Bollyfãs: Entrevista com Joseli de Azevedo



A coluna Bollyfãs hoje traz a entrevista de uma pessoa que simplesmente não para de trabalhar. Joseli de Azevedo é paranaense e legenda filmes há anos. Traduzindo desde filmes de Bollywood até os de Tollywood e Kollywood, seu mais recente interesse são as séries paquistanesas e novelas indianas. Sua curiosidade sem limites por novas línguas e culturas sempre acaba se transformando em novas obras traduzidas para o português. Ignorando tradutores automáticos e traduzindo palavra por palavra, não é difícil encontrá-la envolta em dicionários de inglês, hindi e urdu pelas madrugadas. Ao terminar um trabalho, ela sempre diz que já deu, que cansou e que precisa de uma pausa...até encontrar um novo trabalho irresistível. Geralmente, um ou dois dias depois da decisão de fazer uma pausa.

Jo, como é chamada pelos amigos, conta sobre o processo de legendar, seu amor por Siddharth Narayan, a Fawadmania e seu mais recente trabalho - a novela Idhu Kadhala.

Você pode encontrar todos os trabalhos citados na entrevista no site do Cine Challo, assim como na página do Facebook do site.


Deewaneando: Como começou a sua história com o cinema indiano?

Jo: Começou com presente de um amigo. O DVD do filme Siddarth de 1972, que é uma obra adaptada de Herman Hesse que conta a história de um jovem brâmane que abandona uma vida de luxos e sai em busca de sua própria identidade. Músicas e cenários foram o que me atraiu.

Deewaneando: E isso foi em que ano?

Jo: 2003.

Deewaneando: Nossa, faz bastante tempo! E como você teve acesso aos filmes depois?

Jo: O bom e velho Youtube e acredite, o Emule. Pesquisava no Youtube e baixava só para constatar que não tinha legendas, imagem horrível e mesmo assim assistia.

Deewaneando: E você entendia alguma coisa? (risos)

Jo: Alguns filmes, absolutamente nada. Você assiste apenas pela atração das músicas e cenários. Parece mágico. Quando conseguia algo com legendas em inglês, ainda dava para entender algo. Mas quem gosta de cinema indiano não é comum, não é mesmo?

Deewaneando: Participávamos da mesma comunidade no Orkut (Quero Cinema Indiano no Brasil) e me lembro de que você passou algum tempo assistindo filmes, até que começou a legendar. Qual foi sua primeira legenda e como foi o processo de tradução?

Jo: A comunidade foi a maior conquista de todas na época. Dizer que você fez parte da comunidade do Orkut (QCINB) é inimaginável hoje para quem não conheceu. Ali todos se esforçavam por compartilhar tudo que era encontrado na net. Lembro que assistíamos filmes que a imagem eram apenas quadradinhos. Mas cada filme que surgia era um achado espetacular. E entrando neste clima de colaboração eu sentia necessidade de contribuir. Entrei num curso de inglês intensivo. Fazia 4 horas de aula diariamente. Um dia criei coragem e traduzi Kyun Ho Gaya Na da Aish e do Vivek (dois queridinhos meus). O processo foi lento, sofrido, angustiante, mas recompensador. A alegria com que foi recebida esta legenda eu jamais vou esquecer. E tampouco vou esquecer a sensação de ter contribuído com algo tão apaixonante.

Deewaneando: Qual foi a legenda mais difícil de fazer?

Jo: BOL, este filme me arrasa emocionalmente. E Mahabharat, que contei com a ajuda da Lalita. Os termos eram muito difíceis.

Deewaneando: Na internet, geralmente o público tem contato apenas com o produto da legenda finalizado e sabe pouco sobre como ele acontece. Quais são as maiores dificuldades ao legendar filmes indianos?

Jo: Todas as legendas disponíveis para os filmes indianos são de não profissionais. São pessoas comuns que querem compartilhar estas obras. Sem recompensas. Sem cursos, sem conhecimento, assim como nós. As legendas são difíceis de encontrar, difíceis de traduzir. Mas na minha opinião, são bençãos. Veja a quantidade de filmes disponíveis que temos hoje. E se você for verificar, nada é de profissionais. Apenas de fãs apaixonados.

