Dilwale (2015)

"O que a Kajol está fazendo neste filme?" foi a pergunta que mais me fiz enquanto assistia a Dilwale. O diretor Rohit Shetty não esconde que faz filmes apenas para entreter. Sua série mais famosa, Golmaal, definiu um estilo que sempre me divertiu muito: cores fortes, piadas horrorosas e carros voando para todo lado enquanto um elenco gigante passa de uma cena louca e mal escrita para outra ainda pior. É previsível, estúpido e vergonhosamente divertido. Um prato cheio para quem aprecia o estilo, mas uma escolha estranha para uma atriz que limitou bastante sua gama de filmes após o nascimento dos filhos. Os últimos filmes de Kajol foram We Are Family e My Name Is Khan, e em ambos pudemos perceber que suas escolhas agora tendiam a ser para filmes em que tivesse bastante espaço em cena, onde houvesse personagens com conteúdo e bagagem nas quais pudesse aplicar as habilidades de atuação que muitas vezes foram desperdiçadas em romances com personagens de pouca importância para o curso central da história. Kajol está num ponto em que pode escolher quando sair de casa para atuar no que bem quiser, fato que dificultou bastante entender por que decidiu voltar após uma pausa de cinco anos para encarar Dilwale. Logo Dilwale.

"Você sabe por que estou aqui?"
Kajol é apresentada na última aventura de Shetty como Meera, mulher que tem um romance mal terminado com Kaali (Shahrukh Khan). Kaali atuava na vida do crime juntamente com seu pai e saiu daquele universo para cuidar de Veer (Varun Dhawan), seu irmão menor. Sua história com Meera foi interrompida de forma traumática e ambos decidiram nunca mais se ver, mas seu desejo é atrapalhado pelo romance de Veer com a jovem Ishita (Kriti Sanon). Não darei spoilers, mas se você tem um mínimo conhecimento de Bollywood já fica fácil imaginar como tudo se desenrola.

Shetty nunca primou pela sutileza. Em cinco minutos de filme aprendemos didaticamente que Kaali é um personagem emocionalmente perturbado, com bom coração e que aprecia imensamente sua família. Os laços afetivos entre personagens masculinos são figurinha carimbada em Bollywood e neste filme são representados pela ligação entre Kaali e Veer. O personagem de Varun Dhawan é o do bobo alegre e provavelmente foi a pior atuação que este rapaz já apresentou em sua vida. Em vários momentos é possível o espectador questionar se a intenção de Varun foi interpretar como se o personagem tivesse algum atraso intelectual. Seus recursos foram muitas bocas abertas, voz estridente e olhos constantemente arregalados. É o tipo de trabalho que me fez pensar que Badlapur foi uma alucinação que tive.

Kriti Sanon teve mais espaço neste post do que no filme
Infelizmente o resto do núcleo cômico não entrega nada muito melhor que Varun. Johnny Lever e Boman Irani, dois atores consagrados no gênero, parecem uma piada repetida muitas vezes - perderam a graça. Sei que é injusto reclamar da mesmice em Johnny Lever, já que seu trabalho de fato é como character actor: um coadjuvante que sempre é posto como alívio cômico ou excêntrico, na mesma linha de atores consagrados como Johnny Walker e Mehmood. Ainda assim, na Bollywood de hoje seu tipo de personagem parece datado. Quanto a Kriti Sanon, realmente não houve muito material para mostrar suas habilidades. Gostei muito de seu desempenho em Heropanti e estava animada para vê-la mais uma vez, mas seu papel aqui resume-se a ser escada para as estripulias de Varun Dhawan. Espero poder vê-la sendo menos desperdiçada no futuro.


Talvez o maior problema deste filme seja a tentativa de um diretor de comédia tentar equilibrar o gênero com um romance mais substancial. Rohit Shetty claramente não tem ideia de como criar ambientes emocionantes para seus momentos românticos, o que o levou a apelar para qualquer clichê disponível, como câmeras lentas, olhares profundos e suspiros. Gerua foi provavelmente um dos piores clipes românticos da carreira de Shahrukh Khan, com cenários artificiais, vestidos esvoaçantes para Kajol e muitas poses. A artificialidade é tão gritante que em alguns momentos parece uma paródia dos clipes românticos de Shahrukh. Infelizmente o clima também predominou nas cenas e diálogos, outro amontado de frases pouco inspiradas. A única coisa que dá um mínimo de credibilidade ao romance é a sintonia inegável entre Kajol e Shahrukh. Apesar de não desgostar da dupla, jamais vi a mesma graça nela que os fãs do casal costumam ver e apenas gostava deles como gosto de qualquer outro casal que o Shahrukh já tenha feito. Mas em Dilwale foi provavelmente a primeira vez que senti o efeito da combinação, pois ficou muito clara a cumplicidade entre ambos, traduzida em facilidade para nos convencer de um amor muito mal explicado pelo roteiro. Se não fosse por eles, seria impossível comprar essa história de amor. Fora isso, não houve muita coisa a aproveitar (talvez os carros voadores, estes sempre me deixam feliz).


Talvez sejam a familiaridade com seu par romântico e a amizade de longa data de seu marido, Ajay Devgn, com o diretor que acabaram fazendo com que Kajol decidisse estar neste filme. Mas acredito que não seja só isso. O roteiro de Dilwale é um dos maiores casos de desperdício de uma boa ideia no cinema indiano. O conceito do ódio entre ex-apaixonados, uma heroína com tanto lugar de fala e espaço em cena quanto o herói e, acima de tudo, um romance entre protagonistas mais velhos funcionariam muito bem com diálogos melhor trabalhados e um diretor mais adequado. No lugar disso recebemos um filme que claramente tenta se firmar em nada mais que o carisma e sucesso de seus protagonistas para vender mais ingressos. Dilwale é ação que não impressiona, romance que pouco emociona e comédia que não faz rir. Certamente Shahrukh Khan e Kajol mereciam mais que isso.

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