Veer-Zaara foi um dos primeiros filmes indianos que assisti. É fácil lembrar da minha alegria ao encontrar mais um filme com Shahrukh e Preity Zinta, que eu amava tanto por conta de Kal Ho Naa Ho. Todas as fotos sugeriam um filme grandioso e com muitas paisagens naturais – dois elementos mais do que suficientes para me capturar até hoje. Gostei do filme e percebi sua importância, mas foi apenas ao reassisti-lo recentemente que entendi a extensão do encanto de Veer e Zaara. Sinto saudades daquele Shahrukh Khan.
O clássico moderno de Yash Chopra nos traz Veer Pratap Singh, líder de esquadrão da Força Aérea Indiana. Veer resgata a jovem Zaara de um acidente de ônibus que sofreu enquanto viajava até a Índia para realizar o último desejo da criada que acompanhou por toda a vida: imergir suas cinzas nas águas de seu país natal. O piloto decide ajudar a jovem paquistanesa em sua jornada e apresentar as belezas da Índia para ela, que aceita o convite. É durante esta jornada que surge o amor entre eles, mas o sentimento já nasce fadado ao fracasso: Zaara é filha de um poderoso político paquistanês e está noiva de um jovem cuja família é uma conexão política essencial para seu pai. Resta a Veer lutar por seu amor.
Este filme vem da linha de filmes dos anos 2000 que passaram a representar de forma diferente as relações entre Índia e Paquistão. Nos antigos filmes patrióticos, o Paquistão geralmente era retratado como o inimigo que deveria ser combatido e a guerra entre os países servia como pretexto para exaltar os soldados indianos e o orgulho da própria terra. Em Veer-Zaara, a rivalidade entre nações é usada para aumentar a distância e os obstáculos enfrentados pelo casal. A inimizade deixa de ser familiar e passa a ser entre países, dignificando o casal que luta para se unir e também dando uma dimensão maior ao seu amor.

Zaara é uma heroína espevitada, geniosa e engraçada, porém não contribui de forma tão intensa quanto Veer para a percepção de que aquele amor vence todas as barreiras. Ela é uma fonte de inspiração para as pessoas à sua volta: inspira o tio de Veer a construir escolas para meninas e o próprio Veer a lutar por ela. Sua participação na história principal começa a ser construída quando descobre-se apaixonada pelo piloto indiano, mas suas batalhas por esse amor ficam ocultas durante quase todo o tempo de exibição do filme. Em sua maior parte vemos Zaara sofrendo pela distância do amado e sendo surpreendentemente submissa diante do pai. A Carol de 17 anos provavelmente me mataria ao ler isso, mas reassistir me fez notar que Preity Zinta não tem um grande potencial dramático. Não é uma atriz ruim, pois falta total de talento seria transparente e destruiria um filme como esse. Entretanto, é visível que sua entrega em cenas muito emotivas fica aquém da de Shahrukh Khan. Sejam suas lágrimas ou mesmo a forma como diz suas falas, tudo o que emprega para demonstrar amor e tristeza carece da dor, e até mesmo do quê de desespero que uma história de amor maior que a vida exige.
O que falta nela está presente em Rani Mukerji. A advogada Saamiya Siddiqui é idealista e sua forma de ver o mundo e mover-se nele só é possível (e plausível) em um filme assim. Saamiya fala sobre justiça, honestidade e respeito em termos simples e diretos como os usados por uma criança ingênua. Isto faz com que sua conexão com Veer seja fácil de compreender para quem assiste. Saamiya é tão crente na força da honestidade quanto Veer, porém sua insistência em seguir apenas o caminho correto não é tão forte quanto a dele. Sobra espaço para que a jovem possa aprender algo sobre persistência com o nosso herói. Afinal, ele não pode perder o papel de único ideal de perfeição da história. Isto não a impede de ser alçada ao posto que uma advogada em uma história assim deve ter: ela não é vista apenas uma profissional dedicada, mas sim como um anjo enviado para agir por meio da justiça dos homens. Rani certamente respondeu o desafio à altura.
Esta é uma obra clássica e sua trilha segue esta ideia. As canções foram baseadas em composições antigas não-lançadas do diretor musical Madan Mohan, falecido há muitos anos. Seu filho decidiu utilizar as músicas do pai e Lata Mangeshkar entrou no projeto especialmente devido ao seu carinho pelo falecido compositor. Cada faixa é mais fantástica que a outra, mas não deixa de ser estranho ouvir a voz envelhecida de Lata saindo dos lábios da jovem Preity. Minhas favoritas de anos atrás seguem sendo-o hoje, especialmente Aisa Des Hai Mera, Lodi e Aaya Tere Dar Par. Aisa Des Hai Mera apresenta uma bela e impossível Índia, tão necessária para dar o tom de encanto do romance. Lodi é o alegre musical de festival que não pode faltar em filmes clássicos, pois apresenta o lado jovem e divertido dos personagens principais. Outro ponto que o faz ser cativante é pôr em evidência o amor de um casal mais velho, representado pelos impecáveis Hema Malini e Amitabh Bachchan. Por fim, Aaya Tere Dar Par traz os anos 60 para a tela. É um qawwali tradicional, no qual os músicos estão presentes em cena e cantam com vigor a dor dos personagens. O musical é fundamental para estabelecer a transição do romance para o drama na história.
Veer-Zaara é o romance à moda antiga que consegue ser atemporal. Helicópteros modernos e telefones antigos participam da mistura de elementos que tornam impossível localizá-lo em alguma época específica. Um dos grandes acertos de Yash Chopra foi ter criado uma Índia utópica, na qual não há problemas. Isto deixa todo o espaço para o romance principal e ele se torna o único centro da atenção do espectador. Um romance tão destacado do mundo real dá permissão para falas românticas intensas. É nisto que falham outros romances que comentei, como Hamari Adhuri Kahani. Uma fala maior que a vida precisa estar inserida num mundo maior que a vida.
Houvesse maior participação da heroína nos momentos de maior drama do filme e fosse sua interpretação à altura da entregue pelo herói, Veer-Zaara provavelmente seria um dos meus filmes favoritos. Mas isso é questão de gosto pessoal e do que se escolhe para colocar um filme em uma categoria especial aos próprios olhos. Nada que não me faça reconhecer que este é um filme entre um milhão.
3 comments
Você me faz querer gostar do filme lembro o texto. Mas... algo falha. Talvez algum dia do reassista para tentar explicar.
ResponderExcluirEscreve belamente, menina Carol.
lendo*
ExcluirTalvez você goste da parte mais tensa, logo após Aaya Tere Dar Par. Acho a mais legal!
ExcluirÉ infinitamente gentil, menina Isa.
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