A Isa falou num comentário na Mania de Bolly algum tempo atrás respondendo alguém...sobre legendar. Alguém falou que tinha já o Dil Dadhakne em português e Isa respondeu que quem hospeda as legendas dela era um site e que nos divertimos. Achei muito lindo. Não são apenas dificuldades. Nos divertimos também. 


Deewaneando: Você foi responsável pela introdução dos filmes de outras indústrias indianas no calendário de legendas. Percebo que tem um carinho especial por Tollywood, a indústria telugu. O que chamou a sua atenção nessa indústria? Como ela difere de Bollywood?

Jo: Os cenários, as vilas, as músicas, o apelo. Eles são de certa forma mais livres. Não é nada incomum ver cenas mais íntimas (beijo por exemplo) na indústria Tâmil e Telugu. Mas tudo muito meigo, muito cuidadoso. Os musicais são mais intensos e sempre tem aquela famosa cena de uma pancadaria. Culpa sua e da Sara, que ficavam falando dos masalas etc... bem, a indústria Tollywood sempre tem estas cenas e aprendi a gostar. E posso falar do meu amor por Siddarth? Adoro ele! Tolywwod é muito mais a minha visão da Índia dos velhos tempos que Bollywood.

Deewaneando: Você legendou muita coisa do Siddharth! Qual é o filme dele que você mais gosta?

Jo: Tudo? Não! Eu tenho um carinho especial por Bommarilu e Nuvvostanante Nennodantana. Um (NVNV) é rural com todos os ingredientes que eu adoro e o outro é muito meigo. Assunto sério tratado de forma muito leve, Bomarillu fala da relação pai e filho de forma muito doce.

Deewaneando: De onde surgiu o interesse por legendar as séries paquistanesas Zindagi Gulzar Hai e Humsafar?

Jo: Ahhh, essa é fácil! Zindagi seguiu Khoobsurat. Fiz o caminho que todo fã segue. Fui olhar as obras do Fawad e vi Zindagi. Lendo a sinopse você já é fisgada. A fórmula é esta, AMOR E ÓDIO. Romance clichê, eu admito que sou fã do gênero. Assisti a série em 2 dias sem parar. Que coisa mais linda. E que atuações. O elenco todo é ótimo. 

Humsafar foi apenas consequência. E não decepciona. Embora o elenco da primeira seja superior, na minha opinião.

Deewaneando: Concordo plenamente, apesar de às vezes achar que possa ter sido diferença de direção. Em ZGH as atuações eram mais naturais, enquanto Humsafar pendia mais para o melodrama.

Jo: Ou porque Zindagi foi dirigida por uma mulher?

Deewaneando: Verdade? Agora fez todo o sentido. Há tão poucas diretoras mulheres que as poucas que surgem geralmente fazem algo diferente. 

As séries fizeram bastante sucesso e já podemos dizer que há uma Fawadmania no cinema indiano. A recepção foi uma surpresa para você?

Jo: Foi sim! Mesmo sendo Fawad as pessoas resistiam bastante ao ouvir o termo SÉRIE. Foram muitas e muitas explicações que realmente a série termina ali no 26º episódio. E teve aquele preconceito inicial do "vocês estão apostando bastante neste ator" ou "você gosta bastante deste ator". Mas a recepção depois que aceitaram a série é fantástica. Jamais vou deixar de me surpreender pelo fato de muitos homens o elogiarem. Ele é um ator completo na minha opinião, perfeito. Bonito, talentoso, generoso, bem sucedido.

Deewaneando: A novela Idhu Kadhala tem feito muito sucesso. O que as pessoas têm dito? Por que essa repercussão toda?

Jo: A novela tem todos os ingredientes necessários. Enredo, atores competentes, beleza e muita, muita história. Muitos rituais minuciosamente detalhados. Tem até receitas detalhadas de comidas e até do famoso chai. Mas o que realmente atrai a maioria é o enredo. É o típico romance clichê (quem não ama?). Amor e ódio, gato e rato. A trilha sonora é maravilhosa e Rabba Ve é a grande responsável pelos corações acelerados. E a química entre o casal Barun Sobti e Sanaya Irani é espetacular.

