Amar Akbar Anthony (1977)

Acho que não é muito inteligente escrever sobre um filme que você acabou de assistir, especialmente se você amou o filme intensamente. Sendo assim, eu assisti Amar Akbar Anthony outra vez. Como resultado continuei apaixonada pelo filme, mas estou menos eufórica e desesperada por gritar QUE FILME LINDOOOOOOOO do que estava há uns dias. Peço desculpas adiantadas pela extensão do post, mas é que estou com a cabeça cheia de ideias por causa deste filme.

O filme foi dirigido por Manmohan Desai em 1977, foi o meu primeiro deste diretor. Ainda estou chocada por estar tão apaixonada por um filme da década de 70, da qual já disse que não sou muito fã. O elenco é assustadoramente bom: Amitabh Bachchan, Rishi Kapoor (éééé!), Vinod Khanna (meu amor de Muqaddar Ka Sikandar), Parveen Babi, Neetu Singh (sim!), Shabana Azmi, Pran, Nirupa Roy e Jeevan. No começo da história descobrimos que o motorista Kishanlal (Pran) aceitou ir para a cadeia no lugar de seu patrão, Robert (Jeevan), apenas porque este prometeu que pagaria o triplo de seu salário à sua esposa e filhos. Ele sai da cadeia, vê que o mundo não é cor-de-rosa e que o seu patrão deixou sua família morrendo de fome e que sua mulher está com tuberculose. Quando vai falar com o vilão, este o humilha. Kishanlal tenta atirar em Robert, que está usando um colete à prova de balas (ótima cena). Kishanlal foge com um dos carros de Robert, o qual ele não sabe que está carregado com ouro. Fugindo dos capangas de Robert, Kishanlal passa em sua casa para pegar a família. Ao chegar lá, descobre que sua esposa, Bharati (Nirupa Roy), deixou um bilhete dizendo que iria cometer suicídio e que ele deveria não deveria gastar dinheiro com ela, mas com seus três filhos. Um policial o vê colocando as crianças dentro de um carro e fugindo. Para protegê-los, Kishanlal para o carro e deixa os meninos em um parque. Na fuga dos bandidos, acontece um acidente na estrada e Kishanlal consegue fugir com o ouro. Um dos policiais a ver o acidente é o mesmo que viu Kishanlal fugir com as crianças, e todos são dados como mortos. Enquanto tudo isto acontecia, Bharati corria para se matar e foi atingida por um galho de árvore. Este acidente faz com que perca a visão (sério), e um adorável muçulmano que a recolhe na estrada diz que ela deveria valorizar a própria vida. Bharati diz que o homem está certo, e ele a leva em casa. Ao chegar lá, entra em desespero  ao ser informada de que sua família está morta. Ainda na corrida, o marido dela volta ao parque para buscar os filhos...mas eles não estão mais lá. O mais velho correu atrás do carro do pai e acho que foi atropelado, sendo recolhido por um policial. O caçula foi recolhido  pelo mesmo muçulmano que deu carona à Bharati . O do meio foi buscar comida para o irmão caçula e não o encontrou quando voltou, sendo recolhido por um padre. E é assim que toda uma família é separada e começa a história de Amar (Vinod Khanna), Akbar (Rishi Kapoor) e Anthony (Amitabh Bachchan)...e tudo isto aconteceu antes de 20 minutos de filme.

Os meninos estão muito sérios, mas o filme é tão dinâmico que era quase impossível tirar print

Por favor, clique para ampliar. Por favor.
Gente, masala. Masala, masala, masala. Na internet, diz-se que masala é o gênero de filme indiano que mistura um pouco de tudo: ação, comédia, romance, drama. Estou com síndrome de masala desde que assisti a Dabangg (2010), e finalmente voltei a ver o gênero em AAA. É apaixonante, estonteante, fascinante, eletrizante...viciante. O filme tem várias cenas de luta daquele tipo para o qual fazem vídeos engraçadinhos no Youtube (do tipo "olha como Bollywood é idiota"), e eu adorei todas. Não gosto de ação, acho que nunca gostei muito...por isso que não ligo muito quando a ação é meio falsa  acho até mais divertido do que altos efeitos e lutas bem elaboradas. Somente o Amar e o Anthony lutavam no filme ; o Akbar era contra o uso de força bruta.

O complicado de falar sobre masala movies é que tem tanta coisa que você acaba não sabendo por onde começar. Vamos começar pelo começo do começo: o nome do filme, os três mocinhos que o formam.

