 Idiots, porque se eu tivesse que rever um filme mil vezes com ele, seria esse (ele tem essa mania, assisti "As Branquelas" e Velozes e Furiosos não sei quantas milhares de vezes).

Qual filme você gostaria de viver? Jodhaa Akbar. Gostaria de ser o tipo de mulher que inspirasse um homem a mudar.

Um artista que você pegaria, outro com quem você casaria e um que você mataria? Caso com Shahid, pego o Hrithik e mataria o Salman (ahhh o cara já matou gente e bateu em mulher, se é pra matar alguém, que seja alguém que mereça morrer né?!)
Sonakshi Sinha estreou com força no cinema indiano. Dabangg fez um sucesso estrondoso e ela logo virou o principal rosto a se prestar atenção. O encanto terminou em seus próximos filmes, pois suas escolhas apenas de masalas e comédias atraíram muitas críticas da indústria. Sua opção por Lootera foi vista como a tentativa de responder a essas críticas e mostrar que também poderia fazer papéis mais sérios. O filme tem direção Vikramaditya Motwane, que ficou conhecido por fugir dos padrões convencionais do cinema comercial com Udaan.


Sonakshi interpreta Pakhi, a jovem filha de um senhor zamindar. Os zamindar representavam uma classe social aristocrática indiana com vastas posses e terras, que teve seu declínio após a independência e instauração da democracia. A história se passa exatamente durante o período de declínio da classe, quando o pai de Pakhi recebe a visita de Varun (Ranveer Singh), um jovem que se diz arqueólogo e deseja estudar algumas de suas terras. Pakhi rapidamente se interessa por Varun e não hesita em criar situações para se aproximar dele, como pedir que ele lhe desse aulas de pintura mesmo já sabendo fazê-lo. O rapaz demonstra seu interesse de forma reticente e distante, mas não consegue evitar que o amor vá crescendo gradualmente. A doença respiratória de Pakhi parece ser o único possível obstáculo à união, porém é o menor dos problemas. Varun esconde segredos que podem destruir suas vidas.

Não há pressa em Lootera. Cada toque e olhar entre Pakhi e Varun é trabalhado lentamente para mostrar a construção de seu romance. A primeira parte é totalmente dedicada a eles e também a mostrar o cotidiano de uma residência zamindar. O tempo parece suspenso nos lares zamindar, pois até eles não chega a pobreza, a revolta ou as transformações que ocorrem fora dali. A impressão de suspensão do tempo lembra o clássico Sahib Bibi Aur Ghulam, que também retrata o declínio dos zamindar e a fixação das famílias dos senhores de terra apenas nas questões referentes aos seus domínios. Pakhi ignora o que acontece fora de seu mundo. Não há nada além de seu pai e Varun, e sua determinação é tamanha que não se importa em atrapalhá-lo no trabalho para exigir que diga se a ama. Sua força contrasta nitidamente com a passividade de Varun. Ele oscila entre os sentimentos que o ligam à Pakhi e os segredos que o impedem de amá-la, e isto faz com que avance um passo para logo recuar dois.



Ranveer Singh teve que conter toda sua energia e teatralidade para viver um personagem tão sóbrio. Para tanto, fez uma escolha duvidosa: baixou seu tom de voz. Muito. O resultado foi suas falas parecerem sussurros e a prudência do personagem passar a se confundir com fraqueza. Somando isso à já citada sensação de tempo suspenso, a primeira parte do filme ficou arrastada, monótona. Nada de novo vinha do relacionamento e o ambiente zamindar também não era estimulante. O único sopro de vida estava na Sonakshi Sinha, que já era mestra em fazer personagens na tênue linha entre a discrição e a exuberância. Foi importante vê-la como um dos principais motores de um filme para confirmar o que eu já imaginava: além de boa atriz, consegue segurar um filme como ninguém. De fato, foi desperdiçada como enfeite em tantos filmes de ação.

A segunda parte de Lootera trouxe o casal sem máscaras: Pakhi cada vez mais debilitada pelo agravamento de sua condição e Varun já sem as mentiras que o sustentavam. A raiva mútua faz com que o confronto seja intenso e doloroso, mas necessário para seguirem em frente, seja para onde forem. O isolamento do casal criou um segundo mundo à parte para viverem sua história, da mesma forma que aconteceu na mansão zamindar. Assim como aconteceu antes, o amor de Pakhi e Varun só sobrevive quando está em uma redoma de vidro. O contato com a realidade sempre o sufoca. É um amor destinado a ser breve.



A fotografia bem cuidada, remetendo à épocas passadas, juntamente com as metáforas, o silêncio e a elegante trilha de Amit Trivedi fazem com que tudo pareça uma triste poesia antiga. Esta poesia nem sempre funciona e muitas vezes o filme parece perdido e até mesmo vazio no início. A segunda metade trouxe a dinâmica que faltou à primeira e revelou todo o potencial dramático do casal principal. Ranveer pôde liberar mais a vitalidade física que lhe é característica, sem perder de vista o retraimento que faz parte da personalidade de Varun. Já Sonakshi manteve a determinação de Pakhi, mas desta vez com toques da oscilação entre sentimentos opostos que havia sido marca de Varun na primeira parte.

É uma pena que o mau desempenho do filme e a falta de premiações tenha afastado a Sonakshi de novas experimentações, pois seu desempenho foi marcante. Felizmente não se pode dizer o mesmo de Ranveer, que utilizou bem a experiência para testar seus limites como ator e tem feito filmes tão diferentes quando Ram-Leela e Dil Dhadakne Do. A inconsistência e a falta de estímulos do filme provavelmente afastaram o público. O tempo de Lootera exige paciência e nem sempre é fácil tê-la, mas mesmo que não seja com o todo, certamente há algo ali com que se encantar.

Música grega, Shakira, fotografia, Godard, Florence And The Machine, Gabriel García Márquez, Wesley Safadão. O que todas essas coisas têm em comum? São apenas alguns dos múltiplos interesses da nossa entrevistada de hoje. Karla Vasconcelos é uma jovem estudante de História que carrega suas trilhas favoritas do cinema indiano no celular e tenta não dançar enquanto roda pela cidade - falhando miseravelmente, segundo seu relato de dançar Ek Do Teen no ônibus. Moradora de Pernambuco, é apaixonada por cinema indiano desde que o conheceu e é uma das fãs mais interessantes que conheço: associa a postura crítica a um humor inabalável. Ela falou sobre cinema em geral, Madhuri Dixit e relatou um sonho bastante esquisito na terceira entrevista da série Bollyfãs.

Deewaneando: Você é claramente cinéfila. Como se desenvolveu essa paixão pelo cinema?

Karla: Então, eu não conhecia nada de cinema até o dia em que Elizabeth Taylor faleceu. Parece loucura, mas foi através da morte dela que o cinema entrou na minha vida. Me apaixonei perdidamente por ela e a Old Hollywood entrou na minha vida, logo após enlouqueci por Catherine Deneuve e conheci o cinema francês, que foi uma porta pro europeu. e por último caí de amores por Aishwarya Rai Bachchan e descobri a maravilhosidade do cinema indiano!

