Bollyfãs: Entrevista com Valquíria Ortiz



Hoje voltamos ao sul do Brasil - ou melhor, ao extremo sul. É lá que mora Valquíria Ortiz, nossa entrevistada de hoje. Val vive em meio às palavras. Além de ter formação em Biblioteconomia, está sempre lendo e comprando mil outros livros para encher sua já lotada estante. É possível passar horas conversando com ela sobre qualquer assunto, então haveria pessoa mais indicada pra uma entrevista? Sua curiosidade pelo mundo a levou até o cinema indiano e Aamir Khan a mantém neste mundo até hoje - mas não só ele. As mágicas canções de A. R. Rahman também têm sua culpa nisso. Conheçam mais sobre o que o cinema indiano trouxe de melhor para a vida dessa gaúcha de 27 anos.

Deewaneando: A pergunta de sempre: como você conheceu o cinema indiano?

Val: Conheci em uma tarde de inverno, caçando filme pra assistir na TV. Tinha uns 16, 17 anos, acho. Daí vi que tinha começado Lagaan no Cinemax. Assisti todo o filme maravilhada, e me descobri nos próximos dias revirando o canal pra não perder a reprise e saber quanto eu tinha perdido do início do filme. Fiquei deslumbrada com as músicas, em especial com O Paalanhaare, que é o momento de virada do filme pra mim. Lembro que o meu celular só gravava 30 segundos, e eu gravei um pedacinho dessa música, e quase enlouqueci minha família, principalmente minhas irmãs, porque dormíamos no mesmo quarto, escutando esse trecho em um looping eterno na hora de dormir.

Deewaneando: Como teve acesso a outros filmes depois disso?

Val: Uns anos depois, encontrei (não lembro como) a QCINB (Quero Cinema Indiano no Brasil) no Orkut, e parece que abriu um novo mundo pra mim. Quase chorei de emoção quando assisti de novo Lagaan e poderia assistir quando quisesse.

Deewaneando: Até aquele momento você conhecia bem pouco. Que tipo de filme você procurou quando chegou lá?

Val: Eu fui mais pelas indicações dos outros integrantes da comunidade do QCINB, bem como lia as sinopses e guardava os nomes pra poder baixar depois, mas acabei começando pelos mais populares entre o pessoal, até pra poder ter o que debater depois (risos).

Deewaneando: Já conseguiu apresentar os filmes aos amigos? Como foram as reações?

Val: Tentei bastante, mas foram bastante resistentes, principalmente na família (vide monopolizar a TV cada vez que dava Lagaan e a musiquinha), mas no fim das contas de tanto torrar a paciência da minha irmã mais velha, consegui com que ela assistisse comigo e ela gostou, apesar de achar um tanto "lado B'' e sem noção. Além dela, consegui fazer meu ex-namorado assistir, e ele simplesmente adorou, só não tinha paciência com a duração deles.

Deewaneando: Até nós que amamos cinema indiano conseguimos entender seu ex...

Val: Siiim, tenho que entender, porque quando o filme é bom, ok, mas quando é ruim, fica aquela sensação de "não acredito que desperdicei três horas e meia da minha vida pra ISSO''.

Deewaneando: Você trabalha com livros. Lembra de algum filme ou cena que tenha mexido com seu lado bibliotecária?

Val: Na verdade não trabalho como bibliotecária, só tenho formação. Acabei fazendo concursos administrativos e acabei não exercendo a profissão. Quanto ao filme, nenhum em especial, mas na faculdade, temos as cinco leis de Ranganathan, que foram elaboradas por um indiano (o que na época me fez acreditar que tinha escolhido o curso certo só pela sabedoria de ter algo pensado por um indiano, ó a viagem). Os filmes acabaram fazendo com que eu entrasse em uma fase de pesquisa muito intensa, tentando entender costumes, expressões, contextos históricos e quaisquer curiosidades que tivesse, além de me motivar a procurar livros que fossem escritos por indianos.

Deewaneando: Nunca ia imaginar essa das cinco leis, hein?

Val: São bastante simples, na verdade, mas que norteiam e basicamente resumem os quatro anos de faculdade em cinco itens. Coisa de pensador indiano, claro (risos)! As 5 leis: Os livros são escritos para serem lidos, Todo leitor tem seu livro, Todo livro tem seu leitor, Poupe o tempo do leitor  e Uma biblioteca é um organismo em crescimento.

Deewaneando: Dá alguma indicação dos livros de escritores indianos que pesquisou?