Amar tornou-se um honesto e eficiente policial. E, ó Senhor, nunca havia visto o Vinod Khanna tão bonito. *momento vergonha* Não é qualquer ator que sabe aproveitar um uniforme: o Vinod estava gato. Sim, isso mesmo. Quando Amar dava uma ordem ou ia atrás de alguém, o olhar dele não deixava dúvida alguma de que era melhor o culpado começar a rezar. Em uma dessas buscas, ele teve de ir atrás de uma moça que pedia carona na estrada para roubar os motoristas. Depois de ser pego na armadilha, lutar (claro) e prender a gangue, nosso lindo Amar descobre que a mocinha, Lakshmi (Shabana Azmi), era obrigada pela madrasta e meio-irmão a fazer parte do esquema. Amar leva a mocinha e a avó dela para morarem em sua casa e a gente sabe que os mocinhos irão se apaixonar e tudo aquilo mais, eles nem precisavam se olhar para sabermos. Fiquei muito incomodada pelo fato de o casal ter aparecido pouquíssimo na história. Fora neste momento que se conheceram, nas cenas finais e na música mais fofa dos casais, não vi mais nada deles  todo o resto do tempo foi tomado pelos outros dois romances. Ah, eu queria saber como era a vida na casa deles, como o amor foi surgindo, como era o Amar em casa. Eu estava apaixonada pelo Amar, oras! O que custava me dar um pouco mais dele? Ok, chega de fanatismo. Fora isso, só mais uma observação sobre o casal: eu só soube que aquela era a Shabana Azmi quando o filme terminou. Não me culpem, eu nunca havia visto um filme da juventude da Shabana...só a vi como viúva que perde a família e volta a se casar, dona de bordel e dona-de-casa que se descobre homossexual. Como eu iria imaginar que aquele papel clássico de jovem inocente era dela? Estava linda com aquele olhar tímido.
Gostei muito dela com este figurino. Cores!

Anthony, o filho do meio, é uma figura excêntrica. Ele me lembrou outros personagens que vi do Amitabh: o cara super legal que faz uma ou outra coisa errada. A "coisa errada" de Anthony é ser dono de um bar e às vezes se envolver em brigas, mas por outro lado, ele é um bom rapaz temente a Deus. Aliás, o Anthony é católico. Só eu achei isso INCRÍVEL? Não que eu seja católica, mas achei sensacional ver o Amitabh Bachchan chamando Jesus de "parceiro". Pelo que andei lendo por aí, muitos acham o Anthony o melhor personagem do filme. Discordo totalmente. AAA é um filme em que o melhor é simplesmente o conjunto da obra. Nenhum irmão se destacou mais que os outros, para mim. Voltando ao Anthony: ele é muito fofo. Respeita fervorosamente todas as religiões e o padre que o criou. A mocinha por quem se apaixona é Jenny (Parveen Babi), nada mais nada menos que a filha de Robert, o homem que causou a ruína de sua família. Jenny foi sequestrada ainda pequena por Kishanlal, que queria causar a Robert a mesma dor que o outro lhe foi causada. A diferença é que, como ele mesmo deixava bem claro, ele não era Robert. Sendo uma boa pessoa, Kishanlal criou Jenny com todo o amor e carinho. Anthony se apaixona à primeira vista por ela...e quem o culparia por isto?


Akbar...Rishi, amor meu. O caçula da família é do jeito que Rishi Kapoor sabe fazer melhor: alegre, hiperativo, (muito) engraçado, doce. Enquanto Anthony é católico e Amar é hindu (quer dizer, pelo menos eu entendi isto), Akbar é muçulmano. Sim, católicos, hindus e muçulmanos são todos irmãos e fiquei bastante encantada com isto. Nosso Akbar é cantor e apaixonado pela médica Salma (Neetu Singh). Para quem não sabe, Rishi e Neetu são casados há 30 anos e formaram um dos casais mais marcantes da história de Bollywood. Eu amo vê-los juntos, são tão cheios de vida e apaixonantes! No filme, o pai de Salma não aceita o relacionamento dos dois e Akbar passa o filme todo tentando convencê-lo. Neste flerte com Salma, vemos Akbar em três dos sete clipes do filme, sendo um deles dividido com os outros dois casais.

Como não gostar desta criatura?

Como acabei de falar do Rishi, não vou aguentar mais muito tempo para falar dos clipes. Eu apenas amei todos, é isto. A minha ideia era fazer um post separado sobre eles, para que este aqui não ficasse grande demais, mas quem se importa? Já estou animada mesmo, ainda mais por estar ouvindo a trilha.

O que mais me encantou na trilha de AAA é que ela se adapta perfeitamente ao filme: parece que eles pertencem um ao outro há várias vidas (exagerado mil). O único problema dos clipes é que o Vinod só participou de dois deles! Dois foram apenas do Rishi, outro só do Amitabh, um do Rishi com participação do Amitabh, e dois dos três (deu para entender?). Cadê o Vinod sozinho? O diretor perdeu a oportunidade de filmar mais da beleza dele neste filme (opa, me animando outra vez). A trilha é de autoria da dupla Laxmikant-Pyarelal.

Parda Hai Parda, a música mágica que eu já ouvia incessantemente antes de ver o filme (obrigada, Pedro!). Qawwali famosíssimo cantado por Mohammed Rafi (ah, o eterno...), um dos clipes do Rishi Kapoor. Na letra, ele diz que há uma beleza escondida sob um véu, e que se ele não revelá-la, seu nome não é Akbar! Akbar canta a música para Salma, que está na platéia de seu show. Preciso dizer que é lindo? Esta aí uma das coisas de que mais gosto: flertar por meio da canção. E se tem uma coisa de que Rishi Kapoor é capaz, é de flertar numa canção.