Deewaneando: Ah, então a Aish foi sua porta de entrada para o cinema indiano. De que forma você a conheceu?

Karla: Aquele momento que está batendo uma nostalgia ao recordar isso...foi no meu primeiro período da universidade. Eu era (e ainda sou) conhecida pelos meus gostos peculiares, geralmente interessada em coisas que mais ninguém via. E com base nisso, numa bela tarde, minha colega de curso me mostrou o video de Salaam (Umrao Jaan - 2006), que por conta da novela Caminho das Índias não me era desconhecida, falando que eu ia gostar muito da dança e da moça que dançava e... sim, eu gostei. Me apaixonei!

Deewaneando: E qual foi seu primeiro filme indiano, de fato?

Karla: Umrao Jaan. Eu fiquei tão encantada com a performance e a beleza da moça, (que até então eu não sabia que se tratava da grande Aishwarya Rai **Bachchan**) que eu queria saber a história que girava em torno daquela música e suntuosidade toda. E esse filme me marcou de um jeito...

Deewaneando: Você já me disse que aprendeu várias coisas sobre cinema e que todas essas coisas foram pelos ares quando conheceu o cinema indiano. O que o cinema indiano muda na estrutura do cinema que estamos acostumados a assistir?

Karla: Bem, ele muda tudo. É estranho você permanecer com a mesma visão que você tinha do cinema, após assistir um filme indiano. Lá tudo é mais mágico, desde a fotografia, atores, enredo, direção, música, enfim, TUDO! Enquanto Hollywood cai na mesmice de sempre, Bolly permanece com sua essência (mesmo com essa nova geração e com algumas produções um pouco americanizadas). É fantástico o cuidado que eles têm até com a trilha sonora do filme, que eu sinto como a cereja do bolo no caso deles. Lá o cinema é realmente feito pro povo indiano e não pautado em um alcance em massa como vemos no cinema americano. Bollywood é tao lindo que me dói um cadinho o mundo inteiro não ter acesso a isso da maneira que é feita com o cinema ocidental. Temos muito o que aprender com o cinema indiano.

Deewaneando: Finalmente tenho aqui uma fã de cinema antigo e não vou perder a chance. O que você gostou de assistir nos filmes antigos de Bollywood?

Karla: O primeiro clássico que eu vi foi Awaara (1951) e fiquei espantada com a qualidade do cinema indiano antigo. Sim, eu não tinha noção do quanto eles eram maravilhosos e não perdem em nada para os clássicos hollywoodianos. As histórias são realmente incríveis, atores maravilhosos, enfim, uma junção de coisas perfeitas. E mesmo gostando do cinema indiano atual, eu sou daquelas que defende até a morte a magnificência dos clássicos, mesmo sabendo que lá também tem coisa ruim, mas até essas coisas ruins eram inéditas! Até hoje fico impressionada com a beleza do technicolor empregado em Mughal-e-Azam, me questiono pelo Oscar de Nargis em Mother India e penso em Satyajit Ray como um Jean-Luc Godard indiano.

Deewaneando: O que mudou em Bollywood de outras épocas para os filmes atuais?

Karla: Sei que o que eu vou falar agora é bem sem sentido, mas o que mudou foram os atores. Sério. Sei que eles não são imortais no sentido físico, mas eu não boto muita fé nessa nova geração de atores. É uma experiência completamente diferente você ver os filmes mais antigos ou filmes com atores e atrizes da velha guarda e fazer um comparativo com pessoal mais novo (sim eu também sei que isso é errado), mas seria interessante ver a influência de Nargis, Madhubala, Raj Kapoor, Dilip Kumar, Waheeda Rehman (O QUE É ESSA MULHER EM GUIDE???), entre outros, neles. Essa influência, a gente percebe muito no pessoal da década de 80 e 90, como Madhuri, Sridevi, Aamir Khan, Anil Kapoor e geral.

Deewaneando: Será que a mudança nas histórias de 2000 para cá talvez não dificultou a influência que os atores antigos poderiam ter nos atuais?

Karla: Eu nunca tinha pensado nisso, mas sim. A estrutura hoje é completamente diferente, algo mais jovem e pra isso se precisam de jovens não é mesmo?

Deewaneando: Algum desses jovens parece promissor?

Karla: Boto fé na Deepika Padukone e tenho alguma esperança na Alia Bhatt e não sei por que, no Sidharth Malhotra.

Deewaneando: Dia desses li um tweet que falava sobre o cinema em cada época ter uma atriz com uma beleza que marca aquela década. A dos anos 50 seria a Madhubala e a de hoje, a Deepika. Você concorda com essa afirmação? Quem seria a beldade da década atual?

Karla: Concordo sim, principalmente com Madhubala estar relacionada à década de 50 e mesmo não gostando tanto assim dessa nova geração, não deixo de concordar que Deepika tem sua singularidade, é belíssima e tem se destacado bastante nos papéis que interpreta.

Deewaneando: Sua formação em História traz um olhar diferente quando você assiste a um filme?

Karla: Mesmo não querendo, isso muda e muito o jeito de ver o filme. Nós de humanas temos mania de problematizar as coisas e os de História, de procurar os errinhos com relação aos filmes históricos. Bem, não entendo muito da história da Índia, daí o segundo aspecto passa bem despercebido, mas o primeiro fica forte. Uma coisa que me chama muito a atenção é a misoginia/machismo bem forte no cinema indiano. E também as questões culturais e sociais.

Deewaneando: O problema da misoginia/machismo já chegou a um ponto tão alto num filme que você não conseguiu aproveitá-lo?

Karla: Sim. Ao ponto de me fazer chorar no final, quando eu parei pra pensar na real situação da mulher na Índia. Não entendo a fundo, mas Lajja me despertou para a compreensão de algo bem terrível e bastante atual.

Deewaneando: Por falar em Lajja...o que a Madhuri tem, que ninguém mais tem?

Karla: A mulher é um conjunto de perfeição! Não tem como não cair de amores por ela. Uma atriz maravilhosa, o sorriso mais lindo do mundo, um ser humano incrível, uma beleza atemporal e a melhor dançarina de bollywood: DEUS DO CÉU EU QUERO ESSA MULHER PRA MÃE DOS MEUS FILHOS! Qualquer filme com ela é mágico, sabe? Ela consegue te prender a todo instante, uma atuação impecável, uma luz, uma energia...Amo demais! Porém é engraçado pensar que a primeira vez que eu a vi, não foi por causa dela e num primeiro momento eu simplesmente não fui com a cara dela, pois uma vizinha que eu não suporto é o clone dela. Mas não consegui me manter imune por muito tempo...

Deewaneando: Como assim, quer dizer que a Madhuri Dixit brasileira esteve escondida em Pernambuco esse tempo todo?

Karla: Aham, no agreste pernambucano, inclusive cresceu comigo, mas num vale nada (risos). Querendo, eu descolo uma entrevista com ela (renovando todo meu ódio pela minha vizinha).