Os comentários na maioria é claro são sobre o herói, Ashwin Singh Raizada. Um machão com toque delicado, amargurado, difícil mas extremamente verdadeiro. E ela, uma sapeca casca grossa punjab. Química perigosa.

Juntando a isso algumas histórias paralelas que se entrelaçam a cada episódio. Acho que a expectativa de ver os dois juntos é o que mais prende porque eles são absurdamente apaixonados, mas absurdamente teimosos e com um ego imenso. Mesmo podendo sentir as batidas do coração um do outro eles resistem, mas os deuses não desistem...Romance, drama, comédia. Isto é Idhu.

Deewaneando: Quais são seus filmes e atores preferidos no cinema indiano?

Jo: 3 Idiots, Jodhaa Akbar, Rang de Basanti, PK e Barfi. Atores: Aamir Khan, Ranbir Kapoor, Siddarth, Ranveer Singh e Irrfan Khan. E o Fawad que agora está no cinema indiano, né? Deixa ele de fora, não!

Deewaneando: Há algum clipe em particular que marcou você?

Jo: Oh céus. Isso depende do meu humor. Tem dias que adoro Dhoom Machale (risos).

Malang, gosto da imponência circense. Hona Tha Pyaar, adoro a música. Khwaja Mere Khwaja do Jodhaa Akbar, eu acho a coisa mais linda do mundo e aí tem quase todos de Rockstar, que eu adoro.

Deewaneando: Nos dê quatro indicações de filmes: para conhecer o cinema indiano, para se evitar, para se apaixonar e outro para transformar sua visão sobre ele.

Jo: Para conhecer: 3 Idiots, Barfi, Dil Dadhakne Do (tenho encantado os amigos), Jodhaa Akbar. Para evitar, Barsaat, Pyaar Impossible, What's Your Rashee, Koi...Mil Gaya. Para se apaixonar: Wake Up Sid, Band Baaja Baarat, PK , 3 Idiots. Para mudar sua visão: 3 Idiots.




O filme que você ama e todos odeiam? Saawariya.

Um ator ou atriz que não tem salvação? Sonam Kapoor.

O filme que você odeia e todos amam? Rab Ne Bana Di Jodi.

Alguém de quem você tenha desistido, mas que acabou surpreendendo? O Emraan Hashmi me surpreendeu com Hamari Adhuri Kahani.

Uma pessoa que deveria se aposentar? Preity Zinta.

A melhor dançarina? Me matem agora, mas eu prefiro a Aish.

Um filme que você não vê nem por um decreto? Krrish - depois de Koi...Mil Gaya (não).

Uma decepção? Bombay Velvet.

Um clipe que deu vergonha alheia? O da toalha do Ranbir. Sério, até hoje não entendo este.

Que outra profissão poderia ter...

Akshay Kumar? Personal Trainer. Ele leva jeito. Ou cafetão...(risos), também leva.

Priyanka Chopra? Priyanka leva jeito de executiva.

Riteish Deshmukh? Comediante.

Kareena Kapoor? Fashionista.

Fawad Khan? O que ele quiser, meu Deus. Perfeito. Marido?

Cite um erro de...

Imran Khan? Mesmice. Ele precisa se inovar.

Madhuri Dixit? Perfeição? Causa inveja...

Karan Johar? As últimas escolhas dele são questionáveis. Ele está detonando a carreira do Ranbir, por exemplo.

Genelia? Como vou dizer que acho que devia ter investido um pouco mais na carreira? Não acho que ela deva voltar, não.

Amitabh Bachchan? Alguns de seus filmes são questionáveis.

Qual filme nunca deveria ter sido lançado? São dois: Pyaar Impossible e Barsaat.

Khan favorito? Aamir.

O pedido mais estranho que já recebeu? Para traduzir um filme tâmil sem legendas. Para traduzir videos do Youtube em hindi, urdu. E recentemente uma novela sem legendas e nem sei o idioma. Coisa estranha, este mundo nosso. Povo acha que somos poliglotas.

Um artista que você pegaria, outro com quem você casaria e um que você mataria? Eu pegaria o Ranveer Singh. Eu casaria com o Fawad Afzal Khan. E mataria o Uday Chopra.