Val: Tenho sim, tenho três livros: Um rapaz adequado, de Seth Vikram, que narra a busca da protagonista por um marido. A história é ambientada na Índia mesmo, e mostra o cotidiano e os pensamentos dela. Parei de ler quando descobri que são três volumes, e o último ainda não foi lançado, pra não ficar sofrendo esperando pelo último, resolvi parar antes.

O segundo é Paixão Índia, do Javier Moro, que narra a história de um marajá que se apaixona por uma bailarina (sim, não li também).

E o terceiro é Na pele de um intocável, que fala sobre como é a vida de um dalit, pelo ponto de vista de um pesquisador que se dispôs a viver como eles (não, não li também. Tive medo do que iria descobrir, confesso).

Deewaneando: Você é uma grande fã do Aamir. O que tem de especial nele? 

Val: Ai ai *suspiros*. Aamir tem todo aquele significado de ter sido o protagonista do primeiro filme indiano que pude assistir, mas vai além disso. Realmente o acho bonito (apesar das orelhas de Dumbo, como um amigo desgraçadamente o apelidou), inteligentíssimo e os filmes deles sempre tem um ponto de vista de defesa social que me encanta.

Deewaneando: Até hoje continua seu favorito?

Val: Sim, nunca perdeu o posto! Aamir reina, os outros que gosto são meus queridinhos (risos)! 

Deewaneando: Considera que Fanaa tenha sido a melhor escolha para o primeiro filme indiano nos cinemas brasileiros?

Val: Entendo porque escolheram Fanaa pra lançarem por aqui, por toda a pegada meio blockbuster do filme, mas não sei. Se fosse minha responsabilidade escolher, certamente enlouqueceria tentando. Dos filmes do Aamir, acredito que 3 Idiots teria sido uma escolha mais acertada, mas Fanaa tem uma linha mais calma que não assustaria (tanto) o público brasileiro.

Deewaneando: Relato pessoal: havia umas cinco pessoas na minha sala de cinema. Umas duas saíram antes de acabar (risos).

Val: Minha irmã foi assistir, e foi só ela e o marido. Nunca se sentiu tão exclusiva na vida (risos)!

Deewaneando: Costumamos focar muito nos atores e esquecer de outros profissionais. Você tem verdadeira paixão pelo trabalho do produtor A.R. Rahman. Quais trabalhos dele a impressionaram?

Val: O melhor trabalho dele, pra mim, foi a trilha de Jodhaa Akbar, em especial Khwaja Mere Khwaja. Aquele momento final de transcendência que o personagem do Hrithik passa, eu passei também, de tão profunda foi a minha conexão com a melodia e letra. Foi a partir daí que busquei ouvir os outros trabalhos dele.

É dele também a trilha sonora de Lagaan, inclusive, o que só fez aumentar minha admiração pelo Aamir e pelo Rahman. Simplesmente amo todas as músicas do filme!

Deewaneando: Como você vê a cena do cinema indiano no Brasil?

Val: Bastante tímida até, considerando que a internet nos disponibiliza tanta coisa. É basicamente um nicho exclusivo, visto pelos outros como algo "cult" ou nerd (palavras de amigos, quando expresso meu amor). Tivemos bastante visibilidade com a novela Caminhos das Índias? Sim, mas mesmo assim, não foi um estouro que tenha feito as pessoas buscarem por mais, que fizesse esse segmento se popularizar como sonhamos.

Deewaneando: Fico me perguntando por que a cena de filmes e séries coreanos e japoneses cresce tão mais que a nossa.

Val: Exatamente, me faço a mesma pergunta. Talvez porque eles estão há mais tempo introduzidos no lado ocidental pelos animes e mangás, então é um caminho mais fluido e natural para eles.

Deewaneando: O que o cinema indiano trouxe de melhor para você? 

Val: Esperança. Todos os filmes que assisti (exceto Umrao Jaan, acho) incutem a esperança na história, não importando o contexto dela. Isso fez com que eu incorporasse esse modo de pensar na minha vida, e realmente ficou mais fácil viver.

Deewaneando: E de pior?

Val: Nossa, esse é difícil, porque realmente vejo só o lado bom, tanto que ao ler as outras entrevistas e questionar o porquê de não gostarem de um determinado filme, receber um ponto de vista completamente diferente (e real) do outro. Pode parecer muito ingênuo e alienado da minha parte, creio eu, mas acabo ficando só com o melhor das coisas que posso escolher, justamente pra não ficar sofrendo pelo pior.

Deewaneando: Quais são seus filmes e atores favoritos?