Deewaneando: E quem são seus outros artistas favoritos? E os filmes?

Karla: Vidya Balan, Shabana Azmi, Aishwarya Rai, Madhubala, Nargis e Rekha.

Filmes: Devdas (2002), Barfi!, 3 Idiots, A Trilogia dos Elementos: Fire, Earth e Water (muito amor, esses filmes), Guzaarish, Jodhaa Akbar, Mughal-e-Azam, Ramleela, Pukar, Lajja, Awaara, Umrao Jaan (2006), Kabhi Khushi Kabhie Gham... e Dil.

Deewaneando: Nos dê quatro indicações de filmes: para conhecer o cinema indiano, para se evitar, para se apaixonar e outro para transformar sua visão sobre ele.

Karla: Conhecer: Aaja Nachle, 3 Idiots, Ramleela (apresentei o cinema indiano aos meus migos com ele) e Zindagi Na Milegi Dobara. Evitar: Lootera, Dilwale Dulhania Le Jayenge, Fanaa e Saawariya. Apaixonar: Veer-Zara, Barfi!, 3 Idiots e Paa. Transformar: Kahaani, My Name is Khan, Devdas e Highway.





O filme que a Madhuri nunca deveria ter feito? Meu deus!!! Nenhum (risos)! Gosto de todos os que eu vi.

O artista mais superestimado? Salman Khan.

Uma música que você não consegue evitar de dançar junto? Makhna de Bade Miyan Chote Miyan.

O sonho mais esquisito: EU INDO PRO MOTEL COM O SALMAN KHAN! Foi horrível!! Grazadeus acordei antes de acontecer alguma coisa.

O clipe mais emocionante? Maar Dala.

O elenco que você sonha em ver reunido? Madhuri, Rekha, Shabana, Vidya e Deepika. Só mulher! Um filme bem feministão!

Devdas ou Ram-Leela? DEVDASSSSSSSSSSSSSS (acha mesmo que vai ser outro filme?)

Rekha ou Aishwarya, quem foi a melhor Umrao Jaan? Rekha.

Dê um conselho para...

Juhi Chawla: APERREIE ALGUM OUTRO DIRETOR E FAÇA OUTRO FILME COM MADHURI POIS SHIPPO MUITO VOCÊS!

Salman Khan: filho, se aposente. Pra mim fará um total de 0 falta.

Abhishek Bachchan: cuide bem direitinho da sua esposa, pois qualquer coisa estamos na área.

Preity Zinta: MIGA PARE COM OS BOTOX! Nem sei mais o que é ela ou os botox dela.

Ranbir Kapoor: migo, seje menas, você não é essas coisa toda, não.

Priyanka Chopra: desista da carreira musical, miga, fique apenas com os filmes mesmo.

Rekha: se eu fosse você, iria jantar comigo.

Uma cena que dá ânsia de vômito: Ranbir dançando só de toalha em Saawariya. Miga...aquilo foi muito vergonhoso.

O pior filme: LOOTERA. Meu deus, até hoje num entendi nada. Vários nada. Foram dar uma vibe francesa a Bollywood, si fuderu.

Uma cena que deveria ser emocionante, mas fez rir? Aquela da Kajol conseguindo enxergar em Fanaa. MIGA EU GAITEI TANTO. Outro filme sem noção.

Se você fosse obrigada a trocar o elenco de um filme, quem faria...

Madhuri, Shahrukh e Aishwarya em Devdas? Ninguém. Não consigo ver a versão do SLB sem eles....sim, sou chata. Seria Devnadas: um filme apenas com os cenários e a melancolia.

Shahrukh e Kajol em Kabhi Khushi Kabhie Gham? Anil Kapoor e Madhuri.

Vidya Balan em Kahaani? Aishwarya.

Katrina em Jab Tak Hai Jaan? Miga, eu acho que o problema ali é SRK fazendo papel de boyzinho. Deixaria ela e meteria um Hrithik.

Abhishek e John Abraham em Dostana? Salman e SRK.

O que você faria se encontrasse o Sanjay Leela Bhansali? Pediria ele em casamento. Sério mesmo. VAMO CASAR E SER FELIZ MACHO.

Se você pudesse dar uma nova profissão para...

Aamir Khan: Motorista de ônibus (ele tem cara daqueles motoristas bonzinhos).

Alia Bhatt: Veterinária.

Sid Malhotra: Policial.

Anil Kapoor: Ursinho pimpão.

Sridevi: Professora. Minha professora, de preferência.

Ranbir Kapoor: Feirante. Ele tem cara daqueles boy que vende 3 molhos de coentro por 1 real.

Uma artista que você pegaria, uma com quem você se casaria e outra que você mataria? Pegaria: Sridevi, casaria: Madhuri e mataria Priyanka
Superar seu próprio desempenho é ansiogênico. Após o sucesso da sensível jornada de Zindagi Na Milegi Dobara, as expectativas sobre a diretora Zoya Akhtar eram altas. A dúvida era se ela conseguiria novamente entregar um filme sensível e bem feito para o grande público. Zoya e sua fiel companheira, a roteirista Reema Kagti, não fugiram à luta. Pode-se até dizer que arriscaram ao mais uma vez pedir ao público que se conectasse à uma história de pessoas riquíssimas, desta vez em um cruzeiro por destinos paradisíacos.



Os ricos com problemas da vez são a família Mehra. Kamal (Anil Kapoor) é o patriarca dominador que vê com naturalidade tomar para si as decisões mais importantes das vidas dos filhos. Decidiu pelo filho Kabir (Ranveer Singh) que ele assumirá a empresa da família e também escolheu o marido de Ayesha (Priyanka Chopra), sem dar atenção à crescente infelicidade matrimonial da filha. A esposa Neelam (Shefali Shah) também passa seu tempo tentando controlar as vidas dos filhos e mantendo a aparência de que seu casamento é perfeito. E é para comemorar tanta funcionalidade que a família reúne os amigos em um cruzeiro em homenagem aos 30 anos de aniversário do casal.

O tema da interferência dos pais nas vidas dos filhos tem peso muito maior na sociedade indiana do que em outras. Ainda assim, não deixa de ser um tema universal e isso diminui a distância entre o espectador médio e a rica vida dos Mehras. O amor de Kabir por voar e seu esforço para não deixar seu pai vender o avião da família pode tocar a qualquer pessoa que esteja vendo morrer as últimas possibilidades de seus sonhos se concretizarem. Kabir não pôde escolher sua profissão, onde trabalha e nem mesmo sua noiva. Aquele avião é a única coisa que ama de verdade e ainda está em suas mãos. É o que pode salvar antes de ser tragado pelas responsabilidades e sacrifícios da vida adulta. A força que lhe falta para enfrentar o pai finalmente aparece no desejo de salvar o avião – mesmo que de forma tímida e pouco confrontativa. Kabir é o típico filho que acaba dominado por não ter certeza do que quer. Seu descolamento da figura paterna começa com a história do avião e se fortalece ao conhecer Farah (Anushka Sharma), a dançarina por quem se apaixona. A paixão que sente pelo avião e pela jovem de espírito livre finalmente o fazem ter vontade e coragem para se mover – de forma infantil e temente ao pai em princípio e destemida por fim. Ranveer ainda não chegou ao ponto em que consegue fazer com convicção um personagem menos histérico e animado, porém vem trilhando um bom caminho.


