Jab Tak Hai Jaan (2012)

Este texto foi escrito no início do ano e estava salvo nos rascunhos do blog. Como estava atarefada, acabei me esquecendo de publicá-lo. Revisei-o hoje, ilustrei-o com fotos da internet e não consegui reduzi-lo mais do que ficou no resultado final. Bom, pelo menos consegui reviver toda a experiência de ver JTHJ ao reler ao texto. Não que tenha sido uma grande vivência...

Desde que 2013 começou, prometi a mim mesma que esqueceria um pouco os filmes e blogs para me concentrar em minha monografia, que ainda está no plano das ideias . Estava tudo indo conforme o planejado e mal assisti a nada desde o início do ano, porém tirei um dia de estresse puro para me acalmar com Jab Tak Haai Jaan, último lançamento do diretor Yash Chopra e Shahrukh Khan. Apesar das expectativas baixas quanto à história e ao personagem do Shahrukh, estava animada para ver belos cenários e bons clipes, além de curiosa para ver como seria a química entre Shahrukh e Katrina Kaif. Bem melhor do que há meses atrás, quando só conseguia ver um desastre a caminho e carinhosamente apelidei a obra de Jab Tak Hai Whatever.


Foi nesse espírito de aventureira com um pé atrás que conheci o romance de Samar (Shahrukh Khan) e Meera (Katrina Kaif), duas pessoas muito diferentes. Ela, obediente filha de um homem rico, é séria e dedicada. Ele, um homem pobre, é feliz e encontra sua alegria no sorriso do outro (Amar Mathur feelings). Ambos se conhecem em Londres e estabelecem um pacto: ele a ajudará a aprender uma música em punjabi para cantar na festa do pai, enquanto ela o ajudará a melhorar seu inglês. O "contrato" dura um mês, período durante o qual Samar se apaixona por Meera. Seu amor não pode se concretizar porque ela está noiva de outro, mas isto não o impede de incentivá-la a ser mais livre, como acredita que ela realmente seja.



Daqui pra frente, muitos spoilers.

Meera percebe que também ama Samar. Como não quer magoar seu pai, promete a Deus que ela e o rapaz não serão mais que amigos. Depois de muita enrolação e acontecimentos, Meera cede aos encantos de Samar. Quando ambos estão felizes e tudo o mais, o rapaz sofre um acidente e Meera, em desespero, promete a Deus que irá abandonar Samar caso ele seja salvo. É claro que isto acontece. Sério, gente. O que vai segurar 3 horas de filme é uma promessa a Deus que separa o casal principal.

Pausa para um WTF coletivo puxado por uma amiga do blog.

Eu sei, Rani. Eu sei.

Já está bom de sinopse. Contarei mais sobre essa maravilha de história enquanto comento. Depois que Meera o deixa, Samar vai para a Índia e entra para o esquadrão anti-bombas do exército. Ele desarma as bombas sem uniforme de proteção. Sabem por que? Duvido que saibam! Ele quer encarar a morte de frente e desafiar o Deus que o separou de Meera. Por essas e outras, Samar acabou sendo um personagem produtor de vergonha alheia. Como se já não fosse o suficiente toda a sequência em Londres, na qual SRK disse ter 28 anos (!), o personagem depois se tornou o típico romântico durão, transformado em homem amargo após desilusão amorosa. Parecia apenas alguém com sérios problemas de vida, não o herói romântico que fica conosco após o fim do filme.

Problemas ainda mais sérios tinha Meera. Katrina recebeu a difícil missão de nos fazer gostar de uma personagem que ultrapassou todos os limites da racionalidade. Meera é mal construída. Quando Samar diz que ela é uma rebelde em seu interior, essa percepção não é compartilhada por quem assiste, não importando quantos cigarros a façam fumar. Não entendi se ela é triste, o que a faz assim, e, principalmente, qual foi a mudança de comportamento que Samar trouxe à sua vida. Compreendi que estava vivendo seu novo amor intensamente, mas como isto implicou em outras áreas de sua vida? Ela foi mais firme com o pai? Dirigiu melhor a empresa? Tornou-se mais assertiva? A única coisa clara é sua difícil relação com a figura divina, tratando Deus como um tirano que manda um raio na cabeça de quem o desobedece. Por sorte, esse tipo de visão foi (levemente) desconstruída no final do filme. Uma crença assim não permite que alguém seja feliz.