My Name Is Anthony Gonsalves, um momento inesperado que tive no filme. Cantada por Kishore Kumar. A Parveen Babi estava linda com aquele vestido laranja, mas acho que para despertar alguma curiosidade já é suficiente eu dizer que Amitabh Bachchan sai de um ovo de Páscoa gigante. Fiquei dançando enquanto via o filme, confesso. Comentário no vídeo do Youtube: "i am egyptian and i am in love with that man Amitabh Bachchan"


Humko Tumse...este vídeo é muito especial. Eu comecei pensando no quanto seria chato e terminei suspirando, o que ainda acontece a cada vez que assisto. Todas as heroínas estão lindíssimas, eu acreditei nas três histórias de amor, a música é cantada por Lata, Kishore, Rafi e Mukesh...a música é tem todo um encantamento. No vídeo, os três casais são mostrados. Acho muito legal que podemos ver o perfil de cada casal: Lakshmi e Amar são os mais tranquilos, Anthony e Jenny são os animados e Salma e Akbar são os jovens hiperativos. Sério, esses dois últimos dançam sobre um bonde em movimento! Queria saber se eles realmente fizeram aquilo, ainda me parece meio inacreditável.


Tayyab Ali Pyaar Ka Dushman, outra do Rafi. Ri durante esse clipe todo. Rishi e os (ou seria "as"?) hijras indo à casa de Salma cantar para o pai dela, que ele chama de inimigo do seu amor. A música diz que ele não deixa que Salma se torne sua noiva. Chega o momento em que Akbar diz que o homem está muito bem e radiante para quem tem 60 anos...e que ele certamente encontra alguém às escondidas. Deveria Akbar revelar o nome dela ? Aí que Tayyab Ali entra em desespero.

Shirdiwale Saibaba teve uma das cenas mais emocionantes que já vi e Anhoni Ko Honi já é uma das minhas músicas favoritas (♪o impossível torna-se possível, o possível torna-se impossível!) , mas elas contam muito do filme e veja o clipe somente quem quiser. Não costumo rir de qualquer coisa, mas não aguentei quando vi Rishi Kapoor rebolando vestido de velhinho e o Vinod como banda de um homem só.
Eu gosto taaaaanto desses meninos! :)
Acho que fora para fazer trabalhos, eu nunca havia digitado tanto. Foquei muito nos três personagens principais e em seus relacionamentos por ter sentido medo de acabar contando muito da história. Todo o processo de descoberta dos meninos sobre suas origens é emocionante, especialmente o do Vinod Khanna. Também gostei de como a história levou os rapazes a se conhecerem e se gostarem antes mesmo de saberem que eram irmãos ; ponto para o roteirista. Fiquei esperando que algum acontecimento bobo solucionasse toda a história, mas não foi assim. O modo como tudo aconteceu foi o que mais me prendeu ao filme: eu mal via a hora de chegar a próxima cena, ficava ansiosa até nas perseguições. Este tipo de coisa que me move é o que espero do cinema. Deu para entender porque encontrei em Amar Akbar Anthony um dos meus filmes favoritos?

Philip Lutgendorf comentando Amar Akbar Anthony aqui.

Antes de terminar, uma dica:



NÃO mexam com o Vinod!

Então é isto. Até a próxima, que certamente será bem menos extensa!

Atualização em 12/02/2011: estava vendo o clipe de Humko Tumse e percebi que o Anthony diz "God", enquanto o Akbar diz "Khuda" e o Amar diz "Ram". E assim tive minha única prova de que o Amar realmente é hindu! :)

3 comments

  1. sabe onde posso encontrar este filme maravilhoso com legendas?? uma vez assisti no youtube com legendas em inglês, mas o arquivo não está mais disponível... só encontrei o original em hindi mas não da´pra entender nada rsrsrs abraços
    janaina elias

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  2. Ah antes de mais nada... gostaria de te parabenizar por esse post maravilhoso!!! confesso que este filme é também um dos meus favoritos e toda vez que ouço falar dele fico toda arrepiada rsrss... só tenho uma palavra pra descrever este filme: INCRÍVEL!!!!

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  3. Obrigada por ler o maior post que já fiz *-* Fiquei super (supeeer) feliz por encontrar mais alguém que o tenha assistido. Melhor ainda, fiquei feliz por encontrar alguém que sinta por ele o mesmo que eu! Às vezes deixo as músicas do meu computador tocando no aleatório, começa alguma música dele (especialmente Humko Tumse) e logo parece que há borboletas na minha barriga. É incrível mesmo. Incrível, lindo, maravilhoso e todas as palavras boas que possamos encontrar para descrevê-lo.

    Olha, tive muita dificuldade para encontrar este filme na internet. O arquivo que consegui ficou com o torrent inativo, mas posso te mandar as legendas para caso você encontre algum outro. Estou traduzindo um monte de filmes agora, mas pretendo traduzi-lo assim que me livrar da minha pilha atual. Quando fizer isto, é provável que eu o coloque no Megaupload.

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