Uma das maiores dificuldades dos atores da geração dos anos 90 tem sido conseguir se reinventarem para que as imagens que os consagraram não os aprisionem enquanto envelhecem. Shahrukh era o herói romântico, Kajol era a heroína agitada, Akshay era o herói de ação. Salman Khan conseguiu dar um grande passo em 2009 com Wanted, no qual inaugurou uma bem-sucedida carreira como herói de ação masala. O filme o recolocou no patamar de um dos atores mais lucrativos de Bollywood e desde então Salman tem feito filmes muito semelhantes, como Dabangg, Bodyguard, e Jai Ho. A expectativa de inovação em sua filmografia veio já nas primeiras imagens lançadas de Bajrangi Bhaijaan. Havia uma criança nas fotos e todo um ar de inocência, o que fez com que o público quisesse conhecer um herói diferente e a história que ele contaria. Parecia que finalmente teríamos um filme comercial importante com foco em algo além de romance ou pancadaria.
A jornada de Bajrangi Bhaijaan começa na casa da pequena Shahida (Harshali Malhotra), numa pequena aldeia paquistanesa. A menina é muda e sua mãe decide levá-la até a Índia para tentar tratá-la. Shahida se perde da mãe em outro país e encontra conforto perto de Bajrangi (Salman Khan), um hindu extremamente devoto ao deus Hanuman que a protege e cuida dela. O rapaz promete que levará a menina de volta para casa e sua família - mesmo que ela não consiga nem ao menos dizer a ele onde mora.

Apesar de ser posto no lugar da criança, Bajrangi não foi colocado como um herói puro e imaculado. Sua visão de mundo está manchada pelo preconceito religioso que o faz ter medo de até mesmo pisar em uma mesquita muçulmana. É Shahida – a quem ele chama de Munni, devido à incapacidade da menina de contar seu próprio nome – quem o faz enfrentar seu medo e lidar com muçulmanos. A grande cartada da história é deixar acontecer o amor entre ele e a menina antes da descoberta de sua religião. Conhecer a religião da menina de antemão não permitiria que um homem tão centrado em sua própria crença abrisse seu coração. Quando existe amor, todo o resto é secundário.

Rasika não conseguiu ter a mesma importância. A personagem de Kareena Kapoor representa apenas a cota de romance que todo filme comercial importante é obrigado a ter no cinema hindi. Suas funções são lembrar a Bajrangi da importância de amar Shahida independentemente de sua religião e participar das poucas cenas românticas. E ficou apenas nisso. Tenho notado nos últimos anos que Kareena tem a tendência a escolher alguns papéis apenas pela grandeza do filme e do herói principal do que pela contribuição da sua personagem para o enredo. Dada sua proeminência no cenário de Bollywood, chega a ser esquisito vê-la num papel tão inexpressivo, feito para uma principiante com necessidade de projeção.
Não precisei de muitos minutos ouvindo as primeiras canções para identificar que a trilha do filme foi composta por Pritam – provavelmente o produtor musical de que menos gosto em Bollywood. Sempre ouvi seus trabalhos como um bando de sons modernos misturados sem inspiração nenhuma. O filme já se inicia com a péssima Selfie Le Le Re e a coisa não melhora muito. O melhor momento é a fofíssima Chicken Kuk-Doo-Koo, na qual vemos Kareena e Salman imitando frangos para animar uma criança. Se isso não é inesperado, eu não saberia dizer o que é.
É desafiador quando o cinema comercial feito para as grandes massas toca em temas espinhosos como religião e rivalidade entre nações para falar sobre lições simples. O tema principal de Bajrangi Bhaijaan é o amor que supera idade e crenças. Um homem suspende sua vida e chega até mesmo a prejudicá-la para ajudar a alguém sem receber nada em troca além do sorriso da criança. Em meio a tanto cinismo e problemas do cotidiano, é de aquecer o coração ver uma história de amor tão pura. Salman fez o melhor trabalho possível dentro de sua atuação limitada, Nawazuddin brilhou e a se Harshali não iniciou uma bela carreira no cinema indiano, no mínimo deixou sua marca na história - pois este filme será lembrado por muitos anos como uma das pérolas dos nossos tempos. A melhor palavra para descrever Bajrangi Bhaijaan é encantador, mas me atrevo a dizer que também é apaixonante. Ele enriquece seu dia e faz você querer ser uma pessoa melhor. Se tudo isto faz deste o texto mais brega que já escrevi, que seja. Vale a pena ter coração uma vez ou outra.
2010-2019
De 2010 em diante
Harshali Malhotra
Kabir Khan
Kareena Kapoor
Nawazuddin Siddiqui
Salman Khan
2 comments
A mensagem de amor para com o próximo foi o ponto chave para trama ser tão linda.
ResponderExcluirRaquel
E vinda logo de quem, né.
ExcluirDeixe um comentário e me conte o que achou!