Adoro essa moça, mas ainda não virou boa atriz. Força, Kat!


Para equilibrar o cenário montado por essas duas figuras esquisitíssimas, foi recrutada a repórter Akira —interpretada pela sempre querida Anushka Sharma. É basicamente Anushka sendo Anushka: linda, vivaz, inteligente e engraçada. Resumindo, a espoleta de sempre. Apesar da boa atuação, não gostei da função dada à personagem: Akira representa a nova geração, que não vive o amor "intensamente" e transa com qualquer um. Isso não é interpretação minha, já que cada frase dirigida à Akira começa por "essa gente da sua geração". Quem me dera que a nossa geração fosse tão desapegada de ideais românticos como deram a entender no filme! Além de soar forçado, não gostei de ver a pobre repórter mudando seu modo de pensar ao conviver com a forma de amor mais platônica de Samar. Do jeito que ela amava, tinha como ser feliz com muita gente. Do jeito dele, sua vida fica suspensa por conta de uma outra. Não gosto desse amor que funde um indivíduo ao outro, que anula as partes individuais e cria um terceiro ser. Por isso que não torci por Akira e Samar: longe dele, ela estava com uma saúde mental melhor.

É na segunda parte que a história fica absolutamente louca, a partir de uma perda de memória que pode até ter seus antecedentes científicos (não que eu tenha visto), mas um tratamento absurdo e jamais antes visto na história da Psiquiatria. Que profissional, por mais experimental que seja, apoiaria a criação de uma realidade inexistente como a melhor forme de auxiliar um paciente a manter sua estabilidade mental e recuperar a memória? O absurdo da situação não me incomodou porque isso é Bollywood e já vi filme com médico batendo em criancinha para fazê-la andar, então apenas ri bastante. Em terra de Yash Chopra, quem for mais nonsense é rei.

Shahrukh: me constrange, se constrange.
Em meio a tanta confusão, achei espaço para gostar do que estava vendo.  Pela primeira vez desde o absurdo Hum Saath-Saath Hain, vi um filme escapista de Bollywood como realmente fazendo parte de um outro mundo. Aquela não era a Londres de verdade. Aquelas pessoas e seus motivos de preocupação não eram nada reais. Seu amor, a única coisa importante em suas vidas, era coisa de filme. Nem a repórter do Discovery Channel pareceu minimamente real. Conhecem aqueles pequenos globos redondos com belas cenas, nas quais caem neve quando sacudimos? As vidas de Samar e Meera foram isso para mim. Um brinquedo mágico, belo ao olhar, mas não que não sustenta minha atenção por muito tempo porque tudo está atrás de um vidro. Tudo muito artificial. Não dá para tocar.

O ponto mais alto do filme foi a participação especial do Rishi Kapoor e da Neetu Singh, casal integrante do hall da fama do blog. Rishi estava mais como apoio, enquanto Neetu teve alguns minutos para demonstrar um talento que eu nem imaginava que tivesse. Katrina Kaif não é nada parecida com ela, mas quando Neetu a olhou com emoção e a chamou de filha, eu a vi pequena em seus braços. É por isso que sentimos tanto a sua falta, Neetu ji.

Altamente coracionável, não?
Há um tempo, eu estava iludida de que Jab Tak Hai Jaan seria o grande retorno do Shahrukh Khan ao romance que sempre fez tão bem, e de que isso seria o melhor para ele. Vejo que me equivoquei. Não há como fingir que o tempo não passou, tanto para o ator quanto para o público. Talvez a gente queira um herói romântico que pareça mais real, heroínas mais bem escritas,um roteiro mais bem estruturado, tudo isso junto, ou talvez seja uma necessidade diferente. Apenas sei é impossível sustentar aquele eterno Rahul Raj que se comunica por olhares profundos. Se o mundo muda, os filmes e atores também precisam seguir isso. Vem pra 2013, Shahrukh.

Jab Tak Hai Jaan foi a última obra do Yash Chopra, que faleceu antes da estreia. Registrei no blog minha relação complicada com seus filmes, sempre tão insensatos que me fazem discutir com a tela. Ainda assim, entendo e respeito sua importância para o cinema indiano e a influência que seus filmes tem sobre inúmeros cineastas (até mesmo por toda uma geração, se pensarmos nos anos 90). Pena que não haverá material novo para brigarmos, Yash ji. Se não pelas histórias, obrigada ao menos pelos clipes. 

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