Farah é livre e confiante e não há muito a ser dito sobre ela além disso. Há o claro medo de se apaixonar por Kabir e sofrer depois, porém há pouco desenvolvimento de sua história pessoal porque o foco do filme é a relação familiar dos Mehras. Apesar de entender a razão da diminuição do papel da Anushka, lamentei – e muito – o fato de vê-la interagindo pouco com o resto do elenco. Seria ótimo vê-la numa cena com a lenda Anil Kapoor ou opondo a liberdade de Farah ao controle da personagem de Shefali Shah.

Mesmo com a pouca atenção à história de Farah, os conflitos da jovem indiana moderna não ficaram ausentes. Ayesha vive um casamento infeliz com Manav (Rahul Bose), homem que acredita ser muito progresssista por “permitir” que sua esposa trabalhe. É o famoso machista enrustido, que dá ordens sem perceber e não considera a opinião da esposa – como no momento em que comunica à ela que farão tratamento de fertilidade. E mesmo sendo uma executiva de sucesso que iniciou sua empresa sem ajuda externa, Ayesha aceita as ordens do marido e sofre por não ter o reconhecimento profissional do pai. Li algumas críticas a isso. A idéia era que o comportamento de Ayesha fosse incongruente com a posição que alcançou no mundo dos negócios. Discordo totalmente. A riqueza da personagem está exatamente nesse meio-termo entre o antigo e o novo, que é algo que observei pela primeira vez na Shruti de Band Baaja Baaraat. Assim como Shruti, Ayesha é uma heroína de transição. É uma mulher cujos comportamentos e crenças oscilam entre a socialização machista que recebeu e os avanços conquistados pela mulher contemporânea. Nos negócios ela consegue ser forte e decidida porque o ambiente é impessoal, mas a autoridade dos pais é o que pesa no âmbito privado e tira a sua força vital. Não é fácil enfrentar as pessoas que lhe criaram e com quem a sua relação é emocional. São essas as pessoas que você quer impressionar. Como ser assertivo com as figuras de quem se buscou aprovação e validação a vida inteira? Em muitos momentos pensei que Priyanka estivesse fraca no papel. Só que depois refleti que essa fraqueza provavelmente era o que deveria aparecer. E é necessário muito esforço para que essa mulher pareça qualquer coisa menos que segura e estonteante. Suas cenas mais expressivas são aquelas em que conversa com Ranveer. Os dois funcionaram muito bem como irmãos e conseguiram demonstrar a cumplicidade criada entre filhos que sobrevivem a pais controladores.

Vamos proibir atores de cantarem as próprias trilhas?

É por Ayesha regredir tanto na presença dos pais que o personagem de Farhan Akhtar não me incomodou. Sunny teve seus estudos nos Estados Unidos pagos pelo pai de Ayesha, que não viu com bons olhos o relacionamento dela com o filho de seu funcionário. Ele retorna como um jornalista renomado e fica irritado ao ver o modo como Ayesha fica diminuída perto de seu marido. É então que ele faz a “voz feminista” do filme, apontando o machismo inerente do discurso de Manav e dando à Ayesha o reconhecimento profissional que tanto esperava. Prefiro quando a própria mulher ou outras mulheres as ajudam a perceber a prisão em que se encontra e detesto quando o homem é colocado no papel de “libertador” da mulher. Já não temos muitos discursos feministas em Bollywood, então os poucos restantes precisam ser feitos por homens? Só que Ayesha não precisa de Sunny. Ela tem muita clareza sobre o que não quer mais para sua vida. O que Sunny a ajuda a fazer é a ter coragem de quebrar o laço emocional que a mantém tão submissa aos pais. E a presença dele é importante para isso porque ele a conhece bem, se importa com ela e não está presente no contexto dos Mehras, que estão todos emaranhados. Ele é a basicamente a voz que vem de fora, mostrando a alguém de quem é íntimo que existe vida fora dali.



Pais que se intrometem tanto nas vidas dos filhos normalmente não empregam o mesmo esforço no próprio relacionamento. Neelam sabe que foi traída por Kamal e que todos os seus amigos fofocam sobre isso, mas mantém o orgulhoso retrato da família perfeita. Tudo o que não manifesta é descontado em momentos solitários nos quais come compulsivamente. Seu casamento chegou a um ponto em que cada frase que lhe é dirigida por seu marido tem um pequeno comentário mordaz que vai abalando sua confiança dia após dia. A falta de respeito mútuo a impede de crer em qualquer tentativa de carinho do marido. Ela sabe que sua vida é de fachada, mas isso é tudo o que tem. Ser mãe e esposa exemplar foi sua única construção ao longo da vida e quando isso deixa de ter sentido – os filhos cresceram, o marido a traiu -, sua existência fica limitada a desempenhar seu papel. Impecavelmente. A raiva é expressa nas acaloradas discussões com o marido, mas sua tristeza é muda. É nesse tipo de trabalho sutil que fica claro o talento de uma atriz como Shefali Shah.



O casal de pais ter tido sua própria história no filme é uma das características mais impressionantes do roteiro. Eles não foram colocados como meras escadas para explicar a história dos personagens mais jovens; Kamal e Neelam tem seus próprios problemas e anseios. É algo renovador e muito bem-vindo de se assistir em Bollywood, uma indústria cujos filmes são dominados pela narrativa da juventude.

Dil Dhadakne Do é um filme longo. Sua primeira parte gasta bastante tempo em eventos que parecem pouco importantes, como um vôo de Kabir ou um jantar na casa de Ayesha. Ao menos para mim, o tempo passou voando. Todo o tempo gasto na primeira parte foi importante para que pudesse ser construída uma relação entre quem assistia e quem estava sendo assistido. Kabir poderia ter dito mil vezes que não servia para os negócios, que nenhuma fala seria tão impactante quanto seu olhar perdido e desanimado enquanto conduzia uma reunião. Talvez por isso eu não tenha gostado do cachorro como narrador da história – e não, nem a voz do Aamir Khan mudou minha opinião. Entendo que Pluto fosse o único elemento da história que conhecia a todos e tinha uma visão sem as paixões e amarras humanas, porém o filme ser tão voltado à reflexão e às relações me fez entender que um cachorro na narração enfraqueceu o forte aspecto de humanidade da histórias. 

E foi essa humanidade que impediu que toda a profundidade do filme se perdesse em meio a tantos cenários, figurinos e atores belíssimos. A família Mehra é a prova de que o belo não nos toca quando estamos imersos em infelicidade. Nem a a beleza do Meditarrâneo ou as péssimas vozes de Farhan e Priyanka cantando puderam ofuscar as emoções dos Mehras – que foram as verdadeiras protagonistas da história. Se havia alguma dúvida de que Zoya e Reema conseguiriam fazer outra obra tocante, ela não há mais. Como as próprias disseram, uma história sobre pessoas ricas não é o mesmo que uma história para pessoas ricas. E Dil Dhadakne Do é um filme para todos.