Val: Lagaan, óbvio, Jab We met, Rab Ne Bana Di Jodi, Fanaa, 3 Idiots, Jodhaa Akbar, Vivah, My Name is Khan, Salaam e Ishq. Meu Deus, não sei (risos)! Atores: Aamir Khan, Hrithik Roshan, Shahid Kapoor. Atrizes: Aishwarya Rai, Preity Zinta e Kareena Kapoor Khan.

Deewaneando: Nos dê quatro indicações de filmes: para conhecer o cinema indiano, para se evitar, para se apaixonar e outro para transformar sua visão sobre ele.

Val: Pra conhecer o cinema indiano: 3 Idiots. Ele tem de tudo um pouco e aborda de uma forma inteligente, que acaba dando margem pra pessoa que assistir tentar um segundo filme.

Para se evitar: pelo amor dos céus, Dabangg. Passem longe dele, sério, foi esse filme que me deu aquela sensação de "por que raios perdi tanto tempo assistindo isso até o final?!"

Para se apaixonar: caramba, esse é difícil, vai muito do gênero, mas acredito que Rab Ne Bana Di Jodi faz esse trabalho lindamente.

Para transformar a visão: Black e Guzaarish, que mostra bem que eles também sabem falar de assunto sério.



Pior ator ou atriz: Ai, vou morrer por isso, mas Salman Khan. TODO SANTO FILME é a mesma carinha de peixe morto.

Cena mais engraçada: Não vou conseguir lembrar em qual filme vi isso, acho que foi em Bride & Prejudice  em que no meio das dancinhas eles estão na praia, e vem um monte de salva vidas dançar coreografado. Nunca ri tanto na vida! Acho que achei mais engraçado ainda por serem figurantes não indianos dançando, foi surreal.

Filme inesquecível: Ai, difícil. 3 Idiots.

Um filme que não fede e nem cheira: Olha, deve ser tão não fede e nem cheira que não lembro de nenhum de pronto. Bodyguard (tadinho do Salman!)

Sua pior lembrança do cinema indiano: Tu vai me matar, mas os videozinhos da Helen. Morria de vergonha alheia dela!

Quem estrelaria os remakes dos seguintes filmes em Bolly?

As Patricinhas de Beverly Hills: Priyanka, Preity e Kareena. Ia ser uma mistura interessante essas três juntas.

Titanic: Shahid Kapoor com a Anushka Sharma.

Dois Filhos de Francisco: Ranbir Kapoor com o Ranveer Singh (risos)!

Batman: O SRK, ele tem uma cara de sofredor nato quando quer.

American Pie: Stifler: Ranbir. Não consigo imaginar o resto. Talvez a Kareena como a Alyson.

Tropa de Elite: Hrithik Roshan de capitão Nascimento, sem dúvida!

As Panteras: Rani, Aish e Anushka. Com a voz do Charlie, o Amitabh Bachchan.

O Segredo de Brokeback Mountain: John Abraham e Abhishek Bachchan.

Quem faz falta? Penso na Aish mesmo, ela é uma atriz fantástica! Sou apaixonada pelas cenas de dança dela em Umrao Jaan. Gostaria de ver mais disso.

Quem não vai deixar saudades? Salman Khan. Juro que não entendo como ele é um dos três grandes Khan's (eu sei que parece implicância minha com o homem, mas juro que não é)!

Qual foi o momento que mais a deixou chocada no cinema indiano? Descobrir que o Abhishek era casado com a Aish. Na minha cabeça, tinha que ser o Hrithik!

Defina em uma palavra...

Aamir Khan? Humanista.

Kareena Kapoor? Voz irritante (eu sei que é uma palavra, mas não tem outro jeito)

Rani Mukerji? Mulherão. Em todos os sentidos.

John Abraham? Querido!

Amrita Rao? Sem sal.

Akshay Kumar? Abobado.

Qual filme você dedica ao seu ex? 3 Idiots, porque se eu tivesse que rever um filme mil vezes com ele, seria esse (ele tem essa mania, assisti "As Branquelas" e Velozes e Furiosos não sei quantas milhares de vezes).

Qual filme você gostaria de viver? Jodhaa Akbar. Gostaria de ser o tipo de mulher que inspirasse um homem a mudar.

Um artista que você pegaria, outro com quem você casaria e um que você mataria? Caso com Shahid, pego o Hrithik e mataria o Salman (ahhh o cara já matou gente e bateu em mulher, se é pra matar alguém, que seja alguém que mereça morrer né?!)

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