Band Baaja Baaraat (2010)

Semana do Poder Feminino - Post # 1

Personagem do dia:
Shruti Kakkar



Estou um pouco nervosa em relação a este texto. Primeiro, porque tenho que explicar o porquê de achar que merece estar na Semana do Poder Feminino. Segundo, porque foi um dos poucos filmes que amei tanto ao ver que já revi no dia seguinte, coisa que só acontece com pérolas como Amar Akbar Anthony e 3 Idiots. E terceiro, porque Shruti Kakkar é uma das minhas personagens favoritas no cinema indiano.

Pois bem. A estreia do diretor Maneesh Sharma, Band Baaja Baaraat, nos apresenta Shruti Kakkar, a melhor personificação da tal mocinha alegre, falante e cheia de vida da Anushka Sharma. A moça está se formando na faculdade e sonha em abrir sua própria agência de casamentos, que já tem até nome: Shaadi Mubarak. Conhece Bittoo Sharma em um casamento no qual trabalha como assistente e sua primeira impressão dele não é lá das melhores: penetra, bagunceiro, metido a esperto, infantil e ainda fica flertando com ela. Pouco depois ele descobre sobre os planos da agência de Shruti e dá pouca importância à ideia, só voltando à sua mente em um momento de desespero no qual grita ao seu pai que não voltará para trabalhar com ele na fazenda porque tem o grande plano de abrir uma agência de casamento. Shruti inicialmente o corta de seus planos, mas acaba percebendo que podem formar um grande time. Sua única exigência é que ele não tente misturar amor com negócios, o que é tranquilo para ele. Mas aí a coisa muda de figura quando ela se vê apaixonada.

Shruti curtindo o papo.

A sinopse parece ser de um romance qualquer, não é? E BBB talvez não passe muito longe disso. Mas na minha vida e aos meus olhos, o impacto de Shruti Kakkar foi enorme. Em primeiro lugar, ela não era daquele tipo clássico de figura feminina sem interesse por romance que tantos filmes mostram: estúpida, nerd, no fundo sonhando com um príncipe. Ela é uma moça alegre e bem resolvida; não querer misturar amor e negócios foi uma conclusão lógica a que chegou. Quando mais tarde se vê apaixonada pelo sócio, assume uma atitude muito imatura nos negócios, não conseguindo conviver com ele e sendo a principal responsável pela destruição de tudo o que construíram. Foi neste ponto que a personagem me encantou: ela estava errando, manifestando em um contexto muito mais sério a imaturidade que tanto acusava Bittoo de ter. Daí ela passou de alguém preso a um filme para uma pessoa possível de existir, passível de cometer erros como eu ou qualquer amiga minha. O erro é fundamental para eu me identificar. Nunca se vê nada de errado na doce moça da aldeia ou na deusa-mãe, mesmo que elas claramente façam coisas absurdas como dizer ao filho bom que o problemático sempre foi seu favorito.

Ela se transforma e vê o mundo diferente.

Também se decepciona.

Chora, se martiriza, muda. É humana.

Há mais para me fazer acreditar na Shruti, além dos seus erros. Um aspecto curioso de sua relação com os pais é que eles querem acima de tudo que a filha se case, apesar de darem todo o apoio necessário para seu desenvolvimento profissional. Como a própria diz em um momento, eles querem que ela se estabeleça, sendo o casamento a ideia de segurança e estabilidade que sua criação e geração tem. O mais interessante é que todos parecem entrar em uma espécie de acordo: ela é livre para montar sua empresa e ir trabalhando em seu sucesso, desde que se case após alguns anos com quem quiser. Ela cede, eles cedem. Para mim não é o ideal, porém parece algo muito honesto. Não sei como são os pais nas grandes metrópoles indianas, mas esse meio-termo que eles encontraram soa como uma conciliação entre as crenças dos mais velhos e as necessidades da jovem indiana atual. Talvez eu não acreditasse tanto se eles apenas aceitassem tudo o que ela propôs e nunca sugerissem casamento. O mais bonito da relação, além do respeito mútuo, é ver que a família claramente se orgulha das conquistas da filha e acredita nela; não encaram sua vida profissional como apenas um capricho até o matrimônio. Eles vão ao primeiro casamento organizado por ela e ficam maravilhados, também ficam felizes com o carro que consegue comprar. Apoiar é bem mais que apenas tolerar.

Pai fofo!