A coluna Bollyfãs hoje traz a entrevista de uma pessoa que simplesmente não para de trabalhar. Joseli de Azevedo é paranaense e legenda filmes há anos. Traduzindo desde filmes de Bollywood até os de Tollywood e Kollywood, seu mais recente interesse são as séries paquistanesas e novelas indianas. Sua curiosidade sem limites por novas línguas e culturas sempre acaba se transformando em novas obras traduzidas para o português. Ignorando tradutores automáticos e traduzindo palavra por palavra, não é difícil encontrá-la envolta em dicionários de inglês, hindi e urdu pelas madrugadas. Ao terminar um trabalho, ela sempre diz que já deu, que cansou e que precisa de uma pausa...até encontrar um novo trabalho irresistível. Geralmente, um ou dois dias depois da decisão de fazer uma pausa.

Jo, como é chamada pelos amigos, conta sobre o processo de legendar, seu amor por Siddharth Narayan, a Fawadmania e seu mais recente trabalho - a novela Idhu Kadhala.

Você pode encontrar todos os trabalhos citados na entrevista no site do Cine Challo, assim como na página do Facebook do site.


Deewaneando: Como começou a sua história com o cinema indiano?

Jo: Começou com presente de um amigo. O DVD do filme Siddarth de 1972, que é uma obra adaptada de Herman Hesse que conta a história de um jovem brâmane que abandona uma vida de luxos e sai em busca de sua própria identidade. Músicas e cenários foram o que me atraiu.

Deewaneando: E isso foi em que ano?

Jo: 2003.

Deewaneando: Nossa, faz bastante tempo! E como você teve acesso aos filmes depois?

Jo: O bom e velho Youtube e acredite, o Emule. Pesquisava no Youtube e baixava só para constatar que não tinha legendas, imagem horrível e mesmo assim assistia.

Deewaneando: E você entendia alguma coisa? (risos)

Jo: Alguns filmes, absolutamente nada. Você assiste apenas pela atração das músicas e cenários. Parece mágico. Quando conseguia algo com legendas em inglês, ainda dava para entender algo. Mas quem gosta de cinema indiano não é comum, não é mesmo?

Deewaneando: Participávamos da mesma comunidade no Orkut (Quero Cinema Indiano no Brasil) e me lembro de que você passou algum tempo assistindo filmes, até que começou a legendar. Qual foi sua primeira legenda e como foi o processo de tradução?

Jo: A comunidade foi a maior conquista de todas na época. Dizer que você fez parte da comunidade do Orkut (QCINB) é inimaginável hoje para quem não conheceu. Ali todos se esforçavam por compartilhar tudo que era encontrado na net. Lembro que assistíamos filmes que a imagem eram apenas quadradinhos. Mas cada filme que surgia era um achado espetacular. E entrando neste clima de colaboração eu sentia necessidade de contribuir. Entrei num curso de inglês intensivo. Fazia 4 horas de aula diariamente. Um dia criei coragem e traduzi Kyun Ho Gaya Na da Aish e do Vivek (dois queridinhos meus). O processo foi lento, sofrido, angustiante, mas recompensador. A alegria com que foi recebida esta legenda eu jamais vou esquecer. E tampouco vou esquecer a sensação de ter contribuído com algo tão apaixonante.

Deewaneando: Qual foi a legenda mais difícil de fazer?

Jo: BOL, este filme me arrasa emocionalmente. E Mahabharat, que contei com a ajuda da Lalita. Os termos eram muito difíceis.

Deewaneando: Na internet, geralmente o público tem contato apenas com o produto da legenda finalizado e sabe pouco sobre como ele acontece. Quais são as maiores dificuldades ao legendar filmes indianos?

Jo: Todas as legendas disponíveis para os filmes indianos são de não profissionais. São pessoas comuns que querem compartilhar estas obras. Sem recompensas. Sem cursos, sem conhecimento, assim como nós. As legendas são difíceis de encontrar, difíceis de traduzir. Mas na minha opinião, são bençãos. Veja a quantidade de filmes disponíveis que temos hoje. E se você for verificar, nada é de profissionais. Apenas de fãs apaixonados.

A Isa falou num comentário na Mania de Bolly algum tempo atrás respondendo alguém...sobre legendar. Alguém falou que tinha já o Dil Dadhakne em português e Isa respondeu que quem hospeda as legendas dela era um site e que nos divertimos. Achei muito lindo. Não são apenas dificuldades. Nos divertimos também. 


Deewaneando: Você foi responsável pela introdução dos filmes de outras indústrias indianas no calendário de legendas. Percebo que tem um carinho especial por Tollywood, a indústria telugu. O que chamou a sua atenção nessa indústria? Como ela difere de Bollywood?

Jo: Os cenários, as vilas, as músicas, o apelo. Eles são de certa forma mais livres. Não é nada incomum ver cenas mais íntimas (beijo por exemplo) na indústria Tâmil e Telugu. Mas tudo muito meigo, muito cuidadoso. Os musicais são mais intensos e sempre tem aquela famosa cena de uma pancadaria. Culpa sua e da Sara, que ficavam falando dos masalas etc... bem, a indústria Tollywood sempre tem estas cenas e aprendi a gostar. E posso falar do meu amor por Siddarth? Adoro ele! Tolywwod é muito mais a minha visão da Índia dos velhos tempos que Bollywood.

Deewaneando: Você legendou muita coisa do Siddharth! Qual é o filme dele que você mais gosta?

Jo: Tudo? Não! Eu tenho um carinho especial por Bommarilu e Nuvvostanante Nennodantana. Um (NVNV) é rural com todos os ingredientes que eu adoro e o outro é muito meigo. Assunto sério tratado de forma muito leve, Bomarillu fala da relação pai e filho de forma muito doce.

Deewaneando: De onde surgiu o interesse por legendar as séries paquistanesas Zindagi Gulzar Hai e Humsafar?

Jo: Ahhh, essa é fácil! Zindagi seguiu Khoobsurat. Fiz o caminho que todo fã segue. Fui olhar as obras do Fawad e vi Zindagi. Lendo a sinopse você já é fisgada. A fórmula é esta, AMOR E ÓDIO. Romance clichê, eu admito que sou fã do gênero. Assisti a série em 2 dias sem parar. Que coisa mais linda. E que atuações. O elenco todo é ótimo. 

Humsafar foi apenas consequência. E não decepciona. Embora o elenco da primeira seja superior, na minha opinião.

Deewaneando: Concordo plenamente, apesar de às vezes achar que possa ter sido diferença de direção. Em ZGH as atuações eram mais naturais, enquanto Humsafar pendia mais para o melodrama.

Jo: Ou porque Zindagi foi dirigida por uma mulher?

Deewaneando: Verdade? Agora fez todo o sentido. Há tão poucas diretoras mulheres que as poucas que surgem geralmente fazem algo diferente. 