20 comments

  1. Adorei a entrevista, parabéns ao blog e a Josi pelo trabalho incrível!! Amo os filmes as novelas e as séries todas maravilhosas 😍😍

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    1. Olha a menina Myllena por aqui, gente! Jo arrasa no trabalho mesmo. A mulher não sossega, está o tempo todo pensando na próxima tradução, postando vídeos, interagindo loucamente com certas pessoas fãs do Arjun Kapoor...fiquei exausta só de digitar! rs

      Estou sendo gradualmente convencida a assistir essa novela...

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    2. Hahahahaha ooow adorei o menina Myllena! Me senti meiga hahaha Arjun minha vida hahahaa <3

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    3. Josi é incansável. .. ligada no 220 30hrs por dia hahahahaa

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    4. Josi é incansável. .. ligada no 220 30hrs por dia hahahahaa

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    5. Anônimo13/11/15

      Ainda estou traumatizada de não poder escolher dois maridos mas fica a nota aqui que Barun Sobti também é elegível para marido.
      Adorei participar Carol Lila Rodrigues. Deewaneei

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    6. Mandei escolher mesmo, queria ver o sofrimento e consegui.

      Adorei entrevistar você, Jo! Estava tão interessante que deixei várias perguntas de fora para não fazer uma entrevista gigante/eterna.

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    7. Anônimo13/11/15

      Obrigada Carol.

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  2. Anônimo13/11/15

    Ótima entrevista, realmente adorei. Parabéns Jo, parabéns ao blog

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  3. Anônimo13/11/15

    Carol, eu interajo loucamente com certas pessoas porque as vezes elas ficam insanas. Alguém precisa trazê-las de volta à realidade. Mesmo que para isso a fórmula seja postar outro bonitão para desviar a atenção. Ela entra num frisson assustador!

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    1. Hahahhahahahahahahahahahhahhahahahahahahahahah

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  4. Eu tenho uma pergunta para a Jo! Jo, como você se sente tendo sido absolutamente sintetizada em apenas um parágrafo da Carol? Achei a descrição fenomenal!

    Tá vendo, Carol? Ranveer também está na lista de ouro da Jo. Não sou a única, HÁ.

    E te entendo, Jo. Barsaat é um saco. Mas tenho um carinho especial por What's Your Rashee porque eu criei aquela legenda linha por linha. Devia ou não ganhar um prêmio da paciência universal?

    Adorei a entrevista! Ansiosa pela próxima!

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    1. ADOREI o elogio ao meu poder de síntese afetiva.

      Nunca entendi você ter legendado WYR. Foi por causa dos clipes? Eles são bons.

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    2. Sim! Foi exatamente por causa dos clipes! Eu só estava interessada em com qual signo ele iria ficar, como eles iriam retratar cada um (e me decepcionou) e nas músicas. Fora isso, quase nem tem história.

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  5. Anônimo15/11/15

    Também achei, Isa! Como eu me sinto? Transparente. Mas é a convivência. São quantos anos. Não sei para vocês mas o inbox de vocês é para mim como um cômodo da minha casa. É como se fosse o meu mesmo. Nunca receio de entrar, para dizer oi, pedir socorro, pedir ajuda ou só papear mesmo. Por isso a descrição é fenomenal. Me senti orgulhosa.

    Isa, o Ranveer está com tudo comigo.

    E te entendo quanto What's Your Rashee afinal eu fiz a legenda de Barsaat. Vamos dividir este prêmio de paciência universal aí.

    Estou ansiosa e curiosa pela próxima. A Karla entende de cinema. Vai ser bem interessante.

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    1. Que coisa mais carinhosa, Jo. Isso é amizade, sabia? É se sentir confortável perto do outro e não ter dúvidas de como falar dele.

      Karlinha vai arrasar! Mais uma pra eu segurar a ansiedade, mas agora já nem duvido mais das minhas capacidades pra isso hahaha

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    2. Anônimo17/11/15

      Sem dúvida que é amizade!

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  6. Gostei muito da entrevista, bem bacana mesmo. :-)

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    1. Obrigada pela visita e pelo comentário, Patrícia :)

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