É por tudo isto que acredito na Shruti e penso que ela deve ser uma das personagens desta semana. Ela faz escolhas e arca com suas consequências, é uma mulher que tem nas mãos o controle de sua vida desde cedo. Não é todo dia que vemos uma personagem assim no cinema comercial. Pois bem, além de a personagem em si já ser sensacional, ganhou toda esta dimensão graças à bela atuação da Anushka. A cena em que ela chora após se decepcionar com Bittoo está na minha lista de favoritas, é tocante e suas lágrimas são tão sinceras que machucam. Vou me repetir, mas é necessário: ela brilha. Para mim, BBB não teria nem 80% de sua graça sem Anushka.

Tudo muito bonito e muito poder feminino rolando, mas há alguém chamado Bittoo Sharma gritando "Ei, também estou no filme!". Enquanto primeira atuação do Ranveer Singh posso afirmar que fez um bom trabalho, especialmente nas expressões de moleque que acredita estar no topo do mundo. E o garoto sabe dançar, Helen seja louvada! BBB é um desses filmes raros que mostra duas pessoas diferentes se conhecendo, trocando experiências e completando as faltas do outro com suas qualidades. Shruti sabe como Bittoo é e se diverte com ele. Ele gosta mais de arriscar (até nos negócios), enquanto ela tem o pé no chão. É a ousadia dele que os permite dar o passo fundamental para sua agência crescer. Às vezes até fico com a impressão de que cresceram rápido demais em pouco tempo, aí lembro que não sei nada do mercado de casamentos e que é um filme comercial, então fica tudo bem. Sem contar que eles não fazem nada além de trabalhar incessantemente! Enquanto conversam e trabalham juntos, vemos crescer a relação de confiança e carinho entre eles, relação esta que lhes faz muita falta quando quebrada.

Bem-vindo a Bollywood, Ranvs!

Alerta de spoilers agora!

No meu primeiro contato com a história, não gostei da reação pós-sexo da Shruti. Me pareceu confirmar certos estereótipos de que as mulheres são mais românticas, coisa e tal. Entretanto, vi o filme mais vezes e mudei de opinião. Elas não aparecem, mas vez ou outra Shruti fala sobre garotinhas bobas com quem Bittoo sai. Enquanto ele tem uma vida amorosa ativa, o mesmo não ocorre com ela. Shruti é bem mais fechada emocionalmente, então a diferença entre sua reação e a de Bittoo vem muito mais do choque entre personalidades do que por uma suposta fragilidade feminina. Shruti sente que com ela não é como com as outras porque eles tem uma história juntos, uma cumplicidade, uma confiança, tanta coisa! Pode soar estranho, mas ela foi corajosa em abraçar sua recém-adquirida vulnerabilidade. Shruti se abriu para coisas que iam totalmente contra seu plano de vida, para alguém que ia contra tudo o que queria num parceiro ideal.

Quanto ao Bittoo, realmente não o culpo por não se sentir do mesmo modo. Se há algo pelo que os dois merecem um tapa é por não terem conversando abertamente sobre o acontecido. Mas havia tanta coisa em jogo, não me admira o pavor - principalmente dele - de estragar tudo.

Fim dos spoilers!


Uma vez estava conversando sobre toda a situação dos dois com a Lilian e a Jo, amigas da QCINB. A Lilian disse estar cansada dessas histórias em que a mulher é supostamente mais sensível que o rapaz e decide "esperar" até ele também perceber o amor que ela já havia visto. Provavelmente é meu intenso amor pelo filme que me faz ver diferente. Como já disse, em BBB muito é justificado pelo embate de personalidades. Ela percebeu que o que estava sentindo era mais forte que o normal porque a estava desfocando, coisa que não acontecia. Já ele, não acredito que tenha demorado para "notar" o amor. Minha teoria com BBB é de que ele realmente não a amava até mais para o final do filme, quando se reencontram e já estão mais cordiais. Acredito que o amor dele tenha começado a crescer a partir do momento da separação e eclodido lá no clímax adorável, enquanto o dela foi mais rápido e (um pouco) mais estável. Mas tudo é teoria. Como aconteceu quando vi Junoon (este filme é tão bom!), criei explicações e passei a acreditar nelas.

Ufa...chega dessa discussão amorosa toda, porque Band Baaja Baaraat é muito divertido! Tem cores lindas, fortes e menos incômodas que Ladies vs Ricky Bahl, combinando bem com o clima jovem e urbano da história. Espero que a pessoa que montou o figurino da Anushka cobre barato, porque vou pedir para montar uns para mim assim que me formar. Já o do Ranveer...deixa pra lá.