As séries fizeram bastante sucesso e já podemos dizer que há uma Fawadmania no cinema indiano. A recepção foi uma surpresa para você?

Jo: Foi sim! Mesmo sendo Fawad as pessoas resistiam bastante ao ouvir o termo SÉRIE. Foram muitas e muitas explicações que realmente a série termina ali no 26º episódio. E teve aquele preconceito inicial do "vocês estão apostando bastante neste ator" ou "você gosta bastante deste ator". Mas a recepção depois que aceitaram a série é fantástica. Jamais vou deixar de me surpreender pelo fato de muitos homens o elogiarem. Ele é um ator completo na minha opinião, perfeito. Bonito, talentoso, generoso, bem sucedido.

Deewaneando: A novela Idhu Kadhala tem feito muito sucesso. O que as pessoas têm dito? Por que essa repercussão toda?

Jo: A novela tem todos os ingredientes necessários. Enredo, atores competentes, beleza e muita, muita história. Muitos rituais minuciosamente detalhados. Tem até receitas detalhadas de comidas e até do famoso chai. Mas o que realmente atrai a maioria é o enredo. É o típico romance clichê (quem não ama?). Amor e ódio, gato e rato. A trilha sonora é maravilhosa e Rabba Ve é a grande responsável pelos corações acelerados. E a química entre o casal Barun Sobti e Sanaya Irani é espetacular.

Os comentários na maioria é claro são sobre o herói, Ashwin Singh Raizada. Um machão com toque delicado, amargurado, difícil mas extremamente verdadeiro. E ela, uma sapeca casca grossa punjab. Química perigosa.

Juntando a isso algumas histórias paralelas que se entrelaçam a cada episódio. Acho que a expectativa de ver os dois juntos é o que mais prende porque eles são absurdamente apaixonados, mas absurdamente teimosos e com um ego imenso. Mesmo podendo sentir as batidas do coração um do outro eles resistem, mas os deuses não desistem...Romance, drama, comédia. Isto é Idhu.

Deewaneando: Quais são seus filmes e atores preferidos no cinema indiano?

Jo: 3 Idiots, Jodhaa Akbar, Rang de Basanti, PK e Barfi. Atores: Aamir Khan, Ranbir Kapoor, Siddarth, Ranveer Singh e Irrfan Khan. E o Fawad que agora está no cinema indiano, né? Deixa ele de fora, não!

Deewaneando: Há algum clipe em particular que marcou você?

Jo: Oh céus. Isso depende do meu humor. Tem dias que adoro Dhoom Machale (risos).

Malang, gosto da imponência circense. Hona Tha Pyaar, adoro a música. Khwaja Mere Khwaja do Jodhaa Akbar, eu acho a coisa mais linda do mundo e aí tem quase todos de Rockstar, que eu adoro.

Deewaneando: Nos dê quatro indicações de filmes: para conhecer o cinema indiano, para se evitar, para se apaixonar e outro para transformar sua visão sobre ele.

Jo: Para conhecer: 3 Idiots, Barfi, Dil Dadhakne Do (tenho encantado os amigos), Jodhaa Akbar. Para evitar, Barsaat, Pyaar Impossible, What's Your Rashee, Koi...Mil Gaya. Para se apaixonar: Wake Up Sid, Band Baaja Baarat, PK , 3 Idiots. Para mudar sua visão: 3 Idiots.




O filme que você ama e todos odeiam? Saawariya.

Um ator ou atriz que não tem salvação? Sonam Kapoor.

O filme que você odeia e todos amam? Rab Ne Bana Di Jodi.

Alguém de quem você tenha desistido, mas que acabou surpreendendo? O Emraan Hashmi me surpreendeu com Hamari Adhuri Kahani.

Uma pessoa que deveria se aposentar? Preity Zinta.

A melhor dançarina? Me matem agora, mas eu prefiro a Aish.

Um filme que você não vê nem por um decreto? Krrish - depois de Koi...Mil Gaya (não).

Uma decepção? Bombay Velvet.

Um clipe que deu vergonha alheia? O da toalha do Ranbir. Sério, até hoje não entendo este.

Que outra profissão poderia ter...

Akshay Kumar? Personal Trainer. Ele leva jeito. Ou cafetão...(risos), também leva.

Priyanka Chopra? Priyanka leva jeito de executiva.

Riteish Deshmukh? Comediante.

Kareena Kapoor? Fashionista.

Fawad Khan? O que ele quiser, meu Deus. Perfeito. Marido?

Cite um erro de...

Imran Khan? Mesmice. Ele precisa se inovar.

Madhuri Dixit? Perfeição? Causa inveja...

Karan Johar? As últimas escolhas dele são questionáveis. Ele está detonando a carreira do Ranbir, por exemplo.

Genelia? Como vou dizer que acho que devia ter investido um pouco mais na carreira? Não acho que ela deva voltar, não.

Amitabh Bachchan? Alguns de seus filmes são questionáveis.

Qual filme nunca deveria ter sido lançado? São dois: Pyaar Impossible e Barsaat.

Khan favorito? Aamir.

O pedido mais estranho que já recebeu? Para traduzir um filme tâmil sem legendas. Para traduzir videos do Youtube em hindi, urdu. E recentemente uma novela sem legendas e nem sei o idioma. Coisa estranha, este mundo nosso. Povo acha que somos poliglotas.

Um artista que você pegaria, outro com quem você casaria e um que você mataria? Eu pegaria o Ranveer Singh. Eu casaria com o Fawad Afzal Khan. E mataria o Uday Chopra.

Filmes antigos são desafiadores. Por mais que se esteja acostumada a assisti-los, sempre haverá o estranhamento dos diferentes costumes vindos de outra época. O caminho comum é relevar o que for pouco importante e não esquecer que as ideias e hábitos de uma sociedade não permanecem os mesmos. Entretanto, há vezes em que nem todo esse cuidado é suficiente para impedir o horror com o diferente. E Chor Machaye Shor passou de todos os limites do aceitável.

A história não aparentava ter grandes problemas. Mocinho e mocinha se amam. Pai da mocinha rica não permite que a filha se case com mocinho pobre e o acusa falsamente de estupro para fazê-lo ser preso. Mocinho vai preso e foge com seus colegas de cela. Mocinho busca vingança. E aí começa a grande falha.

"Agora eu vou estuprá-la de verdade!"

Vijay (Shashi Kapoor), o mocinho que deveríamos admirar, vai até a casa de Rekha (Mumtaz) para estuprá-la. Segundo ele, era o momento encarnar o monstro que foi acusado de ser. Como torcer por alguém que usa da sua superioridade física sobre a pessoa que ama para subjugá-la e feri-la? Me recuso a aceitar tamanha brutalidade justificada pelos sentimentos de mágoa e ódio. Para piorar o quadro, Rekha diz que ele pode estuprá-la. Ele pede perdão e ela aceita o imperdoável.