Trilha da dupla Salim-Sulaiman. Todas as músicas são ótimas. Meu primeiro amor foi Baari Baarsi, cantada por Harshdeep Kaur, Labh Janjua e Salim Merchant. A Anushka fez cada ação indicada pela música se expressar em seu rosto, não tive como não amar. Sabe a sensação de ver um clássico nascer? Então.

Ainvayi Ainvayi, cantada pela Sunidhi Chauhan e por Salim Merchant, é uma forte expressão da química do casal principal, juntamente com a também muito divertida (no contexto) Dum Dum, cantada por Benny Dayal e Himani Kapoor.

Falei em outro post sobre como estava desanimada com filmes indianos na época do lançamento deste. Não tenho problemas com clichês e previsibilidade, desde que me deem uma história envolvente e consistente. Mesmo sabendo que tinha o Habib Faisal - a quem venho idolatrando - como roteirista, não esperava nada de bom de Band Baajaa Baaraat. Até mesmo olhei com certo nível de desprezo quando vi que era da Yash Raj Films e tinha um estreante musculoso/filho de pai rico. Fico extremamente feliz em dizer que superou minhas expectativas e recebi um filme com uma leveza que não o impediu de ter uma boa base emocional. Se todo entretenimento for assim, já vou garantir minha estada por mais uns dez anos em Bollywood.

8 comments

  1. Band Baaja Baaraat! Claro que seria o 1º \o/

    Também gostei muito do filme, confesso que no início eu não estava dando muita bola pra ele, mas quando vi a Anushka brilhando eu amei!!

    "Pode soar estranho, mas ela foi corajosa em abraçar sua recém-adquirida vulnerabilidade. Shruti se abriu para coisas que iam totalmente contra seu plano de vida"

    Carol, esse trecho é perfeito para resumir o poder da Shruti, ser forte não é apenas estar acima de todas as convenções sociais, mudar convicções e assumi-las é uma das maiores demonstrações de coragem.

    Parabéns pelo post e pela semana do poder feminino!!!

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  2. Anônimo2/3/12

    Para mim o verdadeiro poder da Shruti não se encontra numa áurea de mulher super-poderosa, e sim, no fato de ser simplesmente mulher. Uma pessoa que acredita em si mesma, que valoriza quem é, tem foco, sonha com um futuro melhor pra ela, defende suas idéias e comete erros.




    Raquel.

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  3. Preciso dizer que amo BBB?? Não! Bem BBB foi meu primeiro filme com a Anushka, a menina já se mostra a longos passos de uma rainha (falo isso também por causa de RNBJ). Bem eu amei a Shruti, sua personalidade viva, seu atitude impulsiva apesar de manter os pés no chão. A garota exala poder feminino das suas entrahas, mas me recordo de ter reclamado no QCINB dos chiliques que a Shruti deu na cena pós-sexo e enfatiza que ela foi quem pediu a ele que não confundisse as coisas (amor e negócio), mas depois de assistir outras vezes percebi que naquele momento ela não mostrou que é como as outras garotinhas que só pensam em romance, ela definitivamente se mostrou mulher com medos como qualquer outra, e isso foi incrível porque pude perceber que ela não a mulher maravilha, mas sim uma mulher, que pode cuidar de se, que pode lutar e que mesmo possuindo medos pode vencer. Com certeza essa é uma personagem que tem muito a acrescentar no cenário feminino indiano.

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  4. Eu adoro esse filme...Logo que Band Baaja Barat foi legendado assisti e fiquei encantada com a possibilidade de ter filmes novos que não fossem forçados e chatinhos. A Anushka Sharma fez uma mocinha muito real, não era um personagem, era uma mulher inteligente, decidida e fadada ao sucesso por ter visão. O que achei é que o mocinho era doido e meio que pegou carona no sucesso que ela certamente teria, era uma loucura que deu certo, ele realmente a completou. Fiquei triste com as cenas pós noite de sexo, ele fez as caras e bocas e se distanciou como todo cafajeste faria, e isso tbm foi bem real... senti uma mensagem subliminar para as moças da Índia tipo Olha o que os meninos querem, olha o que acontece depois...apesar desse momento a descoberta do amor e ver ele nascendo neles foi bem bacana! Amei seu texto...amei!