Fosse apenas por esta cena, o filme já estaria ruim – porém, talvez fosse um problema pontual e a história seguiria um bom caminho. Pelo contrário, o roteiro utilizou do estupro repetidas vezes como gatilho para momentos dramáticos do filme. A banalização de uma forma violência tão hedionda foi o grande problema de Chor Machaye Shor. Em duas horas e meia de filme houve a primeira tentativa de estupro de Rekha, duas tentativas de estupro de uma aldeã pelo personagem de Danny Dezongpa – que era um dos “mocinhos” da história – e mais uma tentativa de estupro de Rekha por um dos vilões – e este deveria ser feito na frente de todas as pessoas da aldeia onde os personagens principais passaram a morar. Mocinhos ou vilões, todos os potenciais estupradores tentaram demonstrar seu poder sobre as vítimas. 

"Me solte. Isso machuca."



"Você estuprará a Rekha em público."

É enojante o tratamento pouco cuidadoso dado ao assunto. As vítimas não sofreram com os acontecimentos e nem ficaram seqüelas emocionais ou físicas. Foi parte do cotidiano delas e não influenciou em nada na história. A violência contra as mulheres muitas vezes é usada no cinema indiano como forma de justificar ou incrementar a narrativa dos heróis ou vilões. As personagens femininas são retiradas de suas próprias vivências para que estas possam servir a outros, então não há lugar para tristeza, sofrimento ou qualquer desdobramento esperado numa situação de estupro. A importância reside apenas em como isso afeta a jornada do homem da história.

Como reforcei o quanto é comum esse tipo de situação no cinema indiano, minha indignação pode parecer estranha. O que fez Chor Machaye Shor saltar aos meus olhos foram dois fatores: a grande quantidade de vezes em que o mesmo recurso foi utilizado e sua utilização tanto por mocinhos quanto por vilões. A visão geral passada é que dependendo do estado de espírito de um homem, seja lá qual for o seu caráter, uma mulher sempre estará em posição vulnerável.

Para além do seu maior problema, Chor Machaye Shor não é um bom filme. Sua história é cansativa, é impossível gostar dos personagens principais por tudo o que já foi relatado e as canções e clipes não são nada memoráveis. Para finalizar em um tom mais ameno, destaco o pouco que há de bom. A música Le Jayenge, Le Jayenge deu nome ao famoso filme de 1995 Dilwale Dulhania Le Jayenge, estrelado por Kajol e Shahrukh Khan. O clipe traz Shashi mostrando ao pai de Rekha que levará sua noiva embora de sua casa, mesmo com as objeções. É divertido, jovial e engraçado. Tudo o que o resto do filme deveria ser.


Hoje estréia aqui no blog a coluna Bollyfãs, que trará entrevistas com fãs do cinema indiano aqui no Brasil.

A primeira entrevistada é uma das mais antigas bollyfãs que conheço. Carioca, Isabela Lundeen tem 21 anos e acompanha o cinema indiano desde muito cedo. Além de escrever sobre o assunto, Isa vez ou outra legenda filmes.

Isa comanda o blog Mania de Bolly, além de ser co-autora do Kabhi Kabhie...Bollywood e do Cinema Indiano. Vocês podem encontrá-la comentando sobre as roupas do Ranveer Singh e outros temas na página do Facebook do Mania de Bolly.

Deewaneando: Isa, quando começou a se formar o sólido grupo de fãs de cinema indiano no Brasil, você era uma das poucas que já assistia os filmes há mais tempo. Como você conheceu o cinema indiano?

Isa: Então, eu tinha doze anos e nenhum conhecimento de cinema indiano além de Chori Chori Hum Gori Se (aquela música que se tornou viral por ter aparecido num filme ocidental, ela mesma), que eu sinceramente não associava a nada. Até que um belo dia minha mãe trouxe o filme Asoka para assistir em casa, já que uma conhecida havia indicado por se tratar do budismo. 

O filme terminou e ficamos imaginando que lição budista poderíamos tirar depois de tanto tiro, porrada e bomba com o Shahrukh, mas eu, que nem estava lá assistindo ao filme, fiquei de certa forma encantada. Havia algo diferente ali. E muito novo a nós duas (eu e minha mãe), tanto é que estranhamos muito as músicas, por exemplo, e alguns item numbers. Mas, no geral, nos encantamos. 

A iniciativa de baixar as músicas do filme não foi nem minha, foi dela, e com isso cheguei ao Youtube, pai de todos. No Youtube, fui começando a descobrir, pelos relacionados, músicas indianas de outros filmes e me apaixonando pouco a pouco por tudo aquilo. 

Anos depois, eu tinha assistido a no máximo mais dois filmes indianos - e a duras penas, porque era difícil encontrá-los em algum lugar. Até que cheguei à comunidade no orkut, que ajudou a tornar tudo mais acessível.


Deewaneando: Do que você gosta e desgosta no cinema indiano? Quais artistas e filmes lhe interessam?

Isa: Eu gosto, adoro, amo a sensação gostosa que só os filmes indianos podem trazer. As músicas, os momentos musicais, os clipes, os cenários. É tudo muito único, que até hoje não encontrei em nenhum outro lugar. Toda essa combinação de momentos sempre tornou o cinema indiano muito especial. Sem dúvidas, sou muito fã do trabalho do cinema indiano enquanto arte e poesia, principalmente no que diz respeito à música. Mas também sou mais que capaz de admirar o quanto a indústria anda crescendo e deixando de lado muitos clipes sem sentido e tornando as histórias um pouco mais coesas no todo. 

Gosto muito dos atores também. Não sei por quê, eles acabam se tornando seu mundinho particular. Aqueles indivíduos por quem você se interessa e sabe por que são especiais. Ou então aquele outro com quem você se surpreende por ser talentoso não só em dançar, rs.

Já falar do que não gosto é fácil também. O cinema indiano é o cinema do exagero. Às vezes, cai muitíssimo bem, para o romance, para o drama, para a comédia. Mas, também, às vezes, é inusitado até demais, ao ponto de ser entediante. Por esse motivo, não sou muito fã de masalas, por exemplo, ou filmes dos anos 80.

Confesso que gosto de muitos artistas porque não tem como não gostar! Mas certamente filmes com os seguintes vão me despertar a curiosidade: Vidya Balan, Farhan Akhtar, Rani Mukerji, Ranveer Singh, Ranbir Kapoor, Aamir Khan (nem sempre e nem tanto, mas sei que ele é genial), Madhuri Dixit e Amitabh Bachchan depois de mais velho. Claro que também tenho um carinho especial pelo Shahrukh - mas duvido um pouco da escolha de filmes do pobre homem ao longo da carreira.

Quanto a filmes, gosto muito de ver coisas... diferentes. O cinema indiano, justo pela abundância de filmes por ano, acaba se tornando muito igual, muitas vezes. Quando surge algo que, ao meu ver, é diferente, eu adoro. Filmes como 3 Idiots (tem como não amar?), Kahani, Talaash, Band Baaja Baaraat... Consigo ver a beleza dos clássicos (e adoro muitos), mas o apelo do novo é muito instigante pra mim.

Deewaneando: Voltando à comunidade do Orkut, como foi esse encontro com outros fãs?

Isa: Foi muito bom. Antes, era só eu a gostar. Eu e os indianos do Youtube, rs. E isso restringia as pessoas com quem eu podia conversar sobre cinema indiano demais. Com a comunidade, pude encontrar pessoas que conhecessem o cinema indiano, gostassem de atores, filmes e músicas em comum ou não. Ou seja, trouxe uma troca muito gostosa, de opiniões e gostos diferentes, de pontos de vista. Também de momentos de "tietagem" com nossos indianos que só nós conhecíamos e achamos lindos. Com nossas atrizes também. Enfim, foi muito importante encontrar um espaço com pessoas que gostassem do que eu gostava e que me acolheram tão bem. Não me sentia mais sozinha no meu gosto pelo cinema indiano e também aprendi muitas coisas novas, juntos trocamos muitas informações, notícias... Sinto falta de toda a integração com bastante gente como era no Orkut, mas até hoje procuro manter contato com os fãs como eu: afinal, quem mais vai me entender?

Deewaneando: Você tem um filho, o Dimitri (9 meses). Ele parece adorar uma bagunça. Já tem músicas favoritas?

Isa: Ih... Em relação ao Dimitri está difícil. Ele não quer sair da Galinha Pintadinha! Não sei também como vou fazer pra introduzir filmes indianos pra ele, visto que todos necessitam de legendas, mas ainda vou conseguir. Por enquanto, já cantei muito Jiya Jale pra ele - não me pergunte por quê, nem eu saberia explicar - e músicas de Devdas pra ele dormir. Ele estranhava bastante a voz da Shreya Ghoshal quando menorzinho, acho que por ser um pouco estridente.



Deewaneando: Já pensou em qual filme seria bom para ele começar?



Isa: Que pergunta difícil! Não poderia ser nenhum filme muito sério, ou que contivesse muito tiroteio, sangue, drama. Algo leve e engraçado, talvez... Algo como Rab Ne Bana Di Jodi ou o próprio 3 Idiots (que filme versátil!).

Deewaneando: Já são 7 anos como fã. O que mudou na forma como você assiste e entende o cinema indiano?

Isa: Tudo. Em primeiro lugar, a paciência. No começo, conseguia assistir de tudo e sempre queria mais. Hoje, dependendo do contexto, do tipo de filme, não consigo sair da primeira hora. Como vi o crescimento e amadurecimento de muitos atores famosos, começo a querer que todos sigam o mesmo patamar. 

Em segundo lugar, comecei a ter um senso crítico um pouco mais apurado pra certas questões que estão sempre logo ali nos espreitando em muitos filmes, como o machismo, que é gritante em muitos filmes. Por mais que seja uma questão cultural, não consigo deixar de refletir em cima disso.

Em terceiro e último lugar, justamente por causa dos motivos anteriores, por saber da capacidade do cinema indiano e dos atores e atrizes, não consigo assistir a todos os tipos de filmes mais. Ou assisto e não gosto. E por aí vai. Isso sem contar com os filmes dos quais só aproveito a trilha sonora, porque o filme em si...

Deewaneando: E que filmes foram esses que andaram decepcionando você?

Isa: Eu não vou responder em nomes, mas sim em épocas e atores: filmes mais antigos de atores como Shahrukh Khan, Aamir, Kareena Kapoor, enfim, deu pra entender a ideia, são bem chatinhos. Alguns regionais também parece que empacaram no tempo.

Deewaneando: Tem algum “prazer culposo” no cinema indiano? O que a faz sentir-se uma deewani?

Isa: Tenho alguns. Principalmente aqueles clipes que você procura não abrir na frente de ninguém porque você sabe que são bizarros demais (vide Amitabh vestido de mulher ou Akshay Kumar dançando de cigano). Também adoro filmes com interação com crianças, tipo Ta Ra Rum Pum e Thoda Pyar Thoda Magic (confesso que Rani Mukerji + Saif Ali Khan + crianças é uma combinação irresistível). 

O que me faz sentir uma deewani: o fato de ter entrado num restaurante, em plena Hollywood, dançando e cantando só porque ouvi Nazrein Milli tocando. Se isso não é ser deewani, não sei o que poderia ser.

Deewaneando: Nos dê quatro indicações de filmes: para conhecer o cinema indiano, para se evitar, para se apaixonar e outro para transformar sua visão sobre ele.

Isa: Pra conhecer: 3 Idiots. Sempre. Para se apaixonar: aposto em 3 Idiots de novo, e em Om Shanti Om. Para transformar sua visão sobre ele: pra quem acha que cinema indiano é só música sem conteúdo, filmes como Lage Raho Munna Bhai. Pra se evitar: até ser muito fã, passe longe dos filmes do Akshay Kumar ou dos masalas mais pesados como Singham e Dabangg.

Deewaneando: Agora manda um recado.

Isa: Queria mandar um beijo pra Helen. E pro Aamir. E pra minha mãe.

Para finalizar, meu nosso momento favorito: Koffee With Carol!


Melhor ator ou atriz? Ranveer Singh. Me julguem.

Pior ator ou atriz? São tantos...Preity Zinta.

O filme que todos amam, mas você odeia: Ram-Leela.

Um clipe: Tu Cheez Badi Hai Mast.

Defina as seguintes pessoas em uma palavra:

Aamir Khan: Malang
Parineeti Chopra: Versátil
Ranveer Singh: Futuro (marido)
Deepika Padukone: Sortuda
Shahrukh Khan: Passado
Kajol: Louca
Salman Khan: Masala
Sonam Kapoor: Morcego

O que você encontraria no quarto de...

Ranbir Kapoor? Alguma mulher aleatória.
Ranveer Singh? Euzinha.  Mentira, um guarda-roupa muito bizarro!
Kareena Kapoor? Ai... Sapatos, muitos sapatos. Ela tem cara de quem curte um sapato.
Aamir Khan? Um quarto bem confortável no qual ele possa, realmente, descansar e não pensar em trabalho!
Sonakshi Sinha? Vários itens de patricinha: esmaltes, maquiagens, tudo e um pouco mais.
Sanjay Dutt? Drogas.

Um artista de quem sente falta? Madhuri Dixit (em bons filmes).

Um artista que não faz falta nenhuma? São tantos também... Acho que a Kajol. (Sendo crucificada em 3, 2, 1...)

Um artista que você pegaria, outro com quem você casaria e um que você mataria? Pegaria: Randeep Hooda (culpa da Jo). Casaria: Ranveer Singh. Mataria: Uday Chopra.
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"DEEWANEANDO"?

Devanear = divagar, imaginar, fantasiar. Deewani = louca, maluca. Deewaneando = pensar aleatória e loucamente sobre cinema indiano.

Meu nome é Carol e sou a maior bollynerd que você vai conhecer! O Deewaneando existe desde 2010 e guarda todo o meu amor pelo cinema indiano, especialmente Bollywood - o cinema hindi. Dos filmes antigos aos mais recentes, aqui e no Bollywoodcast, seguirei devaneando sobre Bollywood.

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