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  5. Band Baaja Baaraat!

    Amei esse filme uma menina inteligente linda correndo atrás de seu sonho na verdade no inicio era só isso que importava massss derrepentemente o destino botou um certo amor em seu caminho dai ela se permite amar chorar acaba quebrando sua própria regra NÃO MISTURAR AMOR COM NEGÓCIOS é preciso coragem para fazer isso!

    Carol Parabéns pelo post

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  6. Anônimo2/3/12

    Adoro BBB. Mostra uma jovem que traçou todo o seu destino, com todos os pingos nos is. Toda a sua vida está planejada, até mesmo quando se casar.
    E que ao ser surpreendida com o Amor, muda suas convicções e erra ao perceber que não é correspondida e coloca todo o sucesso de seu negócio com Bitto a perder. Mas ela assume e segue em frente. Não vemos uma mocinha desesperada e sim alguém que enxuga as lágrimas e continua!

    Parabéns pelo post Carol!

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  7. Ótimo post Carol!!!Fiquei curiosa para assistir o filme e fiquei mais curiosa ainda por se tratar de Anushka Sharma, pois não tive uma boa impressão dela em RNBDJ, achei ela tão sem sal!!!Adorei a história e foi interessante você enfatizar que mulher pode errar sim e por que não? A nossa sociedade exige muito da mulher, ela tem que ser boa em tudo, como profissional, mãe, dona-de-casa...e ai dela se errar!!!Parabéns Carol!!!

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  8. Pri, eu tinha outro post e tinha que decidir qual vinha em primeiro. Não tinha como não começar com BBB, tanto poder feminino num filme comercial não é comum!

    É, pouca gente assumiu tão bem suas novas convicções quanto a Shruti. Também são incríveis os filmes em que se luta contra tudo e todos, mas é mais fácil de se identificar com essas pequenas batalhas diárias que travamos contra nós mesmos todos os dias. Eu, pelo menos, estou mudando de opinião sobre coisas diversas a cada hora, a cada ano. Antes pensava que fosse uma falha de caráter, mas agora encaro como uma abertura para o mundo.

    Raquel, acima de ser simplesmente mulher, ela é simplesmente humana! O filme mostra bem que tanto ela quanto o Bittoo tem milhões de defeitos e lidam com isso como conseguem.

    Sara, é tão bom rever um filme e encontrar novos aspectos. Quanto à Anushka, estou confiante em seu crescimento. Isa e eu fizemos apostas sobre os novatos com futuro. Apostei na Anushka, estou ganhando por enquanto!

    Alice, não enxerguei esse lado cafajeste, não. Na verdade, é bem legal o modo como o filme em nenhum momento condena o sexo antes do casamento. O que ele traz é a ideia de que nem sempre sexo e amor podem estar relacionados, pelo menos não para as duas partes...e que isto faz parte da vida. Até entendo o distanciamento do Bittoo, porque a aproximação e mudança da Shruti foi intensa demais em pouco tempo. Não digo com isto que gostei do comportamento dele, mas até que a personalidade dele justificou. É muito molecão, sempre curtindo a vida e querendo estar mil passos adiante. Ele raramente para pra pensar a si mesmo. Só vai fazendo. Lembra dele decidindo o nome da nova agência? Bem aleatoriamente, hahaha!

    Nana, a Shruti faz mais do que correr atrás de um sonho: ela tem um plano! Façamos mais isto, girls! ;)

    "Não vemos uma mocinha desesperada e sim alguém que enxuga as lágrimas e continua"

    Jo, que bonito! E ela continua do jeito dela, como pode. Dando uns tropeços feios, mas tentando de todo modo. Gosto muito desse respeito que houve com a personagem: ela ficou menos alegre e mais amarga após todos os acontecimentos, porém em nenhum momento deixou de ser focada e fazer planos. Seria um absurdo caso repentinamente virasse uma apaixonada chatinha.

    Simone, o filme é tão bom! A sociedade realmente exige muito da mulher, mas a Shruti leva as coisas no seu tempo e aceita os próprios erros. É o melhor papel da Anushka até hoje. Gostei dela em RNBDJ, acho até que conseguiu se destacar em um filme no qual toda a visão que tínhamos da personagem vinha do marido. Aquele não é um filme sobre Taani, mas sim sobre como o Surinder a enxerga! :)

    Muito obrigada pelos comentários e por estimularem a discussão, meninas!

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